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Autor Tópico: Apreciando a Revista Espírita  (Lida 27820 vezes)

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Offline Moises de Cerq. Pereira

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Re: Apreciando a Revista Espírita
« Responder #225 em: 20 de Março de 2017, 13:07 »
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Aforismos Espíritas e Pensamentos Avulsos
Revista Espírita, dezembro / 1859

Um dia, um homem viu a realização de uma experiência de eletricidade e tentou reproduzi-la. Como não tivesse nem o conhecimento necessário, nem os instrumentos indispensáveis, a experiência falhou. Então, sem ir mais longe e sem procurar saber se a causa do insucesso poderia estar em si mesmo, declarou inexistente a eletricidade e que ia escrever para demonstrá-lo.

Que pensar da lógica de quem assim raciocinasse? Não se parece tal criatura ao cego que, não podendo ver, começasse a escrever contra a luz e contra a faculdade de ver?

Entretanto, é este o raciocínio que ouvimos a propósito dos Espíritos, por um homem que passa por espirituoso. Vá lá que tenha espírito, mas capacidade julgadora é outra coisa. Ele procura escrever como médium, e porque não o consegue, conclui que não existe mediunidade. Ora, na sua opinião, se a mediunidade é uma faculdade ilusória, os Espíritos só podem existir nas cabeças fracas. Que sagacidade!

ALLAN KARDEC

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Offline Moises de Cerq. Pereira

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Re: Apreciando a Revista Espírita
« Responder #226 em: 01 de Abril de 2017, 13:42 »
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ESCOLA

FUNDADA NO MONT-JURA


Artigo escrito pelo jovem Hippolyte-Léon Denizard Rivail, em 1825.[1]

“Falamos sempre com prazer renovado desses verdadeiros amigos da humanidade que sacrificam sua vida, seu repouso e seus recursos financeiros ao alívio de seus semelhantes; esses seres tão raros hoje em dia são muito preciosos, e como no tempo em que vivemos muitas pessoas se dão gratuitamente o título de filantropos e escondem sob esse véu o mais sórdido egoísmo, é importante conhecer em que consiste a verdadeira filantropia a fim de que se possa reconhecer aqueles que dela possuem apenas a máscara, e que, por uma hipocrisia frequentemente estudada durante muitos anos, se divertem abusando do público, a fim de tirar dele o melhor partido para seus interesses. O que digo relativamente a esses pretensos amigos da humanidade, é apenas para fazer ressaltar com mais nitidez os que realmente consagram sua vida à felicidade de seus semelhantes.

Em uma de minhas viagens à Suíça, tive oportunidade de visitar uma escola fundada sobre o verdadeiro amor do bem público, e que, sob todos os aspectos, deve inspirar o mais vivo interesse. A Srta. C... fundou essa escola numa aldeia do Mont-Jura, onde reside. Suas posses, ainda que suficientes para que ela viva tranquilamente, não eram bastante consideráveis para suprir a todas as necessidades de semelhante estabelecimento. No entanto, ela sofria ao ver uma quantidade inumerável de crianças infelizes, abatidas pela miséria tanto quanto seus pais, contraindo todos os vícios a que a ociosidade e a vagabundagem necessariamente arrastam. Ela resolveu tirá-las de sua infeliz condição e proporcionar àquelas pobres crianças meios de existência mais honrados, e também recursos para o futuro. Que empreendimento! Que obstáculos a vencer! No entanto, ela superou todos. Quando uma alma virtuosa resolve fazer o bem é raro que não logre êxito. É preciso coragem e uma vontade firme, e certamente não lhe faltava nem uma, nem outra.

Ajudada por sua pequena fortuna e por alguns parcos recursos, ela reuniu um certo número de garotas cuja única ocupação era a mendicância, e que agora recebem uma educação bem cuidada. Na época em que visitei a escola havia em torno de setenta. Essas garotas são alojadas, alimentadas, banhadas, enfim, inteiramente sustentadas naquela casa. A ocupação principal das meninas, fora as lições, é fazer renda. Do produto arrecadado, uma parte é investida no sustento do estabelecimento, e a outra fica à disposição daquelas que o ganharam, e que se apressam em fazer uso digno, no sustento de seus infelizes pais.

Um dia eu manifestei a minha admiração à Srta. C... pela mudança que se havia operado em todas as suas alunas, e lhe testemunhei o quanto estava surpreso pelo fato de ela ter conseguido endireitar aqueles caracteres, entre os quais deveria ter encontrado uns bem rebeldes. – Certamente, disse-me ela, tive bastante dificuldade; havia caracteres que traziam todos os vícios a que a miséria e a mendicância arrastam; mas com perseverança atinge-se o objetivo, e sou amplamente recompensada pelos esforços, quando percebo que consegui. – Deveis estar muito feliz, acrescentei, pois até hoje os acontecimentos foram de acordo com os vossos desejos. – Oh! Como isso é possível? Perguntei-lhe. Ela respondeu-me: - Sinto que bem pouco fiz até o presente; e não serei completamente feliz senão quando tiver feito tudo o que está em meu poder; infelizmente, os meus meios são bem frágeis; pudera o céu secundar meus intentos...

Mulher virtuosa, pensei ao deixá-la, tu contas teus momentos de felicidade pelo número daqueles aos quais fazes felizes, enquanto tantos outros não os contam senão pelas vítimas de sua avareza!

Muitas daquelas jovens obtiveram cargos de professoras no estrangeiro, ou têm outros empregos que lhes proporcionam, bem como a seus pais, uma perspectiva honrosa, pelo que sabem se mostrar reconhecidas para com a sua generosa benfeitora.”

Rivail.
(Texto escrito aos 21 anos)
[1] Le Petit Album de la Jeunesse, de Alexandre de Villiers. Paris, 1825. Traduzido do francês pela Equipe GEAK.

(Texto enviado por IPEAK)

............................

Pequena biografia de Allan Kardec

Allan Kardec (1804-1869)foi propagador da doutrina espírita. Foi educador, escritor e tradutor francês.
Allan Kardec (1804-1869) nasceu em Lyon, França, no dia 3 de outubro de 1804. Foi criado numa família católica. Desde jovem mostrou inclinação para o estudo das ciências e da filosofia. Estudou na Escola Pestalozzi, em Yverdun, Suíça. Tornou-se discípulo de Pestalozzi. Dedicou-se ao ensino durante 30 anos.
Dominava vários idiomas, entre eles, alemão, inglês, holandês, italiano e espanhol. Traduziu para o alemão diversas obras didáticas de educação. Era membro de várias sociedades sábias, entre elas, a Academia Real de Arras. De 1835 a 1840, fundou, em sua casa, à rua de Sèvres, cursos gratuitos de Química, Física, Anatomia Comparada, Astronomia, etc.
A partir de 1855 iniciou suas experiências com o mundo da espiritualidade. Passa a adotar o pseudônimo de Allan Kardek. Entre os anos de 1855 e 1869 dedica-se a estabelece as bases da Codificação Espírita, no aspecto filosófico, científico e religioso. Durante 12 anos dirigiu a Revista Espírita de estudos psicológicos, lançada em abril de 1855. Ainda nesse ano, Funda a Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, com o objetivo de promover estudos que favorecessem o progresso do espiritismo.
Hippolyte Léon Denizard Rivali morreu em Paris, França, no dia 31 de março de 1869.

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Re: Apreciando a Revista Espírita
« Responder #227 em: 01 de Abril de 2017, 13:45 »
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Assassinato de cinco crianças - problema moral
Revista Espírita, outubro / 1858)
 
 
       Lemos na Gazette de Silésie:
 
“A 29 de outubro de 1857 escreveram-nos de Bolkenham que um crime apavorante acabara de ser cometido por um garoto de doze anos. Domingo último, dia 25, três filhos do Sr. Hubner, ferreiro, e dois do Sr. Fritche, sapateiro, brincavam no jardim deste último. O jovem H..., conhecido por seu mau caráter, a eles se reuniu e os convenceu a entrarem num baú que estava guardado numa casinha, no jardim, e que era utilizado pelo sapateiro para levar as suas mercadorias à feira. As cinco crianças dificilmente nele podiam caber, mas, aos risos, se apinharam no baú, uns sobre os outros. Assim que entraram, o monstro fechou o baú, sentou-se sobre ele e ficou durante três quartos de hora a escutar, primeiro os seus gritos, depois os seus gemidos.
Quando finalmente cessaram os seus estertores e que ele as julgou mortas, abriu o baú. As crianças ainda respiravam. Tornou a fechá-lo, aferrolhou-o e foi empinar papagaio. Mas ao sair do jardim foi visto por uma menina. Compreende-se a ansiedade dos pais quando constataram o desaparecimento das crianças e o seu desespero quando, depois de longa procura, as encontraram no baú. Uma das crianças ainda vivia, mas não tardou a expirar. Denunciado pela menina que o vira sair do jardim, o jovem H... confessou seu crime com o maior sangue-frio e sem manifestar o menor arrependimento. As cinco vítimas, um garoto e quatro meninas de quatro a nove anos, foram hoje sepultadas.”
 
OBSERVAÇÃO: O Espírito interrogado é o da irmã do médium, que desencarnou há doze anos e sempre mostrou superioridade como Espírito.
 
1. Você ouviu a leitura que acabamos de fazer, do assassinato de cinco crianças, na Silésia, por outra de doze anos?
─ Sim, minha pena ainda exige que escute as abominações da Terra.
 
2. Que motivos teriam impelido um menino daquela idade a cometer uma ação tão atroz e com tamanho sangue-frio?
─ A maldade não tem idade. Ela é natural numa criança e raciocinada no homem adulto.
 
3. Sua existência numa criança, sem raciocínio, não denotará a encarnação de um Espírito muito inferior?
─ Ela vem diretamente da perversidade do coração: é o seu próprio Espírito que o domina e o impele à perversidade.
 
4. Qual poderia ter sido a existência anterior de tal Espírito?
─ Horrível.
 
5. Em sua anterior existência, pertenceria ele à Terra ou a um mundo ainda inferior?
─ Não sei o bastante, mas deveria pertencer a um mundo bem mais atrasado que a Terra. Ele ousou vir para a Terra. Será duplamente punido.
 
6. Nessa idade teria o menino suficiente consciência do crime que cometeu? Caber-lhe-á responsabilidade como Espírito?
─ Ele tinha a idade da consciência. Isto basta.
 
7. De vez que esse Espírito ousou vir à Terra, para ele muito elevada, pode ser constrangido a regressar a um mundo em relação com a sua natureza?
─ Sua punição é justamente retrogradar; é o próprio inferno. Eis a punição de Lúcifer, do homem espiritual que se rebaixou ao nível da matéria; é o véu que doravante lhe oculta os dons de Deus e sua divina proteção. Esforçai-vos, pois, na reconquista desses bens perdidos e tereis reconquistado o paraíso que o Cristo veio abrir para vós. É a presunção, o orgulho do homem que queria conquistar aquilo que só Deus podia ter.
 
