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  • Jesus, o homem....... Albino A. C. de Novaes

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Autor Tópico: Jesus, o homem....... Albino A. C. de Novaes  (Lida 2724 vezes)

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Jesus, o homem....... Albino A. C. de Novaes
« em: 14 de Abril de 2006, 16:17 »
Muita Paz!


Jesus, o homem

Albino A. C. de Novaes

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CONSIDERAÇÕES GERAIS
HISTORIADORES (NÃO ESPÍRITAS)

Os pseudo-epígrafos do Velho Testamento, os Manuscritos do Mar Morto, os Códices Nag-Hammadi, um manuscrito árabe que contem uma versão do testemunho do historiador judeu Josefo sobre Jesus, as escavações arqueológicas na Palestina, especialmente em Cafarnaum e Jerusalém, levam-nos a especular sobre um Jesus histórico que supera o Jesus Mítico em sabedoria, espiritualidade e divindade.
 
“(...) agora já não podemos conhecer qualquer coisa sobre a vida e a personalidade de Jesus, uma vez que as primitivas fontes cristas não demonstram interesse por qualquer das duas coisas, sendo alem disso, fragmentarias e muitas vezes lendárias; e não existem outras fontes sobre Jesus”
 
Assim se expressou RUDOLF BULTMANN, consagrado professor da Universidade de Marburg.
 
Mas, em nossos dias, a opinião que predomina é que podemos conhecer muito bem o que Jesus queria fazer, podemos saber muito sobre o que ele disse.
 
R. BULTMANN, na primeira pagina da sua THEOLOGY OF NEW TESTAMENT, fez uma afirmação ao mesmo tempo audaz e sucinta:
 
“A mensagem de Jesus é antes um pressuposto para a Teologia do Novo Testamento do que uma parte dessa Teologia (...). Assim, o pensamento teológico- a Teologia do Novo Testamento- tem inicio com o QUERIGMA da igreja primitiva, e não antes”.
 
Esclarecemos que o temo QUERIGMA é o mesmo que mensagem, proclamação, pregação. Mais tarde este termo passou a designar a pregação da Cristandade Primitiva a respeito de Jesus.
 
Num esboço da Teologia do Novo Testamento, ainda não encontramos elementos que permitam omitir de seu contexto a Mensagem de Jesus. Não podemos reduzir a vida e o pensamento de Jesus, a um contexto estritamente histórico.
 
Os sonhos, as idéias, os símbolos e os termos de seus primeiros seguidores foram certamente herdados por Jesus de um modo direto. Vemos tais sonhos, idéias, símbolos e termos profundamente entranhados no mundo e no pensamento do Judaísmo Antigo.
 
Vejamos a seguir a abordagem de BULTMANN logo ao inicio da Teologia do Novo Testamento:
 
“é de importância primordial para a tradição do Evangelho a integração do ministério terreno de Jesus e do querigma, para que o primeiro se torne a base que sustenta o segundo. Essa “rememoracao” de Jesus permanece sendo, especialmente nos grandes Evangelhos, a intenção primaria (...). Se desejarmos representar a Teologia do Novo Testamento de acordo com sua estrutura intrínseca, temos então de começar com a questão do Jesus terreno”.
 
Os documentos do Novo Testamento, bem como suas Teologias e suas tendências não podem ser representadas sem considerarmos a vida singular de Jesus, um símbolo de autoridade, mais do que isto, um paradigma para escritores do Novo Testamento. O Novo Testamento e toda a Teologia Crista se desenvolveu da crise e da conseqüente tensão gerada no confronto entre tradição e adição, entre historia relembrada e fé articulada. Não temos medo em afirmar, ser a Teologia tradicional, firmada em bases dogmáticas e numa fé articulada para atender a interesses de grupos sectários.
 
Duzentos anos de pesquisa não foram suficientes para se produzir um Jesus histórico. Ao nosso ver uma biografia de Jesus é e será sempre impossível. As informações que nos tem chegado a respeito de Jesus são escassas, algumas são truncadas e os próprios evangelistas não se interessaram muito em Jesus como uma pessoa do passado ou como um homem do mundo.
 
