Então Jesus olhou para as pessoas que estavam sentadas ao seu redor e disse:

“Aqui estão minha mãe e meus irmãos. Quem faz a vontade de Deus,  esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe”. Marcos, 3:34-35

Jesus não negligenciou ocasião alguma que pudesse servir de ensinamento. Na passagem acima, quando o avisam de que sua mãe e seus irmãos haviam chegado na casa em que se encontrava e o chamavam, Jesus aproveitou para distinguir entre o parentesco corporal e o parentesco espiritural.

Laços de sangue não estabelecem, necessariamente, laços espirituais. O Espírito existe antes da formação do corpo no qual reencarna. O pai e a mãe carnais não criam o Espírito do filho; apenas lhe fornecem o envoltório corporal e têm a responsabilidade de fazê-lo progredir, ajudando seu desenvolvimento intelectual e moral.

Numa mesma família, sobretudo entre parentes próximos, freqüentemente encarnam Espíritos simpáticos, unidos por relacionamentos de existências anteriores, que se traduzem pela afeição na vida terrestre. Pode ocorrer também, no entanto, que na família os Espíritos sejam completamente estranhos uns aos outros, divididos por antipatias igualmente anteriores, que vão incliná-los ao antagonismo na Terra, para lhes servir de prova.

Verdadeiros laços de família não são, portanto, os da consangüinidade, e sim os da simpatia e da comunhão de pensamentos, que unem os Espíritos antes, durante e após sua encarnação. Assim, dois seres nascidos em famílias diferentes podem ser mais irmãos pelo Espírito que se o fossem pelo sangue, enquanto irmãos consangüíneos podem se repelir; problema moral que só o Espiritismo, pela pluralidade das existências, poderia resolver.
Famílias pelos laços espirituais são duráveis, se fortalecem pela depuração e se perpetuam no mundo dos Espíritos. Famílias pelos laços corporais são frágeis como a matéria, se extinguem com o tempo e, freqüentemente, se dissolvem moralmente na própria vida terrena. Foi isso que Jesus quis ensinar quando afirmou: “Quem faz a vontade de Deus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe”.

Allan Kardec,
O Evangelho segundo o Espiritismo,
Capítulo XIV.