OBSERVAÇÃO: Uma observação é feita a propósito do verbo ousar, empregado pelo Espírito. Citam-se exemplos de Espíritos que se acharam em mundos para eles muito elevados e que foram obrigados a regressar a um outro mais em harmonia com sua própria natureza. A tal respeito alguém fez notar ter sido dito que os Espíritos não podem retrogradar. A isto respondemos que, realmente, os Espíritos não podem retrogradar, no sentido de que não é possível perder aquilo que foi adquirido em conhecimento e em moralidade; podem, entretanto, decair em posição. Um homem que usurpa uma posição superior à que lhe conferem sua capacidade e sua fortuna pode ser constrangido a abandoná-la e voltar à sua posição natural. Ora, não é a isto que se pode chamar decair, pois que ele apenas volta à sua esfera, de onde havia saído por ambição e por orgulho. O mesmo se dá em relação aos Espíritos que querem subir muito rapidamente para mundos onde se acharão deslocados.
Espíritos superiores também podem encarnar em mundos inferiores, onde vão cumprir missões de progresso. A isto não se pode chamar de retrogradação, pois é apenas devotamento.
 
8. Em que é a Terra superior ao mundo ao qual pertencia o Espírito de quem acabamos de falar?
─ Ali há uma fraca ideia de justiça. É um começo de progresso.
 
9. Depreende-se disto que em mundos inferiores à Terra não há nenhuma ideia de justiça?
─ Não. Os homens ali vivem apenas para si e não têm por móvel senão a satisfação de suas paixões e de seus instintos.
 
10. Qual será a posição desse Espírito numa nova existência?
─ Se o arrependimento vier a apagar, senão totalmente, pelo menos em parte, a enormidade de suas faltas, então ficará na Terra; se, ao contrário, persistir no que chamais de impenitência final, irá para um lugar onde o homem se encontra no nível dos animais.
 
11. Então pode ele encontrar na Terra os meios de expiar a sua falta, sem ser obrigado a regressar a um mundo inferior?
─ Aos olhos de Deus, o arrependimento é sagrado, porque é o homem que a si mesmo se julga, o que é raro no vosso planeta.

(Texto enviado por IPEAK)

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Re: Apreciando a Revista Espírita
« Responder #228 em: 06 de Abril de 2017, 14:50 »
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Evocações particulares - Uma conversão
Revista Espírita, janeiro / 1858

Embora sob outro ponto de vista, não será menor o interesse oferecido pela evocação seguinte.

Um senhor, que designaremos pelo nome de Georges, farmacêutico numa cidade do Sul, há muito havia perdido o pai, objeto de toda a sua ternura e de profunda veneração. O velho Sr. Georges ─ o pai ─ aliava a uma instrução muito vasta todas as qualidades que marcam o homem de bem, posto professasse ideias materialistas.

A esse respeito o filho partilhava das mesmas ideias, se não ultrapassava as do pai; duvidava de tudo: de Deus, da alma, da vida futura.

O Espiritismo não se adaptava a tais pensamentos. A leitura de O Livro dos Espíritos, entretanto, provocou-lhe uma certa reação, corroborada por uma conversa direta que tivemos com ele.
Ele dizia: “Se meu pai pudesse me responder, eu não duvidaria mais”. Foi então que se fez a evocação seguinte, na qual encontramos diversos ensinamentos.

1. ─ Em nome do Todo-Poderoso, Espírito de meu pai, eu lhe peço que se manifeste. O senhor está junto de mim?
─ Sim.

2. ─ Por que o senhor não se manifesta diretamente a mim, quando tanto nos amamos?
─ Mais tarde.

3. ─ Poderemos nos encontrar um dia?
─ Sim, breve.

4. ─ Amar-nos-emos como nesta vida?
─ Mais.

5. ─ Em que meio o senhor se acha?
─ Sou feliz.

6. ─ O senhor reencarnou ou está errante?
─ Errante por pouco tempo.

7. ─ Que sensação experimentou ao deixar o envoltório corporal?
─ De perturbação.

8. ─ Quanto tempo durou a perturbação?
─ Pouco para mim, muito para você.

9. ─ Pode avaliar a sua duração, de acordo com o nosso modo de contar?
─ Dez anos para você, dez minutos para mim

10. ─ Mas não faz tanto tempo que eu o perdi. Não foi há apenas quatro meses?
─ Se você, como vivo, estivesse em meu lugar, teria sentido aquele tempo.

11. ─ Crê agora em um Deus justo e bom?
─ Sim.

12. ─ Quando vivo na Terra também acreditava?
─ Eu tinha a presciência mas não acreditava.

13. ─ Deus é Todo-Poderoso?
─ Não subi até ele para avaliar o seu poder. Só ele conhece os limites de seu poder, porque só ele é seu igual.

14. ─ Ele se ocupa com os homens?
─ Sim.

15. ─ Seremos punidos ou recompensados de acordo com nossos atos?
─ Se você fizer o mal, sofrerá.

16. ─ Serei recompensado se fizer o bem?
─ Avançará em seu caminho.

17. ─ Estou no bom caminho?
─ Faça o bem e estará.

18. ─ Creio ser bom, mas seria melhor se um dia pudesse encontrá-lo, como recompensa.
─ Que este pensamento o sustente e o encoraje.

19. ─ Meu filho será bom como seu avô?
─ Desenvolva suas virtudes e extirpe seus vícios.

20. ─ Isto é tão maravilhoso que chego a não crer que nos comunicamos neste momento.
─ De onde lhe vem a dúvida?

21. ─ É que, partilhando de suas opiniões filosóficas, fui levado a atribuir tudo à matéria.
─ Você vê de noite aquilo que vê de dia?

22. ─ Ó, meu pai! Então eu me acho na noite?
─ Sim.

23. ─ Que é o que o senhor vê de mais maravilhoso?
─ Explique-se melhor.

24. ─ Encontrou minha mãe, minha irmã e Ana, a boa Ana?
─ Eu as revi.

25. ─ O senhor volta a vê-las quando quer?
─ Sim.

26. ─ É penoso ou agradável para o senhor, que eu me comunique consigo?
─ É uma felicidade para mim, se eu puder conduzi-lo ao bem.

27. ─ Voltando para casa, que poderia fazer para me comunicar com o senhor, já que isto me dá prazer? Isto serviria para que me conduzisse melhor e me ajudaria a educar os meus filhos.
─ Cada vez que um movimento o levar ao bem, siga-o. Eu o inspirarei.

28. ─ Calo-me com receio de importuná-lo.
─ Fale ainda, se quiser.

29. ─ Já que o permite, farei mais algumas perguntas. De que afecção o senhor morreu?
─ Minha prova havia chegado ao termo.

30. ─ Onde o senhor contraiu o abscesso pulmonar que se manifestou?
─ Pouco importa. O corpo nada é. O Espírito é tudo.

31. ─ Qual a natureza da doença que me desperta tão frequentemente durante a noite?
─ Sabê-lo-á mais tarde.

32. ─ Considero minha afecção grave e queria ainda viver para os meus filhos.
─ Ela não o é. O coração do homem é uma máquina de vida. Deixe a Natureza agir.

33. ─ Considerando-se que o senhor está aqui presente, sob que forma se acha?
─ Sob a aparência de minha forma corpórea.

34. ─ O senhor está num lugar determinado?
─ Sim; por detrás de Ermance (a médium).

35. ─ Poderia tornar-se visível?
─ Não vale a pena. Vocês teriam medo.

36. ─ O senhor tem uma opinião sobre cada um de nós, aqui presentes?
─ Sim.

37. ─ Quer dizer alguma coisa a cada um de nós?
─ Em que sentido me faz esta pergunta?

38. ─ Do ponto de vista moral.
─ De outra vez. Por hoje basta.

Observação:
O efeito que esta comunicação produziu no Sr. Georges foi imenso, e uma luz inteiramente nova já parecia clarear-lhe as ideias. Numa sessão a que compareceu no dia seguinte, em casa da Sra. Roger, sonâmbula, acabou de dissipar as poucas dúvidas que lhe poderiam restar.

Eis um resumo da carta que a respeito nos escreveu:
“Essa senhora entrou espontaneamente comigo em detalhes tão precisos em relação a meu pai, minha mãe, meus filhos e minha saúde; descreveu com tal exatidão todas as circunstâncias de minha vida, lembrando mesmo fatos que de há muito me haviam sido varridos da memória; numa palavra, deu-me provas tão patentes dessa maravilhosa faculdade de que são dotados os sonâmbulos lúcidos, que desde então foi completa em mim a reação das ideias.

Na evocação, meu pai havia revelado a sua presença. Na sessão de sonambulismo, por assim dizer, eu era testemunha ocular da vida extracorpórea, a vida da alma. Para descrever com tanta minúcia e exatidão, e a duzentas léguas de distância, aquilo que só de mim era conhecido, era preciso ver.

Ora, de vez que isto não era possível com os olhos do corpo, havia então um laço misterioso, invisível, que ligava a sonâmbula às pessoas e às coisas ausentes que ela jamais tinha visto. Havia, pois, algo fora da matéria.

Que podia ser essa coisa senão aquilo que se chama alma, o ser inteligente do qual o corpo é simples envoltório, mas cuja ação se estende muito além de nossa esfera de atividade?”
Atualmente o Sr. Georges não só deixou de ser materialista, mas é um dos adeptos mais fervorosos e mais dedicados do Espiritismo, o que o faz duplamente feliz, pela confiança que agora tem no futuro e pelo prazer que experimenta em praticar o bem.

Esta evocação, inicialmente muito simples, não é menos notável em muitos aspectos. O caráter do velho Georges reflete-se nas respostas breves e sentenciosas que estavam em seus hábitos. Ele falava pouco; jamais dizia uma palavra inútil. Mas já não é o céptico que fala.

Ele reconhece seu erro; seu Espírito é mais livre, mais clarividente, e retrata a unidade e o poder de Deus por estas palavras admiráveis: “Só ele é seu igual”.

Ele, que em vida tudo atribuía à matéria, diz agora: “O corpo nada é. O Espírito é tudo”.

E esta outra frase sublime: “Você vê de noite aquilo que vê de dia?”

Para o observador atento, tudo tem um alcance, e é assim que a cada passo ele encontra a confirmação das grandes verdades ensinadas pelos Espíritos.

Allan Kardec

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Re: Apreciando a Revista Espírita
« Responder #229 em: 12 de Abril de 2017, 14:45 »
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Necessidade da reencarnação
Revista Espírita, fevereiro / 1864

Sociedade Espírita de Sens. - médium, Sr. Percheron

Deus quis que o Espírito do homem fosse ligado à matéria para sofrer as vicissitudes do corpo com o qual se identifica a ponto de ter a ilusão e de tomá-lo por si mesmo, quando não passa de sua prisão passageira. É como se um prisioneiro se confundisse com as paredes de sua cela.