Entre os Espíritas há os que não se interessam pela pesquisa do Jesus homem, do Jesus inserido no contexto do mundo, ou ainda, do Jesus histórico. Afirmam que seus ensinamentos devem ser o único alvo. Concordamos que a mensagem de Jesus deva ser tratada prioritariamente, mas se conhecermos uma pouco mais sobre o Mestre Nazareno, certamente seus ensinamentos serão melhor compreendidos.
 
Retornemos aos Historiadores.
 
Certos aspectos específicos da vida de Jesus eram essenciais para a vida e o pensamento quotidiano de seus primeiros apóstolos: conhecer Jesus era o primeiro passo para conhecer sua filosofia, seu posicionamento diante dos fatos sociais, políticos e religiosos da época.
 
A vida levada por Jesus somada a antigas tradições formativas fez com que seus seguidores aprendessem a pensar, ensinar e até suportar sofrimentos, até mesmo o martírio. No primeiro século reinava
 
entre cristãos e judeus a crença de que o presente estava impregnado de futuras expectativas.
 
As tradições sobre Jesus nos Evangelhos resultam de pregações, ensinamentos e polemicas conflitantes com os judeus.
 
Como foram escritos os Evangelhos?
 
Marcos, em algum instante por volta de 70 de nossa era, compôs o primeiro Evangelho, recorrendo a um complexo de tradições que refletia não apenas o que vinha ocorrendo desde a crucificação de Jesus no ano 30 d.C., mas também as ações lembradas e as palavras de Jesus anteriores ao ano 30.
 
Mateus e Lucas dependeram de Marcos, não do moderno e eclético texto grego de Marcos. João possivelmente, também conheceu Marcos e dele herdou a criação literária ou seja o gênero “evangelho”. Todos os evangelistas herdaram tradições, algumas das quais só pertenciam a um deles. Cada evangelista escreveu a partir de uma perspectiva sociológica e teológica distinta.
 
Mas podemos formular algumas outras perguntas para completar a primeira:
 
Que fontes estavam a disposição de Marcos e dos outros evangelista? Até onde eram autenticas? Como se pode confiavelmente distinguir entre o verdadeiro e o falso? O que é digno de confiança e o que é fabricado? Como foram significativamente moldadas as tradições dos evangelistas pelo processo de transmissão? Será que alguém durante a vida de Jesus deixou por escrito alguma coisa sobre o que ele ensinara?
 
Infelizmente estas e outras pergunta similares continuam sem respostas conclusivas. Mas isto não deve desanimar os historiadores.
 
Não devemos desavisadamente ignorar a mais simples das questões: como poderemos explicar o aparecimento de um evangelho? O que o precedeu? Como foi possível para Marcos fazer o que fez, se tudo o que o precedeu foram querigmas ou proclamações desprovidas de qualquer interesse ou conteúdo históricos?
 
O fato é que, desde as primeiras décadas do movimento associado a Jesus, houve algum interesse histórico no homem Jesus de Nazaré: isto o prova a mera existência dos Evangelhos- que incluem a celebração da vida e dos ensinamentos de Jesus anterior a Páscoa.
 
Os Evangelhos contam a historia dos feitos e dos ensinamentos de um homem. Não apenas Lucas (1:1-4) e João (21:25), mas também Marcos e Mateus indicam que o interesse no Jesus que precedeu a Páscoa lhe eram anterior.
 
Marcos dá ênfase a afirmação, herdada de Jesus, de que está agora começando o ato final no drama dinâmico em que Deus se move para uma humanidade imoral.
 
Mateus luta para provar que todas as profecias concebíveis foram cumpridas por Jesus:
 
Lucas tende a fazer a historia universal trifurcar em três períodos: o templo de Israel, o meio do tempo ou o tempo de Jesus, e o tempo da igreja. Ele também abranda a tendência de Marcos para dar ênfase ao presente como o fim do tempo e da historia e sua afirmação escatológica injusta de que Jesus regressará triunfantemente a qualquer momento. Considerando a tradição do Evangelho e sua transmissão, observamos que:
 
1 - Os Evangelhos procedem de uma geração ulterior a de Jesus; mas, embora os evangelistas não fossem testemunhas oculares, eles foram informados por testemunhas oculares. A tradição oral nem sempre desmerece a fé.
 
