Talvez, fosse mais producente e educativo, se o palestrante antes de dissertar sobre tais questões, primeiro observasse, se ele próprio não é um beneficiário da venda e con-sumo desses produtos por parte da população.

Olá Maria. Que bom você ter tocado no assunto, assim passamos análise por todas as facetas da questão.

Vou analisar o seu argumento, tornando-o ainda mais forte. Então vamos mais além: A industria e comercialização de álcool não é somente fonte de benefício e renda para um grupo pessoas, sendo a fonte do  seu sustento, como também, é uma peça da economia e da cadeia de produção de bens. Não devemos pensar somente nos comerciantes e fabricantes diretos do produto, como também toda cadeia de suprimento e fornecedores: embalagens, grãos, produtos químicos, máquinas, e uma imensa rede de serviço e logística, formando uma grande e importantíssima engrenagem da economia do nosso país e do mundo inteiro.
Tirar essa peça, ou romper essa engrenagem de forma brusca, causaria um trauma no sistema econômico. Incutiria numa crise de graves proporções, e tenho minhas dúvidas se não seria um dano irreparável.

Mas será essa a idéia? Romper com essa engrenagem de forma brusca? Imagine uma máquina, onde uma de suas engrenagens está desgastada. Pelo fato dessa peça ser "má", seria mais crível que eu arrancásse ou destruísse essa peça a marteladas sem removê-la da máquina, ou que eu a removesse delicadamente, substituindo por uma nova?

O perfil do sistema industrial reflete o comportamento e o estilo de vida dos seus consumidores. Os fabricantes exploram os mercados lucrativos, ou seja, fabricam o que o povo quer consumir. Todo o sistema industrial está estruturado nesse padrão de comportamento. Se todo mundo decidisse virar vegetariano hoje, assim, sem mais nem menos, isto seria o caos na economia. Mas sabemos que isto é impossível de acontecer, porque o progresso e a evolução dos hábitos e dos costumes é gradativo. E mesmo se fosse possível, Deus não permitiria, por a ordem das coisas deve ser mantida. Não há o que temer nesse sentido.

Além do mais, poucas pessoas entendem que uma indústria que fecha as portas, isto não necessariamente ocorre de forma traumática. As indústrias estão cada vez mais atentas ao dinamismo do mercado, mantendo negócios e fontes de renda alternativos. Alguns ciclos de mercado são esgotáveis, e quando isto é previsto de forma eficiente, aplica-se estratégias de redução do negócio, até o seu fechamento.

Mas isto nos leva a outro fato curioso: Os industrialistas não querem mudar a sua estrutura. Desejam que as pessoas continuem consumindo cada vez mais aquilo que já existe. Quem é que quer fazer projetos de novas industrias, mudar estruturas, modelos organizacionais, e assumir os riscos destas mudanças? Portanto, estimulam o consumo dos seus produtos com propagandas, e procuram incutir em nossas mentes a ideia de que devemos permanecer vivendo da mesma maneira. Só alteram seus projetos, quando não podem fazer mais nada para manter os atuais.

Então é óbvio que nenhum estudioso, com um pouco de bom senso, vai sugerir a ruptura desse sistema. Quem é que fez esta proposta?
Vamos pensar que mudança gradativa dos nossos hábitos provocará alteração gradativa no perfil de consumo, e isto forçará a reformulação e adaptação, também gradativa, dos sistema produtivos. Este cenario não é muito melhor do que a alienação constante, a estagnação dos hábitos que continuamos a nutrir, influenciados por estes mesmos fabricantes?

A partir do momento que tomarmos consciência de que somos nós, o nosso estilo de vida, nossos hábitos, nossas crenças, etc, que deve comandar o sistema produtivo e modelar a sua estrutura (e não o oposto), o progresso será mais ligeiro. Mas não se justifica jamais, que os habitos de agora sejam mantidos, sob a justificativa de que já existe todo um sistema e toda uma estrutura dedicados a eles.

Conclusão (ufa)

Por fim, a questão dos sistemas produtivos, e da importância que eles representam, não deve nem sequer ser objeto de nossa preocupação, pois como já foi explicado, estes sistemas modelam-se e remormulam-se conforme o perfil de consumo (quando são incapazes de controlá-lo e manipulá-lo).
Basta que a questão seja analisada no seu aspecto individual.
O Espiritismo, como instrutor moral da humanidade, não está sendo hipócrita, em indicar o modelos educativos para nossa vida, sem considerar o impacto que isto causará nos sistemas de produção. Está simplesmente cumprindo com sua função. Caberá a cada um analisar o que é melhor para sí, e a partir daí, as coisas ocorrem naturalmente.


Abraços!