Os materialistas são muito cegos por não se aperceberem de seu erro, pois se quisessem refletir um pouco seriamente, veriam que não é pela matéria de seu corpo que se podem manifestar; veriam que, considerando-se que a matéria desse corpo se renova continuamente, como a água de um rio, não é senão pelo Espírito que podem saber que são sempre eles próprios.

Suponhamos que o corpo de um homem que pesasse sessenta quilos assimile, para a reparação de suas forças, um quilo de nova substância por dia, para substituir a mesma quantidade de antigas moléculas de que se separa e que realizaram o papel que lhes tocava na composição de seus órgãos. Ao cabo de sessenta dias a matéria desse corpo achar-se-ia, então, renovada. Nesta suposição, cujos números podem ser contestados, mas verdadeira em princípio, a matéria do corpo renovar-se-ia seis vezes por ano. O corpo de um homem de vinte anos, assim, já se teria renovado cem vezes; aos quarenta, duzentas e quarenta vezes; aos oitenta, quatrocentas e oitenta vezes.

Mas o vosso Espírito ter-se-á renovado?
Não, pois ten¬des consciência de que sois sempre vós mesmos. É, pois, o vosso Espírito que constitui o vosso eu, e por intermédio do qual vós vos afirmais, e não o vosso corpo, que não passa de matéria efêmera e mutável.

“Os materialistas e panteístas dizem que as moléculas desagregadas depois da morte do corpo retornam todas à massa comum de seus elementos primitivos, e o mesmo se dá com a alma, isto é, com o ser que pensa em vós.

Mas que sabem eles disso?
Há uma massa comum de substância que pensa?

Eles jamais o demonstraram, e é o que deveriam ter feito antes de afirmar. Da parte deles, portanto, não passa de uma hipótese. Ora, considerando-se que durante a vida do corpo as moléculas se desagreguem várias centenas de vezes, ficando o Espírito sempre o mesmo, conservando a consciência de sua individualidade, não é mais lógico admitir que a natureza do Espírito não é de se desagregar? Por que então se dissolveria após a morte do corpo e não antes?

“Após esta digressão dirigida aos materialistas, volto ao meu assunto.

Se Deus quis que as criaturas espíritas fossem momentaneamente unidas à matéria é, repito, para fazê-las sentir e, por assim dizer, sofrer as necessidades que a matéria exige de seus corpos para sua conservação. Dessas necessidades nascem as vicissitudes que vos fazem sentir o sofrimento e compreender a comiseração que deveis ter por vossos irmãos na mesma posição. Esse estado transitório é, pois, necessário à progressão do vosso Espírito, que sem isto ficaria estagnado.

As necessidades que o corpo vos faz experimentar estimulam o vosso Espírito e o forçam a procurar os meios de provê-las, e desse trabalho forçado nasce o desenvolvimento do pensamento. Constrangido a presidir os movimentos do corpo para dirigi-los visando a sua conservação, o Espírito é conduzido ao trabalho material e daí ao trabalho intelectual, necessários um ao outro e um pelo outro, pois a realização das concepções do Espírito exige o trabalho do corpo, e este não pode ser feito senão sob a direção e o impulso do Espírito.

Tendo assim o Espírito adquirido o hábito de trabalhar, constrangido pelas necessidades do corpo, o trabalho, por sua vez, se lhe torna uma necessidade, e, quando desprendido de seus laços, ele não precisa pensar na matéria, mas pensa em trabalhar-se a si mesmo, para o seu adiantamento.

Agora compreendeis a necessidade para o vosso Espírito de ser ligado à matéria durante uma parte de sua existência, para não ficar estacionário.

Teu pai,
PERCHERON, assistido pelo Espírito de PASCAL.

OBSERVAÇÃO:
A estas observações, perfeitamente justas, acrescentaremos que, trabalhando para si mesmo, o Espírito encarnado trabalha para o melhoramento do mundo em que ele habita. Assim, ele ajuda em sua transformação e no seu progresso material, que estão nos desígnios de Deus, de que ele é o instrumento inteligente.
Na sua sabedoria previdente, quis a Providência que tudo se encadeasse na Natureza; que todos, homens e coisas, fossem solidários. Depois, quando o Espírito tiver realizado a sua tarefa, quando estiver suficientemente adiantado, gozará dos frutos de suas obras.

(Texto enviado por IPEAK)

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Re: Apreciando a Revista Espírita
« Responder #230 em: 25 de Abril de 2017, 18:29 »
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SENHORITA CLARY D... – EVOCAÇÃO
Revista Espírita, fevereiro / 1858

Nota:
A senhorita Clary D..., interessante mocinha, morta
em 1850, aos 13 anos de idade, desde então ficou como o gênio da família, onde é evocada com freqüência e à qual deu um grande número de comunicações do mais alto interesse. A conversa que relataremos a seguir ocorreu entre nós no dia 12 de janeiro de 1857, por intermédio de seu irmão, médium.

1. Tendes uma lembrança precisa de vossa existência
corporal?
Resp. – O Espírito vê o presente, o passado e um pouco
do futuro, conforme sua perfeição e sua proximidade de Deus.

2. Essa condição de perfeição é relativa apenas ao futuro,
ou se refere igualmente ao presente e ao passado?
Resp. – O Espírito vê o futuro mais claramente à medida
que se aproxima de Deus. Depois da morte a alma vê e abarca de relance todas as suas passadas migrações, mas não pode ver o que Deus lhe prepara; para isso, é preciso que esteja inteiramente em Deus, desde muitas existências.

3. Sabeis em que época reencarnareis?
Resp. – Em 10 ou 100 anos.

4. Será na Terra ou em outro mundo?
Resp. – Num outro.

5. Em relação à Terra, o mundo para onde ireis terá
condições melhores, iguais ou inferiores?
Resp. – Muito melhores que as da Terra; lá se é feliz.

6. Visto que estais aqui entre nós, ocupais um lugar
determinado; qual é?
Resp. – Estou com aparência etérea; posso dizer que meu
Espírito, propriamente dito, estende-se muito mais longe; vejo muitas coisas e me transporto para bem longe daqui com a rapidez do pensamento; minha aparência está à direita de meu irmão e guia-lhe o braço.

7. O corpo etéreo de que estais revestida vos permite experimentar sensações físicas, como o calor e o frio, por exemplo?
Resp. – Quando me lembro muito de meu corpo, sinto uma espécie de impressão, como quando se tira um manto e se fica
com a sensação de ainda estar com ele por algum tempo.

8. Acabais de dizer que podeis transportar-vos com a rapidez do pensamento; o pensamento não é a própria alma que se
desprende de seu envoltório?
Resp. – Sim.

9. Quando vosso pensamento se transporta para algum
lugar, como se dá a separação de vossa alma?
Resp. – A aparência se desvanece; o pensamento segue
sozinho.

10. É, pois, uma faculdade que se destaca; onde fica o
ser restante?
Resp. – A forma não é o ser.

11. Mas, como age esse pensamento? Não agirá sempre
por intermédio da matéria?
Resp. – Não.

12. Quando vossa faculdade de pensar se destaca, não
agis, então, por intermédio da matéria?
Resp. – A sombra se dissipa; reproduz-se onde o
pensamento a guia.

13. Visto que só tínheis 13 anos quando morrestes,
como se explica que podeis nos dar, sobre perguntas tão abstratas, respostas que estão fora do alcance de uma criança de vossa idade?
Resp. – Minha alma é tão antiga!

14. Podeis citar-nos, entre vossas existências anteriores,
uma das que mais elevaram os vossos conhecimentos?
Resp. – Estive no corpo de um homem, que tornei virtuoso; após sua morte estive no corpo de uma menina cujo semblante retratava a própria alma; Deus me recompensa.

15. A nós poderia ser concedido vos ver aqui, tal qual
estais atualmente?
Resp. – A vós poderia.

16. Como o poderíamos? Depende de nós, de vós ou de
pessoas mais íntimas?
Resp. – De vós.

17. Que condições deveríamos satisfazer para isso?
Resp. – Recolher-vos algum tempo, com fé e fervor;
serdes menos numerosos, isolar-vos um pouco e providenciardes um médium do gênero de Home.

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Re: Apreciando a Revista Espírita
« Responder #231 em: 01 de Maio de 2017, 14:26 »
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EXAME CRÍTICO DAS DISSERTAÇÕES DE CHARLET SOBRE ANIMAIS
Revista Espírita, junho / 1860
 
SOBRE O § I

1. ─ Dizeis: Tudo o que vive, pensa, logo, não se pode viver sem pensar. A proposição nos parece algo absoluta, pois a planta vive e não pensa. Admitis isto como um princípio?

─ Sem dúvida. Só falo da vida animal e não da vida vegetal. Deveis compreendê-lo.

2. ─ Mais adiante dizeis: Vereis que o animal vive realmente, desde que pensa. Não há inversão na frase? Parece que a proposição é: Vereis que o animal pensa, realmente, desde que vive.

 ─ Isto é evidente.

SOBRE O § II

3. ─ Lembrais o desenho feito dos animais de Júpiter. Nota-se que têm uma notável analogia com os sátiros da fábula. Essa ideia dos sátiros seria uma intuição da existência desses seres em outros mundos e, neste caso, não seria mera criação fantástica?

─ Quanto mais novo era o mundo, mais ele se lembrava. O homem tinha a intuição de uma ordem de seres intermediários, ora mais atrasados que ele, ora mais adiantados. Era o que ele chamava os deuses.

4. ─ Então admitis que as divindades mitológicas não eram senão o que chamamos Espíritos?

 ─ Sim.

5. ─ Foi-nos dito que em Júpiter é possível o entendimento pela simples transmissão do pensamento. Quando os habitantes desse planeta se dirigem aos animais, que são seus servidores e operários, recorrem a uma linguagem particular? Teriam eles, para comunicar-se com os animais, uma linguagem articulada, e entre si a do pensamento?

─ Não, não há linguagem articulada, mas uma espécie de magnetismo poderoso que faz curvar-se o animal e o leva a executar os menores desejos e as ordens de seus senhores. O Espírito todo poderoso não pode curvar-se.

6. ─ Evidentemente, entre nós, os animais têm uma linguagem, pois se compreendem, mas é muito limitada. Os de Júpiter têm uma linguagem mais precisa e positiva que os nossos? Numa palavra, uma linguagem articulada?

─ Sim.

7. ─ Os habitantes de Júpiter compreendem melhor que nós a linguagem dos animais?

─ Veem através deles e os compreendem perfeitamente.

8. ─ Examinando a série dos seres vivos, encontra-se uma cadeia ininterrupta, desde a madrépora, da própria planta, até o animal mais inteligente. Mas entre o animal mais inteligente e o homem há uma evidente lacuna, que em algum lugar deve ser preenchida, porque a Natureza não deixa elos vazios. De onde vem essa lacuna?