2 - Os Evangelhos e outros documentos do Novo Testamento refletem as necessidades da igreja (...) e a dedicação a tradição histórica não implica ou exige perfeição em transmitir.
 
3 - Os Evangelhos contem elementos legendários ou míticos, tais como Jesus caminhando sobre as águas; mas seguramente os Evangelhos são categoricamente diferentes das lendas e mitos bem conhecidos (...). Embora se deva admitir a presença de lendas e mitos não-historicos e não verificáveis nos Evangelhos, a historia fundamental sobre Jesus decorre de tradições autenticas muita antigas.
 
4 - Mateus claramente amplia e muitas vezes transforma em alegoria Marcos e Q, uma fonte perdida somente conhecida porque Mateus e Lucas herdaram porções dela (...).
 
5 - Na busca de material autentico referente a Jesus temos de reconhecer (...) que palavras que não são autenticas de Jesus podem corretamente conservar a real intenção de Jesus (...).
 
6 - Mateus e Lucas trabalhando a partir de Marcos e Q alteraram os ditos de Jesus e, enquanto Marcos deve ter exercido a mesma liberdade exegética, é obvio, comparando Marcos com Q e os ditos de Jesus encontrados apenas em Mateus com os que figuram apenas em Lucas, que muitos dos ditos de Jesus remontam muito antes de 70. é simplesmente inverídico que os ditos de Jesus foram criados pelos primeiros cristãos ou inventados pelos evangelistas. (Creio que o mesmo pensamento se aplica aos ditos de Jesus reunidos por evangelistas não canônicos e que muitos foram distorcidos, acrescentados ou modificados).
 
7 - A Epístola aos Romanos 1:3-4 e outras tradições podem tender a indicar que os seguidores de Jesus só começaram a afirmar que ele era “o Cristo” depois que Jesus (voltou entre os mortos). Não se sugere dessa percepção que a cristologia só se iniciou depois da Páscoa ou que a cruz e o aparecimento de Jesus apos a crucificação foram os únicos aspectos importantes da vida de Jesus.
 
8 - Os Evangelhos são confessionários pós-Pascoa. Esclarecemos que aqueles que buscam ver as tradições autenticas de Jesus no Novo Testamento não estão empenhados numa operação de salvação. A pesquisa sobre Jesus está desvinculada (totalmente) da procura de um fundamento razoável para a fé e da necessidade de retratar o herói divino a ser imitado.
 
9 - Há um retrato comum de Jesus em Mateus, Marcos e Lucas. Este retrato expõe Jesus como pessoa distintamente reconhecível na Palestina do primeiro século.
 

COMENTÁRIOS DOS ESPÍRITAS
J. Herculano Pires
 
(I)
 
(Hoje constatamos) “um abismo entre o Cristo e o Cristianismo, tão grande quanto o abismo existente entre Jesus de Nazaré e Jesus Cristo nascido (...) na cidade do Rei Davi em Belém da Judéia, segundo o mito hebraico do Messias. Por isso a Civilização Cristã, nascida em sangue e em sangue alimentada, não possui o Espírito de Jesus, mas o corpo mitológico do Cristo, morto e exangue. Por isso o Padre Alta estabeleceu em Paris, a diferença entre o Cristianismo do Cristo e o dos seus vigários. Não podemos condenar o processo histórico que brotou, rude e impulsivo, das condições humanas de civilizações agrárias e pastoris, mas não é justo que conservemos em nosso tempo de abertura para novas dimensões da realidade humana a da realidade cósmica.
Mahatma Gandhi exclamou, ao ler os Evangelhos: ”Como pode uma árvore como esta dar os frutos que conhecemos?”
Kalil Gibran Kalil, viu Jesus de Nazaré encontrar-se com o Jesus dos Cristãos numa colina do Líbano, onde conversaram, e Jesus de Nazaré retira-se murmurando: “Nao podemos nos entender!”.
Melanchton assustou-se com a depuração da Reforma e perguntou a Lutero ”Se tiras tudo dos Cristãos, o que lhes pretende dar?”. Lutero respondeu: “Cristo!”.
As atuais Teologias da Morte de Deus, nascidas da Loucura de Nietsche, provou a razão de Lutero. A Nova Teologia do Padre Teilhard de Chardian oferece-nos os rumos da renovação. E o Papa João XXIII, um camponês que voltou ao campo, tentou limpar a Seara. é o tempo de compreendermos que Jesus de Nazaré não voltou das nuvens de Betânia, mas em Espírito e Verdade, para conduzir-nos a toda Verdade Prometida”.
 
