Olá, amigos,

este poema foi escrito há séculos, mas a mensagem continua, infelizmente, por cumprir, perante as divisões religiosas, o espirito «clubista» de cada uma dessas religiosas que prentende a verdade absoluta e pensa que o pai abdica de muitos para privilegiar apenas alguns de seus filhos...
Deus não está nas pedras das igrejas (lembrem-se do Evangelho segundo S.Tomé), mas sim em todo o universo, inclusive no coração de cada um de seus filhos, amando a todos por igual. Se enviou vários mestres, falta nos ouvir a mensagem que cada um deixou, e acaba por ser a mesma: amor. Depois, bem, depois é que os homens, aproveitaram a msg, mas adaptaram-na a seus interesses terrenos.

Kabir, na esteira de seu mestre Ramananda, o fundador do misticismo vixnuita (caracterizado pela doutrina da graça e do amor ardente, como a dos jansenistas de Port-Royal, e oposto ao intelectualismo rigido da ortodoxia bramânica, parecido por sua vez com o escolastismo da Igreja católica, apostólica, romana), ensinava a inutilidade dos ídolos e das formalismo dos cultos e rituais, ensinava a unidade de Deus a despeito das religiões existentes e das divisões por estas criadas.

Todas as religiões são caminhos diferentes para a mesma meta, mas para desempenhar cabalmente a sua função é indispensável que abandonem o seu exclusivismo e se fundem numa doutrina fraterna e universal, sobranceira às formulas estreitas e aos dogmas obsoletos de cada uma.

É esta doutrina fraterna e de tolerânça que Kabir transmitiu aos seus discípulos, transmitindo-se até hoje aos Sikhs, cuja crença, ainda hoje vigorosa, participa das doutrinas do hinduismo, do maometismo e do cristianismo original. Este cristianismo representa, aliás, a mesma aspiração universalista fraternal, cujo exemplo encontramos nos Bháuls e em todas as manifestações mais elevadas do pensamento hindu, desde Mahavira a Rabindranath Tagore (prémio Nóbel, 1912, e grande inspirador de Gandhi)

(texto de Adeodato Barreto, O Livro da Vida)
(1940?)