─ Essa lacuna dos seres é apenas aparente, pois não existe na realidade. Ela provém das raças desaparecidas. (São Luís)

9. ─ Tal lacuna pode existir na Terra, mas certamente não existe no conjunto do Universo e deve ser preenchida em alguma parte. Não o seria por certos animais de mundos superiores que, como os de Júpiter, por exemplo, parecem aproximar-se muito do homem terreno pela forma, pela linguagem e por outros sinais?

─ Nas esferas superiores o germe surgido da Terra desenvolve-se e jamais se perde. Tornando-vos Espíritos, reencontrareis todos os seres criados e desaparecidos nos cataclismos do vosso globo. (São Luís)
 

OBSERVAÇÃO:
Desde que essas raças intermediárias existiram na Terra e dela desapareceram, justifica-se o que disse Charlet pouco antes, que quanto mais novo era o mundo, mais ele se lembrava. Se elas houvessem existido apenas nos mundos superiores, o homem da Terra, menos adiantado, não lhes poderia guardar a lembrança.

SOBRE O § III

10. ─ Dizeis que tudo se aperfeiçoa e, como prova do progresso do animal, dizeis que outrora ele era mais rebelde ao homem. É evidente que o animal se aperfeiçoa, mas, pelo menos na Terra, não se aperfeiçoa senão pelos cuidados do homem. Abandonado a si mesmo, retoma sua natureza selvagem, até mesmo o cão.

─ E o homem se aperfeiçoa pelos cuidados de quem? Não é pelos de Deus? Tudo é escala na Natureza.

11. ─ Falais de recompensas para os animais que sofrem maus tratos e dizeis que é perfeitamente justo que haja compensação para eles. Assim, parece que admitis no animal a consciência do eu após a morte, com a recordação de seu passado. Isto é contrário ao que nos tem sido dito. Se as coisas se passassem como dizeis, resultaria que no mundo dos Espíritos haveria Espíritos de animais. Então não haveria razão para ali não existirem os Espíritos das ostras. Podeis dizer se vedes em torno de vós Espíritos de cães, de gatos, de cavalos ou elefantes, como vedes Espíritos humanos?

─ A alma do animal ─ tendes toda razão ─ não se reconhece após a morte; é um conjunto confuso de germes que podem passar para o corpo de tal ou qual animal, conforme o desenvolvimento adquirido. Não é individualizada. Contudo, direi que em certos animais, mesmo em muitos, é individualizada.

12. ─ Esta teoria, aliás, de modo algum justifica os maus tratos dos animais. O homem é sempre culpado por fazer sofrer qualquer ser sensível e a Doutrina nos diz que por isso ele será punido. Mas daí a pôr o animal numa condição superior a ele, há uma grande distância. Que pensais disto?

─ Sim, mas estabelecei que no entanto há sempre uma escala entre os animais e pensai que há distância entre certas raças. O homem é tanto mais culpado quanto mais poderoso.

13. ─ Como explicais que mesmo no mais selvagem estágio o homem se faça obedecer pelo mais inteligente animal?

─ É sobretudo a Natureza que age no caso. O homem selvagem é o homem da Natureza. Ele conhece o animal intimamente. O homem civilizado o estuda, e o animal se curva diante dele. O homem é sempre o homem frente ao animal, quer seja selvagem, quer civilizado.

SOBRE O § V

14. ─ (A Charlet). Nada temos a dizer sobre este parágrafo, que nos parece muito racional. Tendes algo a acrescentar?

─ Apenas isto: os animais têm todas as faculdades que indiquei, mas neles o progresso se realiza pela educação que recebem do homem e não por si mesmos. Abandonado ao estado selvagem, o animal retoma o tipo que tinha ao sair das mãos do Criador. Submetido ao homem, aperfeiçoa-se. Eis tudo.

15. ─ Isto é perfeitamente certo para os indivíduos e para as espécies, mas se considerarmos o conjunto da escala dos seres, há uma evidente marcha ascendente, que não se detém, relativamente aos animais da Terra, visto que os de Júpiter são física e intelectualmente superiores aos nossos.

─ Cada raça é perfeita em si mesma e não emigra para raças estranhas. Em Júpiter são os mesmos tipos, formando raças distintas, mas não são os Espíritos dos animais mortos.

16. ─ Então em que se torna o princípio inteligente dos animais mortos?

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Re: Apreciando a Revista Espírita
« Responder #232 em: 01 de Maio de 2017, 14:27 »
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─ Volta à massa em que cada novo animal toma a porção de inteligência que lhe é necessária. Ora, é precisamente isto que distingue o homem do animal. Nele o Espírito é individualizado e progride por si mesmo e é isso que lhe dá superioridade sobre todos os animais. Eis por que o homem, mesmo selvagem, como fizestes notar, se faz obedecer, mesmo pelos mais inteligentes animais.

SOBRE O § VI

17. ─ Dais a história de Balaão como fato positivo. Seriamente, que pensais sobre isto?

─ É uma pura alegoria, ou antes, uma ficção, para castigar o orgulho. Fizeram falar o burro de Balaão, como La Fontaine fez falar muitos outros animais.

SOBRE O § IX[1]

18. ─ Nessa passagem Charlet parece ter sido arrastado pela imaginação, pois o quadro que faz da degradação moral do animal é mais fantástico do que científico. Com efeito, o animal é feroz por necessidade, e foi para satisfazer a essa necessidade que a Natureza lhe deu uma organização especial. Se uns devem nutrir-se de carne, é por uma razão providencial e porque era útil à harmonia geral que certos elementos orgânicos fossem absorvidos. O animal é, pois, feroz por constituição e não se conceberia que a queda moral do homem tivesse desenvolvido os dentes caninos do tigre e encurtado os seus intestinos, porque então não haveria razão para que o mesmo não tivesse acontecido com o carneiro. Antes dizemos que, na Terra, sendo o homem pouco adiantado, aqui se encontra com seres inferiores em todos os sentidos, e cujo contato lhe é causa de inquietudes, de sofrimentos e, consequentemente, uma fonte de provas que o auxiliam em seu progresso futuro.

Que pensa Charlet destas reflexões?

─ Só posso aprová-las. Eu era um pintor e não um literato ou um cientista. Por isso, de vez em quando me deixo arrastar pelo prazer, novo para mim, de escrever belas frases, mesmo em detrimento da verdade. Mas o que dizeis é muito justo e inspirado. No qua­dro que tracei, bordei certas ideias recebidas, para não chocar nenhuma convicção. A verdade é que as primeiras épocas eram a idade do ferro, muito afastadas das pretensas suavidades. Descobrindo diariamente tesouros acumulados pela bondade de Deus, tanto no espaço quanto na Terra, a civilização levou o homem à conquista da verdadeira terra prometida, que Deus concederá à inteligência e ao trabalho, e que não entregou pronta e acabada nas mãos dos homens crianças, que deviam descobri-la por sua própria inteligência. Aliás, este erro que cometi não poderia ser prejudicial aos olhos da gente esclarecida, que o notaria facilmente. Para os ignorantes passaria desapercebido. Contudo, concordo que errei. Agi levianamente, e isto vos prova até que ponto deveis controlar as comunicações que recebeis.

OBSERVAÇÃO GERAL

Um ensinamento importante, do ponto de vista da ciência espírita, ressalta destas comunicações. A primeira coisa que se destaca, ao lê-las, é uma mistura de ideias justas, profundas e com o cunho do observador, ao lado de outras evidentemente falsas e fundadas mais na imaginação do que na realidade. Sem sombra de dúvida, Charlet era um homem acima do vulgar, mas, como Espírito, não é mais universal do que era em vida e pode equivocar-se porque, não sendo ainda bastante elevado, só encara as coisas de seu ponto de vista. Aliás, só os Espíritos chegados ao último grau de perfeição estão isentos de erros. Os outros, por melhores que sejam, nem tudo sabem e podem enganar-se; mas, quando verdadeiramente bons, o fazem de boa-fé e concordam francamente, ao passo que há outros que o fazem conscientemente e que se obstinam nas mais absurdas ideias. É por isso que devemos guardar-nos de aceitar o que vem do mundo invisível sem havê-lo submetido ao controle da lógica. Os bons Espíritos o recomendam incessantemente e jamais se ofendem com a crítica porque, de duas uma: ou estão seguros do que dizem e então nada temem, ou não o estão e, se têm consciência de sua insuficiência, eles mesmos buscam a verdade. Ora, se os homens podem instruir-se com os Espíritos, alguns Espíritos podem instruir-se com os homens. Ao contrário, os outros querem dominar, esperando impor a aceitação das suas utopias por causa da sua condição de Espíritos. Então, seja por presunção de sua parte ou por má intenção, não suportam a contradita. Querem ser acreditados sob palavra, pois sabem muito bem que em caso de exame só podem perder. Ofendem-se à menor dúvida sobre sua infalibilidade e soberbamente ameaçam abandonar-vos, como indignos de ouvi-los. Assim, só gostam dos que se ajoelham aos seus pés. Não há homens assim? E é de admirar que os encontremos com seus caprichos no mundo dos Espíritos? Nos homens, uma tal característica é sempre, aos olhos de gente sensata, um indício de orgulho, de vã suficiência, de tola vaidade, e portanto de pequenez nas ideias e de falso julgamento. O que seria um sinal de inferioridade moral nos homens, não poderia ser indício de superioridade nos Espíritos.

Como acabamos de ver, Charlet de boa vontade se presta à controvérsia; escuta e admite as objeções e responde com benevolência; desenvolve o que era obscuro e reconhece lealmente o que não era exato. Numa palavra, não quer passar por mais sábio do que é, e nisto prova mais elevação do que se se obstinasse nas ideias falsas, a exemplo de certos Espíritos que se escandalizam ao simples enunciado de que suas comunicações parecem susceptíveis de comentários.

O que é ainda próprio desses Espíritos orgulhosos é a espécie de fascinação que exercem sobre seus médiuns, através da qual por vezes os fazem compartilhar dos mesmos sentimentos. Dizemos de propósito seus médiuns, porque deles se apoderam e neles querem ter instrumentos que agem de olhos fechados. De modo algum se acomodariam a um médium perscrutador ou que visse bem claro. Não se dá o mesmo entre os homens? Quando o encontram, temendo que lhes escape, inspiram-lhe o afastamento de quem quer que possa esclarecê-lo. Isolam-no de certo modo, a fim de estarem em liberdade, ou não o aproximam senão daqueles de quem nada têm a temer. Para melhor lhes captar a confiança, fazem-se de bons apóstolos, usurpando os nomes de Espíritos venerados, cuja linguagem procuram imitar. Mas, por mais que façam, jamais a ignorância poderá imitar o verdadeiro saber, nem uma natureza perversa a verdadeira virtude. O orgulho brotará sempre sob o manto de uma falsa humildade, e porque temem ser desmascarados, evitam a discussão e dela afastam seus médiuns.