(II)
 
“Na Galiléia dos gentios, sob o domínio romano de Israel, as esperanças judaicas do Messias cumpriram de maneira estranha e decepcionante. Nasceu o menino Jesus em Nazaré, na extrema pobreza da casa de um carpinteiro, próximo a Decapolis impura, as dez cidades gregas que maculavam a pureza sagrada da terra que Javé cedera ao seu povo. Era penoso para os judeus aceitarem esse desígnio do Senhor, que mais uma vez lhe impunha terrível humilhação. José o carpinteiro casara-se com uma jovem de família pobre e obscura, com pretensas ligações com a linhagem de Davi. Jesus devia nascer em Belém de Judá, a Cidade do Rei cantor, poeta e aventureiro. E devia chamar-se Emmanuel segundo as profecias. Javé certamente castigava os judeus pela infidelidade do seu povo, que deixara a águia romana pensar no Monte Sião. Toda a heróica tradição de Israel se afogava na traição a aliança divina da raça pura, do povo eleito, com o poder impuro de César.
 
A decepção dos judeus aumentava ante a desairosa situação social de José, velho e alquebrado artesão, casado com uma jovem que já lhe dera vários filhos. Jesus não gozava sequer das prerrogativas de primogênito (alem de forjarem a condição de primogênito também forjaram a virgindade de Maria, do contrario as profecias não teriam se cumprido). Herodes, o Grande, que se contentava no ajuste com os romanos, a dominar apenas a Galiléia e alem disso construíra o seu palácio sobre a temível impureza das terras de um cemitério, tremeu ante esse novo desafio aos brios da raça e condenou os que aceitavam esse nascimento impuro como sendo o do Messias de Israel. Era necessário, para sua própria segurança, desfazer esse engano. O menino intruso devia ser sacrificado, e para isso bastava recorrer as alegorias bíblicas e espalhar a lenda da matança dos inocentes. Nos tempos mitológicos em que se encontravam era comum tomar-se a Nuvem por Juno. Mas o menino que nascera de maneira incomum, filho de família pobre (e por isso suspeita), cresceu revelando inteligência excepcional que provocava a admiração do povo. Submetido a sabatina ritual dos rabinos do Templo de Jerusalém, para receber a bênção da virilidade, assombrara os doutores da Lei com seu conhecimento precoce. Mas esse brilho fugaz era insuficiente para lhe garantir a fama messiânica. Logo mais ele se mostrava integrado na família humilde a condição inferior e aprendendo com o velho pai a profissão a que se dedicaria. Não obstante para a prevenção de dificuldades futuras, as raposas herodianas incumbiram-se de propalar a lenda da violação da honra conjugal de Maria pelo legionário Pantera. Com esse golpe decisivo, o perigo messiânico ficava definitivamente anulado.
 
Não seria possível que o povo aceitasse a qualificação messiânica para um bastardo.
 

 
 


(CONTINUA)........


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Re: Jesus, o homem..2..... Albino A. C. de Novaes
« Responder #1 em: 14 de Abril de 2006, 16:21 »
(CONTINUAÇÃO).....



(...) Jesus crescia e se preparava na obscuridade, para o cumprimento de sua missão. Quando se sentiu integrado na cultura hebraica, senhor das escrituras e das tradições da raça, iniciou as suas atividades publicas. Sua própria família então se revoltou contra o perigoso atrevimento daquele jovem delirante. Sua mãe e seus irmãos, como relatam os Evangelhos, tentaram fazê-lo voltar para casa e a oficina rústica do pai. Foi então que seu primo, João, o Batista, que já antecipara seu trabalho messiânico, preparou-lhe as veredas da sua semeadura revolucionaria. Na própria Galiléia Jesus encontrou os seus primeiros discípulos.

Homens humildes, mas cheios de fé, de esperança, dispuseram-se a segui-lo. (...) Suas atitudes claras e enérgicas, seus princípios racionais, desprovidos das superstições rituais da tradição, assustavam e muitas vezes atendiam aquelas almas sedentas de luz e de prodígios messiânicos. Sua popularidade cresceu rapidamente no seio de um povo que sofria como jugo romano, a infiltração constante e irreprimível dos costume pagãos nas classes dominantes, sob a complacência covarde de um rabinato embriagado pelos interesses imediatistas.

Renasceram então antigas lendas a seu respeito. Os que o aceitavam, levados pelas aspirações messiânicas, propalavam estórias absurdas sobre a sua infância e adolescência obscuras, com entusiasmo fanático da ignorância e do clima mitológico da época. Os que a ele se opunham, atrelados ao carro dos interesses romanos e dos seus aliados judeus, ressuscitavam as lendas do seu nascimento vergonhoso e das suas relações secretas com Satanás e com ordens ocultistas e mágicas, como a dos Essênios, geralmente temidas pelas atrocidades que praticavam em seus redutos indevassáveis.
 
A figura humana de Jesus de Nazaré, o jovem reformador do judaísmo, que pregava o amor e a fraternidade entre os homens, ia rapidamente se transfigurando num mito contraditório, ora de semblante celeste e atitudes amigas, ora de rosto irado e chicote em punho. Os discípulos procuravam enquadrá-lo nas profecias bíblicas certos de sua condição messiânica. A mentalidade mística, profundamente diversa de mentalidade racional que ele encarnava, naquela fase de transição histórica e cultural, aceitava mais facilmente a profecia como realidade dos próprios fatos reais.

O sentido de suas palavras e até mesmo as expressões alegóricas, de que as vezes se servia, para se fazer mais compreensível, eram entendidas de maneiras diversas, segundo a capacidade de compreensão de certos indivíduos ou grupos. Esse é um processo de deformação bastante comum nos tempos de ignorância e que hoje se repete nos meios e regiões ainda não atingidos pelo progresso. Os fenômenos de fanatismo religioso e misticismo popular, ainda em nossos dias, revelam a mecânica emocional dessas estranhas, e não raro, bárbaras metamorfoses de interpretação popular de ensinos racionais e de fatos comuns transformados em acontecimentos misteriosos.
 
(...) na elaboração tardia dos textos evangélicos, em tempos e lugares diferentes, com os dados fornecidos pelos LOGIAS (anotações de apóstolos e discípulos) ou mesmo de informações orais, deturpadas pelo tempo, transfiguradas pelos sentimentos de veneração que crescera através dos anos, os elementos míticos se infiltraram no relato, amoldando a realidade distante as condições mitológicas da época.
 
 
REFERENCIAS:

CRISTIANISMO: a mensagem esquecida
Hermínio Miranda - Casa Editora O CLARIM.
Primeira edição - Novembro 1988
REVISÃO DO CRISTIANISMO
J. Herculano Pires
Paideia - Segunda edição - 1983
JESUS DENTRO DO JUDAÍSMO
James H. Charlesworth
IMAGO EDITORA LTDA - 1992
QUEM MATOU JESUS?
John Dominic Crossan
Imago- 1995
OS EVANGELHOS GNOSTICOS
Elaine Pagels
Editora Cultrix
O EVANGELHO DE TOMÉ
Hermínio Miranda
Arte e Cultura-1991
HISTORIA DA FORMAÇÃO DO NOVO TESTAMENTO
Pinheiro Martins
Edições - CELD - 1993
O JULGAMENTO DE JESUS, O NAZARENO
Haim Cohn
Imago Editora
CRISTIANISMO E ESPIRITISMO
Leon Denis
FEB

 
Não consideramos o movimento cristão primitivo como constituindo um bloco monolítico de crenças e ritos e administrado por uma incontestável instituição. Entendemos o Cristianismo de hoje como originário de uma fusão de diversas crenças tendo o Judaísmo e o Mitraismo como pano de fundo, fragmentado, contraditório, tendo uma parte sob o jugo de um poder centralizador. Vemos um enorme abismo entre Jesus de Nazaré e Jesus Cristo: preferimos Jesus de Nazaré, este sim o anjo sideral. Mas isto não deve ser motivo de espanto, pois continuaremos (até que os espíritas possam compreender a diferença entre um e outro) nos referindo como Cristo ao Jesus de Nazaré.
 