Não há ninguém que, julgando friamente e sem prevenção, não reconheça como má uma tal influência, porque ressalta ao mais vulgar bom-senso que um Espírito realmente bom e esclarecido jamais procura exercê-la. Pode pois dizer-se que todo médium que a ela se submete se acha sob o império de uma obsessão, da qual deve o quanto antes procurar livrar-se. O que se quer, antes de tudo, não são comunicações a todo custo, mas comunicações boas e verdadeiras. Ora, para se ter boas comunicações são necessários bons Espíritos, e para se ter bons Espíritos é preciso ter bons médiuns, livres de qualquer influência má. A natureza dos Espíritos que habitualmente assistem um médium é, pois, uma das primeiras coisas a considerar. Para conhecê-la exatamente, há um critério infalível e não é nos sinais materiais, nem nas fórmulas de evocação ou de conjuração que será encontrada. Esse critério está nos sentimentos que o Espírito inspira ao médium. Pela maneira de agir deste último pode-se julgar a natureza dos Espíritos que o dirigem e consequentemente o grau de confiança que merecem suas comunicações.

Isto não é uma opinião pessoal, um sistema, mas um princípio deduzido da mais rigorosa lógica, se admitirmos esta premissa: um mau pensamento não pode ser sugerido por um bom Espírito. Enquanto não se provar que um bom Espírito pode inspirar o mal, diremos que todo ato que se afaste da benevolência, da caridade e da humildade, e no qual se note o ódio, a inveja, o ciúme, o orgulho ferido ou a simples acrimônia, não pode ter sido inspirado senão por um mau Espírito, ainda quando este hipocritamente pregasse as mais belas máximas, porque, se fosse realmente bom, prová-lo-ia pondo seus atos em harmonia com suas palavras. A prática do Espiritismo é cercada de tantas dificuldades; os Espíritos enganadores são tão astuciosos, tão sabidos e ao mesmo tempo tão numerosos, que não seria demais armar-se do máximo de precauções para frustrá-los. Importa, pois, rebuscar com o maior cuidado todos os indícios pelos quais eles se podem trair. Ora, esses indícios estão, ao mesmo tempo, em sua linguagem e nos atos que provocam.

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Re: Apreciando a Revista Espírita
« Responder #233 em: 01 de Maio de 2017, 14:28 »
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Tendo submetido estas reflexões ao Espírito de Charlet, eis o que disse a respeito: “Não posso senão aprovar o que acabais de dizer e aconselhar a todos quantos se ocupam do Espiritismo a seguir tão sábios conselhos, evidentemente ditados por bons Espíritos, mas que não são absolutamente ─ bem podeis crê-lo ─ do gosto dos maus, pois estes sabem muito bem que é esse o meio mais eficaz de combater a sua influência. Assim, fazem tudo quanto podem para desviar disso aqueles que querem prender em suas redes”.

Charlet disse que foi arrastado pelo prazer, para ele novo, de escrever belas frases, mesmo com sacrifício da verdade. Que teria acontecido se tivéssemos publicado seu trabalho sem comentários? Teriam acusado o Espiritismo por aceitar ideias ridículas, e a nós mesmos por não sabermos distinguir o verdadeiro do falso. Muitos Espíritos estão no mesmo caso. Encontram satisfação para o amor-próprio ao espalhar, através de médiuns, já que não podem fazê-lo diretamente, peças literárias, científicas, filosóficas ou dogmáticas de grande fôlego. Mas quando esses Espíritos têm apenas um falso saber, escrevem coisas absurdas, assim como o fariam os homens. É sobretudo nessas obras continuadas que podemos julgá-los, porque sua ignorância os torna incapazes de representar o papel por muito tempo e eles próprios revelam sua insuficiência, a cada passo, ferindo a lógica e a razão. Através de uma porção de ideias falsas, há, por vezes, algumas boas, com que contam para iludir. Tal incoerência apenas demonstra sua incapacidade. São os pedreiros que sabem alinhar as pedras da construção, mas que são incapazes de construir um palácio. É por vezes curioso ver o dédalo inextricável de combinações e de raciocínios em que se metem, e dos quais não saem senão à força de sofismas e de utopias. Vimos alguns que, à custa de expedientes, deixaram o seu trabalho. Outros, porém, não se dão por vencidos e querem agir até o fim, rindo-se ainda à custa dos que os levam a sério.

Estas reflexões nos são sugeridas como um princípio geral, e seria erro ver nelas uma aplicação qualquer. Entre os numerosos escritos publicados sobre o Espiritismo, sem dúvida alguns poderiam dar lugar a uma crítica fundada, mas não os pomos a todos na mesma linha; indicamos um meio de apreciá-los, e cada um fará como entender. Se ainda não decidimos fazer-lhes um exame em nossa Revista é pelo receio de que se equivoquem quanto ao móvel da crítica que poderíamos fazer. Assim, preferimos esperar que o Espiritismo seja melhor conhecido e, sobretudo, melhor compreendido. Então nossa opinião, apoiada em base geralmente admitida, não poderá ser acusada de parcialidade. O que esperamos acontece diariamente, pois vemos que em muitas circunstâncias o julgamento da opinião pública precede o nosso. Assim, nos aplaudimos por nossa reserva. Empreenderemos este exame quando julgarmos oportuno o momento, mas já se pode ver qual será a base de nossa apreciação. Essa base é a lógica, da qual cada um pode fazer uso por si mesmo, pois não temos a tola pretensão de ter o privilégio de sua posse. Com efeito, a lógica é o grande critério de toda comunicação espírita, como o é de todos os trabalhos humanos. Sabemos bem que aquele que raciocina erradamente julga ser lógico. Ele o é à sua maneira, mas só para si e não para os outros. Quando uma lógica é rigorosa como dois e dois são quatro, e as consequências são deduzidas de axiomas evidentes, o bom-senso geral, mais cedo ou mais tarde, faz justiça a todos esses sofismas. Cremos que as proposições seguintes têm esse caráter:

 

1. ─ Os bons Espíritos não podem ensinar e inspirar senão o bem; assim, tudo o que não é rigorosamente bem não pode vir de um bom Espírito;

2. ─ Os Espíritos esclarecidos e verdadeiramente superiores não podem ensinar coisas absurdas; assim, toda comunicação manchada de erros manifestos ou contrários aos dados mais vulgares da ciência e da observação, só por isso atesta a inferioridade de sua origem;

3. ─ A superioridade de um escrito qualquer está na justeza e na profundidade das ideias e não nos enfeites e na redundância do estilo; assim, toda comunicação espírita em que há mais palavras e frases brilhantes do que pensamentos sólidos, não pode vir de um Espírito realmente superior;

4. ─ A ignorância não pode contrafazer o verdadeiro saber, nem o mal contrafazer o bem de maneira absoluta; assim, todo Espírito que, sob um nome venerado, diz coisas incompatíveis com o título que se dá, é responsável por fraude;

5. ─ É da essência de um Espírito elevado ligar-se mais ao pensamento do que à forma e à matéria, de onde se segue que a elevação do Espírito está na razão da elevação das ideias; assim, todo Espírito meticuloso nos detalhes da forma, que prescreve puerilidades, numa palavra, que liga importância aos sinais e às coisas materiais, acusa, por isso mesmo, uma pequenez de ideias, e não pode ser verdadeiramente superior;

6. ─ Um Espírito realmente superior não pode contradizer-se; assim, se duas comunicações contraditórias forem dadas sob um mesmo nome respeitável, uma delas necessariamente é apócrifa, e se uma for verdadeira, só pode ser aquela que em nada desmente a superioridade do Espírito cujo nome a encima.

A consequência a tirar destes princípios é que fora das questões morais só se deve acolher com reservas o que vem dos Espíritos, e que, em todo caso, jamais deve ser aceito sem exame. Daí decorre a necessidade de se ter a maior circunspecção na publicação dos escritos emanados dessa fonte, sobretudo quando, pela estranheza das doutrinas que contêm, ou pela incoerência das ideias, podem prestar-se ao ridículo. É preciso desconfiar da inclinação de certos Espíritos pelas ideias sistemáticas e do amor-próprio com que buscam espalhá-las. Assim, é sobretudo nas teorias científicas que precisa haver extrema prudência e guardar-se de dar precipitadamente como verdades alguns sistemas por vezes mais sedutores do que reais e que, mais cedo ou mais tarde, podem receber um desmentido oficial. Que sejam apresentados como probabilidades, se forem lógicos, e como podendo servir de base a observações ulteriores, vá; mas seria imprudência tomá-los prematuramente como artigos de fé. Diz um provérbio: “Nada mais perigoso que um amigo imprudente.” Ora, é o caso dos que, no Espiritismo, se deixam levar por um zelo mais ardente que refletido.

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Re: Apreciando a Revista Espírita
« Responder #234 em: 05 de Maio de 2017, 15:24 »
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Assassinato do Sr. Poinsot
Revista Espírita, março / 1861
 
 
O mistério que ainda cerca esse deplorável acontecimento fez muita gente pensar que evocando o Espírito da vítima poder-se-ia conhecer a verdade. Numerosas cartas nos foram mandadas a respeito, e como a questão é sobre um princípio de certa gravidade, julgamos útil dar a conhecer a resposta a todos os nossos leitores.

Jamais fazendo do Espiritismo objeto de curiosidade, não tínhamos pensado em evocar o Sr. Poinsot. Não obstante, a pedido insistente de um dos nossos correspondentes que havia tido uma comunicação supostamente dele, e que desejava saber por nós se a mesma era autêntica, tentamos fazê-lo há poucos dias. Conforme nosso hábito, perguntamos ao nosso guia espiritual se tal evocação era possível e se tinha sido ele mesmo que se havia manifestado ao nosso correspondente. Eis as respostas obtidas:

─ “O Sr. Poinsot não pode responder ao vosso apelo. Ele ainda não se comunicou com ninguém. Deus o proíbe no momento.”
 
1. ─ Pode-se saber o motivo?
─ Sim. Porque revelações desse gênero influenciariam a consciência dos juízes, que devem agir com toda a liberdade.
 
2. ─ Contudo, essas revelações, esclarecendo os juízes, talvez pudessem evitar erros lamentáveis e até irreparáveis.
─ Não é por esse meio que eles devem ser esclarecidos. Deus lhes quer deixar a inteira responsabilidade de suas sentenças, como se deixa a cada um a responsabilidade de seus atos; também não lhes quer poupar o trabalho das pesquisas nem o mérito de havê-las feito.
 
3. ─ Mas, na falta de informações suficientes, pode um culpado escapar à justiça?
─ Credes que escape à justiça de Deus? Se deve ser ferido pela justiça dos homens, Deus saberá fazê-lo cair nas mãos deles.
 