Hermínio Miranda afirma que “Foi considerável o atrito entre as diversas correntes que disputavam a hegemonia do movimento cristão, como ainda hoje se pode observar dos veementes textos sobreviventes, de autoria de herisiologos de então, na defesa do que entendiam como princípios inegociáveis da única e verdadeira fé. O resultado de tais contendas ideológicas é que parece redobrar quando o debate combina as duas situações(...)”. Não podemos fugir do debate: a contenda intelectual ativa e equilibrada entre estudiosos sérios é imprescindível para evitarmos que irreparáveis equívocos sejam publicados em nome da Doutrina Espírita. Não podemos nos situar como donos da verdade: não queremos hegemonia.
 
Quando eu tinha cerca de 9 anos de idade, ao entrar na sala de aula do Instituto de Zootecnia, escola primaria agrícola (SITUADA EM ITAGUAI-RJ) fiquei embaraçado e chocado ao mesmo tempo com um quadro retratando Jesus irado e com um chicote. Estava acostumado aos ensinamentos Espíritas de minha mãe a respeito do Mestre Nazareno, quando aprendi a vê-lo como exemplo de ternura e amor. Foi um momento importante: descobri que havia algo de errado com aquele “Cristo”.


JESUS, O HOMEM – II
FLAGELAÇÃO – CRUCIFICAÇÃO – O MITO DA RESSURREIÇÃO



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Ano 3790 do calendário hebraico.
 
Período próximo à Páscoa dos Judeus.
 
Um dia como outro qualquer, a massa humana nas ruas movimentando-se de volta às suas aldeias, lugarejos, cidades e países – fato comum após as festividades. Os camponeses retornando às atividades normais de trabalho; coletores de impostos percorrendo as propriedades e casas para garantir a arrecadação nos valores exigidos para dar azo à ganância dos dominadores romanos; sacerdotes envolvidos com os assuntos do Templo de Jerusalém; os soldados romanos fazendo patrulha em grupo ora espancando algum desavisado que se põe no caminho, ora açoitando com a bainha da espada, pobres pedintes; mercadores oferecendo suas especiarias preocupados com os pesados tributos; prostitutas, pescadores e visitantes que aproveitaram o dia para comprar alguma coisa antes do retorno para seus lares, completavam o quadro vivo de uma nação dominada pela força imperialista romana. Cada qual entregue à sua atividade mundana. Provavelmente, algumas pessoas recorrendo à pouca movimentação das vielas e becos, evitando a soldadesca ou os olhares e ouvidos de cidadãos de pouca confiança, outras optaram por uma segurança maior, a ocultação em meio às plantações do campo ou o abrigo de prédios antigos em ruína, todas com um único objetivo: comentar os últimos acontecimentos  que culminaram com um tumulto desmedido, com a flagelação, humilhação e crucificação de um judeu apresentado como perturbador da ordem, uma ameaça à “paz” entre romanos e judeus. Um judeu conhecido como Yeshua ou Jesus para o nosso tempo foi aprisionado, levado e julgado de forma facciosa, condenado à morte  por ter desafiado com suas pregações, tanto o poder romano como os orgulhosos sacerdotes do Templo de Jerusalém. "A data era ideal para aquele que quisesse chamar a atenção de multidões para as suas idéias” segundo afirma Richard Horsley, professor de Ciência da Religião na Universidade de Massachusetts. “A festa tinha um forte conteúdo político, já que comemorava a libertação dos hebreus do Egito, que agora estavam sob o domínio dos romanos”. Ali estavam concentrados, num mesmo lugar, os ingredientes suficientes para uma revolta popular em grande escala. O poder romano sabia disso, conhecia os riscos que a festa representava e diante da impossibilidade de impedi-la – afinal era conveniente manter uma política de dominação mais pacifica possível – reforçava consideravelmente o contingente de soldados orientados para pronta intervenção em caso de qualquer ameaça de distúrbio de que natureza fosse e pronta dissolução de qualquer grupo em atitude suspeita; a presença ostensiva das forças militares desencorajava qualquer tentativa de manobra da massa humana. O resultado era, quase sempre, um exercício de poder que culminava com desmedida violência desferida muitas vezes contra inocentes.
 
Tácito, historiador romano – ano 55 d.C.  a  111 d.C.
 
Narra a história infame de Nero, o imperador romano de 54 a 58 da Era Cristã, acusando-o de ter provocado os grandes incêndios de Roma.
 
 “Para desviar as suspeitas procurou achar culpados, e castigou com as penas mais horrorosas a certos homens que, já dantes odiados por seus crimes, o vulgo chamava cristãos. O autor deste seu nome foi Christus, condenado ao último suplício no governo de Tibério pelo procurador Pôncio Pilatos. Sua perniciosa superstição, que até ali tinha estado reprimida, já tornava de novo a grassar não só por  toda a Judéia, estado reprimido e origem deste mal, mas até dentro de Roma, onde todas as atrocidades do universo, e tudo quanto de mais vergonhoso vem enfim acumular-se e sempre acha acolhimento”.
 
Outro relato importante é o de Flavio Josefo que serve para atestar que um homem judeu chamado Jesus, de fato viveu e constituiu problema tanto para o poder romano como para as autoridades religiosas do Templo de Jerusalém. Ele menciona Jesus de Nazaré em meio a uma lista de problemas que perturbavam as relações entre judeus e romanos quando Pilatos era governador – aproximadamente entre os anos 26 e 36. Uma observação atribuída a ele diz que “Pilatos, vendo que Jesus era acusado pelos nossos homens mais eminentes, condenou-o a ser crucificado. Esse relato de Josefo é confirmado pelos seguidores de Jesus. O Evangelho de Marcos, provavelmente a mais antiga narrativa do Novo Testamento – provavelmente no período de 70 a 80 – conta como Jesus, traído por Judas Iscariote certa noite no Jardim das Oliveiras, conhecido como Jardim de Getsêmani, Horto das Oliveiras ou Bosque das Oliveiras – era um pequeno estabelecimento agrícola, onde se faziam plantações de variados tipos de flores e vegetais para consumo caseiro com o aproveitamento da umidade e fertilidade do solo local; suas encostas eram cobertas de um pequeno bosque de árvores agradáveis, muitas delas frutíferas provavelmente, onde nascia o vale de Cedron. Do alto do Jardim, podia-se ver o rio Jordão cortando o solo para repousar no Mar Morto emoldurado pelas colinas da Galiléia - foi preso por soldados romanos enquanto seus discípulos fugiram." Sobre Jesus pesava a acusação de sedição e por este motivo ele foi condenado à morte. Crucificado, Jesus viveu ainda por algumas horas até que deixou escapar um grande grito vindo a morrer em seguida, segundo o relato de Marcos.
 
O relato apresentado por João é mais completo e  historicamente plausível entre todos que podemos considerar dos que se apresentam nos evangelhos canônicos. Diz ele que o aumento da popularidade de Jesus fizeram com que os chefes dos sacerdotes se reunissem em conselho no Sinédrio para discutirem os perigos de uma rebelião. Alguns dentre o povo já aclamavam Jesus como Messias (João 11:45-53) – o rei “ungido” que eles esperavam iria libertar Israel do imperialismo estrangeiro e restaurar o estado judaico. Mas intensamente, durante a Páscoa, quando muitos milhares de judeus afluíam a Jerusalém para as celebrações, esse ímpeto poderia inflamar sentimentos de nacionalismo hebreu, já latentes na cidade, e transformá-los numa revolta aberta. Ao Conselho cabia a responsabilidade de manter a paz entre a população judaica e o exército romano de ocupação – uma paz tão frágil que, cinco anos depois, quando um soldado romano de guarda durante a Páscoa manifestou seu desprezo expondo-se de forma indecente no pátio do templo, seu gesto provocou uma revolta em que, diz-se, 30.000 pessoas perderam a vida. Josefo conta essa história e acrescenta: “Assim a festa terminou em desgraça e desespero para toda a nação, e em cada lar houve perda de vida”.
 