4. ─ Seja, quanto ao culpado; mas se um inocente fosse condenado, não seria um grande mal?
─ Deus julga em última instância, e o inocente condenado injustamente pelos homens terá a sua reabilitação. Aliás, essa condenação pode ser para ele uma prova útil ao seu adiantamento. Mas, por vezes, também pode ser a justa punição de um crime da qual terá escapado em outra existência.
 
“Lembrai-vos de que os Espíritos têm por missão vos instruir na via do bem, e não aplainar o caminho terreno, deixado a cargo de vossa inteligência. Afastando-vos do fim providencial do Espiritismo, exponde-vos a serdes enganados pela turba de Espíritos mentirosos que se agitam incessantemente em torno de vós.”
Depois da primeira resposta, os assistentes discutiam sobre os motivos da interdição e, como que para justificar o princípio, um Espírito fez o médium escrever: Eu vou trazê-lo... ei-lo! Pouco depois: “Como sois amáveis em querer conversar comigo! Isto me é muito agradável, pois tenho muitas coisas a vos dizer.” Esta linguagem pareceu suspeita, da parte de um homem como o Sr. Poinsot, e sobretudo à vista da resposta que havíamos recebido, por isso pediram-lhe que atestasse sua identidade em nome de Deus. Então o Espírito escreveu: “Meu Deus, não posso mentir. Contudo, gostaria muito conversar com tão amável sociedade, mas não me quereis. Adeus.” Foi então que o nosso guia espiritual acrescentou: “Eu vos disse que aquele Espírito não pode responder esta noite. Deus o proíbe de manifestar-se. Se insistirdes, sereis enganados.”
 
OBSERVAÇÃO:
É evidente que se os Espíritos pudessem poupar pesquisas aos homens, estes não mais se dariam ao trabalho de descobrir a verdade, pois ela lhes chegaria por si mesma. Assim, o mais preguiçoso poderia sabê-la tanto quanto o mais laborioso, o que não seria justo. Isto é um princípio geral. Aplicado ao Sr. Poinsot, não é menos evidente que se o Espírito declarasse um indivíduo inocente ou culpado e os juízes não achassem provas suficientes de uma ou da outra afirmação, sua consciência ficaria perturbada, e que a opinião pública poderia desviar-se por prevenções injustas. Não sendo perfeito o homem, devemos concluir que Deus sabe melhor do que ele o que lhe deve ser revelado ou oculto. Se uma revelação deve ser feita por meios extra-humanos, Deus lhe sabe dar um cunho de autenticidade capaz de levantar todas as dúvidas, como testemunha o fato seguinte:

Na vizinhança das minas, no México, uma fazenda tinha sido incendiada. Numa reunião onde cuidavam de manifestações espíritas (há diversas naquele país, onde provavelmente ainda não chegaram os artigos do Sr. Deschanel, por isso lá eles se acham tão atrasados); numa reunião, dizíamos, um Espírito se comunicava por batidas. Ele diz que o culpado está entre os assistentes. A princípio duvidam, crendo numa mistificação. O Espírito insiste e designa um dos indivíduos presentes. Eles se espantam. Este se dissimula, mas o Espírito parece insistir, e o faz tão bem que prendem o homem que, premido por perguntas, acaba confessando o crime.

Como se vê, os culpados não devem confiar na discrição dos Espíritos que, às vezes, são os instrumentos de Deus para os castigar. Como o Sr. Figuier explicaria tal fato? É intuição, hipnotismo, biologia, superexcitação do cérebro, concentração do pensamento, alucinação, que ele admite sem crer na independência do Espírito e da matéria? Conciliai tudo isto, se puderdes. Sua própria solução é um problema e deveria ele dar a solução da sua solução. Mas, por que um Espírito não daria a conhecer o assassino do Sr. Poinsot, como fez com aquele incendiário? Pedi, então, contas a Deus de suas ações. Perguntai ao Sr. Figuier, que julga saber mais do que Ele.

Allan Kardec

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Re: Apreciando a Revista Espírita
« Responder #235 em: 11 de Maio de 2017, 15:35 »
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Flageolet, Espírito mistificador
Revista Espírita, março / 1868
 
 
      O fato seguinte nos é relatado por um dos nossos correspondentes de Maine-et-Loire, o Sr. doutor E. Champneuf. Embora o fato em si não saia do círculo dos fenômenos conhecidos de manifestações físicas, é instrutivo porque prova, uma vez mais, a diversidade dos tipos que se encontram no mundo invisível, e que aí entrando certos Espíritos não se despojam imediatamente de seu caráter. É o que se ignorava, antes que o Espiritismo nos tivesse posto em relação com os habitantes desse mundo. Eis o relato que nos é dirigido:
 
"Permiti-me dar-vos a conhecer um fato assaz curioso, não de um transporte, mas de uma subtração por um Espírito, produzida há oito dias em nosso meio.
 
Há um Espírito que há muitos anos frequenta nosso grupo de Saumur, que há algum tempo se fez ainda mais familiar do nosso grupo de Vernantes. Ele disse chamar-se Flageolet, mas nosso médium, pelo qual ele se fez reconhecer, e que com efeito o conheceu quando vivia no mundo, nos disse que ele tinha o nome de Biron, violinista medíocre, muito corajoso, vivedor, correndo tascas onde fazia as pessoas dançarem. É um Espírito leviano, mistificador, mas não é mau.
 
Então, Flageolet instalou-se em casa de meu irmão, onde se fazem as sessões. E os almoços e jantares são alegrados pelas árias tocadas que lhe pedem ou não lhe pedem, felizes quando os copos e os pratos não são virados por sua jovialidade turbulenta.
 
Há oito dias o meu irmão, que fuma muito, tinha, como de costume, sua tabaqueira a seu lado, sobre a mesa e, como também de costume, Flageolet assistia ao jantar de família. Depois de tocadas algumas árias e marchas, o Espírito se pôs a tocar a canção:J’ai du bon tabac dans ma tabatière (Tenho bom tabaco em minha tabaqueira). Nesse momento meu irmão procurou a sua, que não estava mais ao seu lado. Ele passeou o olhar ao seu redor, revistou os bolsos, nada. A mesma canção continua com mais animação; ele se levanta, examina a mesinha da lareira, os móveis, leva a investigação até os cômodos vizinhos e a canção da tabaqueira, cantada com mais vigor, o persegue com redobrada zombaria, à medida que ele se afasta e se anima em suas buscas. Se ele se aproxima da lareira, as batidas se tornam mais fortes e rápidas. Enfim o procurador, aborrecido por essa harmonia impiedosa, pensa em Flageolet e lhe diz:
 
─ Foste tu que tiraste minha tabaqueira?
─ Sim.
─ Queres devolvê-la?“─ Sim.
─ Então fala!
 
Tomaram o alfabeto e um lápis e o Espírito ditou: “Eu a lancei no fogo.” Remexem as cinzas quentes e encontram, no fundo da lareira, a tabaqueira cujo pó estava calcinado.
 
Todos os dias há alguma surpresa de sua parte ou alguma traquinada à sua maneira. Há três dias ele nos revelou o conteúdo de um cesto bem afivelado que acabara de chegar.
 
Ontem à noite era uma nova malícia contra meu irmão. Este, durante o dia, entrando em casa, procurou o boné que usa no interior e, não encontrando, decidiu não pensar mais no caso. À noite Flageolet, sem dúvida aborrecido de executar canções sem que lhe dessem atenção, e sem que pensassem em interrogá-lo, pediu para escrever. Pusemo-nos à sua disposição e ele ditou:
 
─ Eu afanei o teu barrete.
─ Queres dizer-me onde ele está?
─ Sim.
─ Onde o meteste?
─ Eu o dei a Napoleão.
Persuadidos de que era outra piada do Espírito, perguntamos:
─ Qual?
─ O teu.
 
Há muitos anos há uma estátua de Napoleão I, de tamanho médio, na sala onde fazemos as nossas sessões. Dirigimo-nos para a estátua, com a lâmpada na mão, e encontramos o boné desaparecido, que cobria o pequeno chapéu histórico.”
 
OBSERVAÇÃO:

Tudo no Espiritismo é assunto de estudo para o observador sério; os fatos aparentemente insignificantes têm sua causa, e essa causa pode ligar-se aos mais importantes princípios. As grandes leis da Natureza não se revelam no menor inseto como no animal gigantesco? No grão de areia que cai, como no movimento dos astros? O botânico despreza uma flor porque é humilde e sem brilho? Dá-se o mesmo na ordem moral, onde tudo tem o seu valor filosófico, como na ordem física tudo tem seu valor científico.
 
Ao passo que certas pessoas não verão no fato acima relatado senão uma coisa curiosa, divertida, um assunto de distração, outros aí verão uma aplicação da lei que rege a marcha progressiva dos seres inteligentes e colherão um ensinamento. Sendo o mundo invisível o meio onde fatalmente desemboca a Humanidade, nada do que pode ajudar a torná-lo conhecido poderia ser indiferente. O mundo corporal e o mundo espiritual, desaguando incessantemente um no outro, pelas mortes e pelos nascimentos, se explicam um pelo outro. Eis uma das grandes leis reveladas pelo Espiritismo.
 
O caráter desse Espírito não é o de uma criança traquinas? Contudo, em vida era um homem feito e até de uma certa idade. Certos Espíritos voltariam, então, a ser crianças? Não; o Espírito realmente adulto não volta atrás, assim como o rio não remonta à sua fonte. Mas a idade do corpo não é absolutamente um indício da idade do Espírito. Como é necessário que todos os Espíritos que se encarnam passem pela infância corporal, resulta que em corpos de crianças se encontrem, forçosamente, Espíritos adiantados. Ora, se esses Espíritos morrem prematuramente, revelam sua superioridade a partir do momento que se despojaram de seu envoltório. Pela mesma razão, um Espírito jovem, espiritualmente falando, não podendo chegar à maturidade no curso de uma existência, que é menos que uma hora em relação à vida do Espírito, um corpo adulto pode encerrar um Espírito criança, pelo caráter e pelo desenvolvimento moral.
 
Incontestavelmente Flageolet pertence a esta última categoria de Espíritos. Ele avançará mais rapidamente que outros, porque apenas tem em si a leviandade, e no fundo não é mau. O meio sério no qual se manifesta, o contato com homens esclarecidos, amadurecerão suas ideias. Sua educação é uma tarefa que lhes incumbe, ao passo que nada teria ganho com pessoas fúteis, que se teriam divertido com suas facécias, como com as de um palhaço.

(Texto enviado por IPEAK)

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Re: Apreciando a Revista Espírita
« Responder #236 em: 29 de Maio de 2017, 13:29 »
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A VOZ DO ANJO-DA-GUARDA
Revista Espírita, janeiro / 1862

Médium – Srta. Huet

Todos os homens são médiuns; todos têm um Espírito que os dirige para o bem, quando sabem escutá-lo.

Pouco importa que alguns se comuniquem diretamente com ele por uma mediunidade particular, e que outros não o ouçam senão pela voz do coração e da inteligência; nem por isso deixará de ser o seu Espírito familiar que os aconselha.

Chamai-o Espírito, razão, inteligência: é sempre uma voz que responde à vossa alma e vos dita boas palavras; só que nem sempre as compreendeis.

Nem todos sabem agir segundo os conselhos dessa razão, não da razão que se arrasta, em vez de marchar, dessa razão que se perde em meio aos interesses materiais e grosseiros, mas da razão que eleva o homem acima de si mesmo, que o transporta para regiões desconhecidas; chama sagrada que inspira o artista e o poeta pensamento divino que eleva o filósofo, impulso que arrasta os indivíduos e os povos, razão que o vulgo não pode compreender, mas que aproxima o homem da divindade mais que qualquer outra criatura; entendimento que sabe conduzi-lo do conhecido ao desconhecido, fazendo com que execute os atos mais sublimes.

Ouvi, pois, essa voz interior, esse bom gênio que vos fala sem
cessar, e chegareis progressivamente a ouvir o vosso anjo da
guarda, que do alto do céu vos estende as mãos.

Channing,

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Re: Apreciando a Revista Espírita
« Responder #237 em: 10 de Junho de 2017, 22:03 »
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Santo Atanásio, Espírita sem o saber
Revista Espírita, janeiro / 1864

A passagem seguinte, tirada de Santo Atanásio, patriarca de Alexandria, um dos pais da Igreja grega, parece ter sido escrita sob a inspiração das idéias espíritas de hoje:
............

“A alma não morre, mas o corpo morre quando dele ela se afasta.

A alma é para si mesma seu próprio motor; o movimento da alma é a sua vida.

Mesmo quando está prisioneira no corpo e como que a ele ligada, ela não se amesquinha às suas estreitas proporções e aí não se encerra.

Mas muitas vezes, quando o corpo jaz imóvel e como que inanimado, ela fica desperta por sua própria virtude;

e, saindo da matéria, não obstante a ela ainda ligada, concebe, contempla existências além do globo terrestre;

vê os santos desprendidos do envoltório dos corpos, vê os anjos e a eles ascende na liberdade de sua pura inocência.

“Inteiramente separada do corpo e quando aprouver a Deus tirar-lhe a cadeia que lhe é imposta, não terá ela, eu vos pergunto, uma visão muito mais clara de sua natureza imortal?

Se hoje mesmo, e nos entraves da carne, ela já vive uma vida completamente exterior, viverá muito mais depois da morte do corpo, graças a Deus que, por seu Verbo, a fez assim.

Ela compreende, abarca em si as ideias de eternidade, de infinito, pois é imortal.

Assim como o corpo, que é mortal, não percebe senão o que é material e perecível, também a alma, que vê e medita as coisas imortais, é necessariamente imortal em si mesma e viverá sempre, porque os pensamentos e as imagens de imortalidade jamais a deixam e nela são como um foco vivo, que alimenta e assegura a sua imortalidade.”

(Sanct. Athan. Oper., t. I, p. 32. – Villemain, Quadro da eloqüência cristã no IV século)

...........

Com efeito, não está aí uma descrição exata da irradiação exterior da alma durante a vida corporal, e de sua emancipação no sono, no êxtase, no sonambulismo e na catalepsia?

O Espiritismo diz exatamente a mesma coisa, e o prova pela experiência.

Com as ideias esparsas contidas na Bíblia, nos Evangelhos e nos Pais da Igreja, sem falar dos escritores profanos, pode constituir-se toda a doutrina espírita moderna.

Os comentários feitos desses escritos geralmente o foram de um ponto de vista exclusivo e com ideias preconcebidas, e muitos só viram neles o que queriam ver ou lhes faltava a chave necessária para ver outra coisa; mas hoje o Espiritismo é a chave que dá o verdadeiro sentido das passagens mal compreendidas.

Até o momento esses fragmentos são recolhidos parcialmente, mas dia virá em que homens de paciência e saber, e cuja autoridade não poderá ser desconhecida, farão deste estudo o objeto de um trabalho especial e completo, que projetará luz sobre todas essas questões, fazendo que todos se submetam, ante a evidência claramente demonstrada.

Esse trabalho considerável – creio poder dizer – será obra de membros eminentes da Igreja, que receberão esta missão, porque compreenderão que a religião deve ser progressiva como a Humanidade, sob pena de ser ultrapassada, porque, como na política, há ideias retrógradas na religião.

Em tal caso, não avançar é recuar.

O que faz os incrédulos é precisamente o fato de a religião colocar-se fora do movimento científico e progressivo.

Ela faz mais: declara este movimento obra do demônio e sempre o combateu.

Disso resultou que a Ciência, sendo repelida pela religião, por sua vez repeliu a religião.

Daí um antagonismo que não cessará senão quando a religião compreender que não só deve marchar com o progresso, mas ser um elemento do progresso.

Todos acreditarão em Deus, quando ela não o apresentar em contradição com as leis da Natureza, que são obra sua.

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Re: Apreciando a Revista Espírita
« Responder #238 em: 21 de Junho de 2017, 15:07 »
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Voltaire e Frederico
Revista Espírita, agosto / 1859

Diálogo obtido através de dois médiuns que serviram de intérpretes a esses Espíritos, na sessão da Sociedade a 18 de março de 1859.

PERGUNTAS PRÉVIAS A VOLTAIRE


1. ─ Em que situação vos encontrais como Espírito?
─ Errante, mas arrependido.

2. ─ Quais as vossas ocupações como Espírito?
─ Rasgo o véu do erro que em vida supunha ser a luz da verdade.

3. ─ Que pensais dos vossos escritos em geral?
─ Meu Espírito estava dominado pelo orgulho, pois eu tinha a missão de dar um impulso a um povo na infância. Minhas obras são a consequência disso.

4. ─ O que podeis dizer particularmente sobre o vosso Joana d’Arc?
─ É uma diatribe. Fiz coisas piores.

5. ─ Em vida, o que pensáveis do vosso futuro depois da morte?
─ Ora, eu não acreditava senão na matéria, bem o sabeis; e ela morre.

6. ─ Éreis ateu no verdadeiro sentido do vocábulo?
─ Eu era orgulhoso; negava a divindade por orgulho, com o que sofri e do que me arrependo.

7. ─ Gostaríeis de conversar com Frederico, que teve a gentileza de atender também ao nosso chamado? Essa conversa seria instrutiva para nós.
─ Se Frederico quiser, estou à disposição.

Voltaire ─ Meu caro monarca, vedes que reconheço os meus erros e que estou longe de falar como nas minhas obras. Outrora dávamos o espetáculo das nossas torpezas; agora somos obrigados a dar o do nosso arrependimento e do nosso desejo de conhecer a grande e pura verdade.

Frederico ─ Eu vos supunha menos bom do que realmente sois.

Voltaire ─ Uma potência que somos obrigados a adorar e reconhecer em toda a sua soberania, força nossa alma a proclamar, para aqueles de quem talvez abusamos, uma doutrina inteiramente oposta àquela que professávamos.

Frederico ─ É verdade, meu caro Arouet, mas não finjamos mais. Seria inútil, pois caíram todos os véus.

Voltaire ─ Deixamos tantos desastres atrás de nós que muitas lágrimas nos serão precisas a fim de obtermos o perdão e sermos absolvidos. Nunca estaríamos demasiado unidos, a fim de fazermos esquecer e reparar os males que causamos.

Frederico ─ Convenhamos também que o século que nos admirava foi muito pobre em seu julgamento e que bem pouco é preciso para fascinar os homens. Nada mais que um pouco de audácia.

Voltaire ─ Como não? Fizemos tanto barulho em nosso século!

Frederico ─ Foi esse barulho que, caindo de repente num completo silêncio, nos arrojou na reflexão amarga, quase no arrependimento. Eu deploro a minha vida, mas como me aborreço de não ser mais Frederico! E tu, de não seres mais o senhor Voltaire!

Voltaire ─ Falai então por vós, majestade.

Frederico ─ Sim, eu sofro; mas não o repitas mais.

Voltaire ─ Então abdicai! Mais tarde fareis como eu.

Frederico ─ Não posso.

Voltaire ─ Me pedistes que fosse vosso guia e sê-lo-ei ainda. Tratarei somente de não vos transviar no futuro. Se puderdes ler, procurai aqui o que vos possa ser útil. Não são as altezas que vos questionam, mas Espíritos que buscam e que encontram a verdade com a ajuda de Deus.

Frederico ─ Tomai-me então pela mão; traçai-me uma linha de conduta, se puderdes... esperemos... mas será para vós... Quanto a mim estou muito perturbado, e isto já dura há um século.

Voltaire ─ Ainda me excitais o desejo de orgulhar-me de valer mais do que vós. Isso não é generoso. Tornai-vos bom e humilde, para que eu também seja humilde.

Frederico ─ Sim, mas a marca que a minha condição de majestade me deixou no coração impede-me sempre de humilhar-me como tu. Meu coração é duro como um rochedo, árido como um deserto, seco como areia.

Voltaire ─ Seríeis então um poeta? Eu não conheci esse vosso talento, Senhor!

Frederico ─ Tu finges, tu... Só uma coisa eu peço a Deus: o esquecimento do passado... uma encarnação de prova e de trabalho.

Voltaire ─ É melhor. Uno-me também a vós, mas sinto que terei de esperar muito tempo pela minha remissão e pelo meu perdão.

Frederico ─ Bem, meu amigo; então oremos juntos uma vez.

Voltaire ─ Eu o faço sempre, desde que Deus se dignou retirar-me o véu da carne.

Frederico ─ Que pensas destes homens que nos chamam aqui?

Voltaire ─ Eles podem julgar-nos e nós não podemos senão humilhar-nos perante eles.

Frederico ─ A mim eles atrapalham. Suas ideias são muito estranhas.

(Pergunta a Frederico): ─ Que pensais do Espiritismo?

─ Sois mais sábios do que nós. Não viveis um século após o nosso? Embora no céu desde então, apenas acabamos de entrar nele.
─ Agradecemos por terdes querido atender ao nosso apelo, bem como ao vosso amigo Voltaire.

Voltaire ─ Viremos quando quiserdes.

Frederico ─ Não me evoqueis muitas vezes... não sou simpático.

─ Por que não sois simpático?
─ Eu desprezo e me sinto desprezível.
 

25 DE MARÇO DE 1859

1. ─ (Evocação de Voltaire).
─ Falai.

2. ─ Que pensais de Frederico, agora que ele não está mais aqui?
─ Ele raciocina muito bem, mas não quis explicar-se. Como vos disse, despreza, e esse desprezo que tem por todos o impede de se abrir, temendo não ser compreendido.

3. ─ Então teríeis a bondade de suprir isso, dizendo-nos o que ele entende pelas palavras “desprezo e me sinto desprezível”?
─ Sim. Ele se sente fraco e corrompido, como todos nós; talvez compreenda ainda mais do que nós, por ter abusado, mais que os outros, dos dons de Deus.

4. ─ Como o considerais como monarca?
─ Hábil.

5. ─ Vos o julgais um homem de bem?
─ Não deveríeis fazer essa pergunta. Não conheceis as suas ações?

6. ─ Poderíeis dar-nos uma ideia mais precisa do que já nos destes acerca de vossas ocupações como Espírito?
─ Não. A todo instante de minha vida descubro o bem sob um novo ponto de vista e tento praticá-lo, ou pelo menos aprender a praticá-lo. Quando se teve uma existência como foi a minha, há muitos preconceitos a combater, muitos pensamentos a repelir ou mudar completamente, antes de alcançar a verdade.

7. ─ Desejaríamos que nos fizésseis uma dissertação sobre um assunto de vossa escolha. Poderíeis fazê-lo?
─ Sobre o Cristo, sim, se o quiserdes.

8. ─ Nesta sessão?
─ Mais tarde. Esperai outra sessão.

 
8 DE ABRIL DE 1859

1. ─ (Evocação de Voltaire).
─ Aqui estou.

2. ─ Teríeis a bondade de nos fazer hoje a dissertação que prometestes?
─ Posso fazer o que prometi, no entanto, serei breve.

Meus caros amigos! Quando eu estava entre vossos pais, tinha opiniões, e para sustentá-las e fazê-las prevalecer entre os contemporâneos, muitas vezes simulei uma convicção que realmente não possuía. Foi assim que, querendo atacar os defeitos e os vícios em que caía a religião, sustentei uma tese que hoje estou condenado a refutar.

Ataquei muitas coisas puras e santas, que a minha mão profana deveria ter respeitado. Assim, ataquei o próprio Cristo, esse modelo de virtudes sobre-humanas. Sim, pobres homens! Nós nos assemelharemos talvez um pouco com ao nosso modelo, mas nunca teremos a dedicação e a santidade que ele demonstrou. Ele estará sempre acima de nós, porque ele foi melhor antes de nós. Ainda estávamos mergulhados no vício da corrupção, e ele já estava sentado à direita de Deus. Aqui, diante de vós, eu me retrato de tudo quanto minha pena traçou contra o Cristo, porque o amo, sim, eu o amo. Sentia não ter podido fazê-lo ainda.

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Re: Apreciando a Revista Espírita
« Responder #239 em: 21 de Junho de 2017, 15:10 »
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Confissão de Voltaire
Revista Espírita, Setembro / 1859

A propósito da entrevista de Voltaire e de Frederico, que publicamos no último número da Revista, um dos nossos correspondentes de Boulogne nos envia a seguinte comunicação, que publicamos com tanto maior satisfação quanto apresenta um aspecto eminentemente instrutivo do ponto de vista espírita. Nosso correspondente fez algumas reflexões prévias, que não queremos omitir.

“Se existe um homem, mais que qualquer outro, que deve sofrer castigos eternos, esse homem é Voltaire. A cólera e a vingança de Deus persegui-lo-ão para sempre. É o que nos dizem os teólogos da velha escola.

“Que dizem agora os mestres da Teologia moderna? É possível, dizem eles, que desconheçais o homem, não menos que o Deus de que falais. Evitai as paixões inferiores do ódio e da vingança e não maculeis o vosso Deus com isso. Se Deus se inquieta com esse pobre pecador, se toca nesse inseto, será para arrancar-lhe o ferrão, para endireitar-lhe a cabeça exaltada e o coração transviado. Digamos ainda que Deus, que lê nos corações de modo diverso de vós, encontra o bem onde encontrais o mal. Se dotou aquele homem de um grande gênio foi em benefício da raça, e não em seu prejuízo.

Que importa, então, as suas primeiras extravagâncias e as suas atitudes de franco atirador entre vós? Uma alma dessa têmpera não poderia proceder de outro modo: a mediocridade era-lhe impossível, fosse no que fosse. Agora que se orientou; que jogou fora as patas e os dentes de potro indomável na sua pastagem terrena; que vem a Deus como um dócil corcel, mas sempre grande, é tão soberbo para o bem quanto era para o mal.

“No artigo que segue veremos de que maneira se operou essa transformação. Veremos nosso garanhão dos desertos, com a crina ondulante, as narinas ao vento, correndo através dos espaços do Universo. É que lá, com o pensamento solto, encontrou essa liberdade que era a sua essência e que sorveu a plenos pulmões, com essa respiração com que se haure a vida!

“E o que lhe aconteceu?

“Perdeu-se e confundiu-se. O grande pregador do nada achou, enfim, o nada, mas não como o compreendia. Humilhado, agastado consigo mesmo, transtornado com a sua pequenez, ele que se julgava tão grande foi aniquilado diante de seu Deus. Ei-lo de rosto no chão, à espera de sua sentença. Essa sentença diz: ‘Levanta-te, meu filho!’, ou ‘Vai-te, miserável!’ O veredicto será encontrado na comunicação que se segue.

“Esta confissão de Voltaire terá mais valor na Revista Espírita, visto que ela no-la mostra em seu duplo aspecto. Vimos que alguns Espíritos naturalistas e materialistas, de cabeça tão virada quanto seu mestre, mas sem o sentimento dele, persistiam em vangloriar-se, no seu cinismo. Que fiquem no seu inferno enquanto lhes aprouver desafiar o céu e menoscabar tudo o que constitui a felicidade do homem, é lógico, pois aí é o seu merecido lugar. Mas também achamos lógico que aqueles que reconhecem os seus erros sejam recompensados. Assim, creio que não nos arvoramos em apologistas do velho Voltaire. Aceitamo-lo apenas no seu novo papel e nos alegramos com a sua conversão, que glorifica Deus e não pode deixar de impressionar vivamente aqueles que ainda hoje se deixam arrastar pelos seus escritos. Lá está o veneno. Aqui está o antídoto.

“Esta comunicação, traduzida do inglês, foi extraída da obra do juiz Edmonds, publicada nos Estados Unidos. Tem a forma de uma conversa entre Voltaire e Wolsey, o célebre cardeal inglês do tempo de Henrique VIII. Dois médiuns atuaram na recepção do diálogo”

Voltaire ─ Que imensa revolução ocorreu no pensamento humano desde que deixei a Terra!

Wolsey ─ Com efeito, essa infidelidade de que vos censuravam então, cresceu desmesuradamente desde aquela época. Não que ela tenha hoje tantas pretensões, mas é mais profunda e mais universal, e a menos que consigam detê-la, ameaça tragar a Humanidade no materialismo, mais do que o fez durante séculos.

Voltaire ─ Infidelidade em que e para com a quem? Com referência à lei de Deus e do homem? Pretendes acusar-me de infidelidade porque não me foi possível submeter-me aos acanhados preconceitos das seitas que me cercavam? É que a minha alma buscava maior amplidão de pensamento e um raio de luz que fosse além das doutrinas humanas. Sim, minha alma entenebrecida tinha sede de luz.

Wolsey ─ Eu também só queria falar da infidelidade que vos era atribuída, mas, infelizmente, não sabeis quanto essa imputação ainda vos pesa. Eu não vos quero censurar, mas apenas manifestar-vos o meu pesar, porque o vosso desprezo pelas doutrinas em voga, que eram apenas materiais e inventadas pelos homens, não poderia prejudicar um Espírito da envergadura do vosso. Mas essa mesma causa que agia sobre o vosso Espírito, operava igualmente sobre outros, demasiado fracos e pequenos para chegarem aos mesmos resultados que vós. Eis, pois, como aquilo que em vós era apenas uma negação dos dogmas dos homens se traduzia nos outros pela negação de Deus. Dessa fonte é que se espalhou com rapidez terrível a dúvida sobre o futuro do homem. Eis também por que o homem, limitando a este mundo todas as suas aspirações, caiu cada vez mais no egoísmo e no ódio ao próximo. É a causa, sim, a causa desse estado de coisas que deve ser procurada, pois uma vez encontrada, o remédio será relativamente fácil. Dizei-me: conheceis essa causa?


Voltaire ─ Na verdade, havia nas minhas opiniões, tais como foram dadas ao mundo, um sentimento de amargura e de sátira. Mas notai que então eu tinha o Espírito dilacerado, por assim dizer, por uma luta interior. Eu olhava a Humanidade como se me fosse inferior em inteligência e em perspicácia. Via apenas marionetes que podiam ser conduzidas por qualquer homem dotado de vontade forte e me indignava ao ver que esta Humanidade, arrogando-se uma existência imortal, era modelada com elementos ignóbeis. Seria possível crer que um ser dessa espécie fizesse parte da Divindade e que pudesse com suas mesquinhas mãos assenhorear-se da imortalidade? Essa lacuna entre duas existências tão desproporcionadas me chocava e eu não podia preenchê-la. No homem eu via apenas o animal e não o Deus.

Reconheço que em alguns casos minhas opiniões tiveram influência nefasta. Tenho, porém, a convicção de que, sob outros aspectos, tiveram seu lado bom. Elas puderam levantar várias almas que se haviam degradado na escravidão. Quebraram as cadeias do pensamento e deram asas a grandes aspirações. Mas, ah! Eu também, que planava tão alto, perdi-me como os outros.

Se em mim a parte espiritual se houvesse desenvolvido tão bem quanto a material, eu teria podido raciocinar com mais discernimento. Confundindo-as, perdi de vista essa imortalidade da alma, que tanto procurava e desejava encontrar. Assim, tão empolgado me achava nessa luta com o mundo, que cheguei, quase contra minha vontade, a negar a existência de um futuro. A oposição que fazia às tolas opiniões, à cega credulidade dos homens, impelia-me a negar e ao mesmo tempo a contradizer todo o bem que a religião cristã poderia fazer. Contudo, por mais descrente que fosse, sentia que era superior aos meus adversários; sim, muito além do alcance da sua inteligência. A bela face da Natureza revelava-me o Universo, inspirava-me o sentimento de uma vaga veneração, misturada ao desejo de uma liberdade sem limites, sentimento que eles jamais experimentavam, agachados que estavam nas trevas da escravidão.

Minhas obras tiveram, pois, seu lado bom, porque sem elas o mal que teria atingido a Humanidade, por falta de qualquer oposição, teria sido pior. Muitos homens não aceitavam mais a servidão; entre eles, muitos se libertaram. Se aquilo que eu pregava lhes deu um único pensamento elevado, ou lhes fez dar um único passo no caminho da Ciência, não era isto abrir-lhes os olhos para a sua verdadeira condição? O que eu lamento é ter vivido tanto tempo na Terra sem saber o que teria podido ser e o que teria podido fazer. O que não teria feito se tivesse sido abençoado por essas luzes do Espiritismo, que se derramam hoje sobre os Espíritos dos homens!



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