(CONTINUA).....

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Re: Jesus, o homem.....3.. Albino A. C. de Novaes
« Responder #2 em: 14 de Abril de 2006, 16:22 »
(CONTINUAÇÂO)......



João restabelece a discussão do Conselho sobre Jesus: “Que faremos? Se o deixarmos assim?”
 
 “O povo manifestar-se-á em favor desse suposto novo rei judeu. E os romanos virão, destruindo nosso lugar santo e a nação. Caifás, o sumo sacerdote, propôs que se prendesse imediatamente um homem em vez de se colocar em risco toda a população”. Até João reconheceu a argúcia política desse raciocínio: seu evangelho foi escrito não muito tempo depois da insurreição de 66-70 contra Roma – que terminou no desastre completo que segundo ele, fora previsto por Caifás, com a destruição total do templo e da cidade de Jerusalém.
 
Nossa intenção é demonstrar com notas históricas produzidas com base nos documentos examinados e aceitos por pesquisadores especializados em História da Religião, a barbárie praticada no ato da crucificação de Jesus, tal como aconteceu com outros judeus antes e depois dele. No documento "A Guerra dos Judeus", p.2306 a 2308, encontramos uma outra anotação digna de ser mencionada: “Muitos cidadãos pacíficos foram presos e trazidos diante de FLORO, que primeiro mandou açoitá-los  e, em seguida, crucificá-los..." Floro ousou fazer naquele dia, o que ninguém tinha feito antes, ou seja, açoitar diante do seu tribunal e pregar na cruz homens de posto eqüestre; homens que, embora judeus por nascimento, dispunham pelo menos daquela dignidade romana. Mais uma referência, entre tantas outras, podemos citar como comprobatória de que a crucificação era uma prática romana adotada contra os judeus que incomodavam sua política de dominação. Ainda na mesma obra “Guerra dos Judeus” nas páginas 5446 a 5451: “Eles foram devidamente açoitados e submetidos a torturas de todo o tipo, antes de serem mortos, e, em seguida crucificados em frente às muralhas... quinhentos ou, algumas vezes mais, sendo capturados cada dia... os soldados furiosos e com ódio extremo, divertiam-se pregando seus prisioneiros em diferentes posições; tão grande era o número deles que não se podia achar espaço para cruzes, nem cruzes para os corpos.”
 
A tortura, o açoitamento e extrema humilhação eram atos que antecediam a crucificação romana, o requinte de perversidade e desprezo pela vida do judeu, revelava sadismo e crueldade postos a serviço da intimidação pública. Jesus foi um entre muitos outros judeus crucificados e não se livrou da flagelação que dilacerou sua carne, expondo pedaços separados do corpo pela violência sem limite dos açoites. A violência perpetrada contra Jesus era uma mistura de ódio à raça com o desprezo pelas tradições religiosas do dominado; a injustificada ferocidade contava ainda com um acréscimo em potencial: a suspeita de que Jesus pretendia o trono de Jerusalém, afinal durante as interpelações do julgamento a turba ensandecida vociferava: “Crucifiquem!... Crucifiquem o rei dos judeus!”.  O açoitamento ou flagelação era, como vimos, uma prática que fazia parte do processo de crucificação – brutal prelúdio da execução que se seguia à ofensa, ao escárnio imposto publicamente.
 
Nesses últimos dois mil anos, filósofos, teólogos, pintores, escultores, poetas, historiadores e agora mais modernamente alguns cineastas, fizeram relatos da vida de Jesus uma espécie de espelho a refletir um pouco da própria imagem; uma inequívoca contaminação dos fatos por vetores do conhecimento subjetivo que tem transformado a dramática flagelação em ato de poesia banal. Ao apresentarmos os fatos históricos que atestam uma visão realista do que aconteceu com Jesus, provocamos um conflito inevitável que pode culminar com o cisalhamento ou ruptura de um mito que reduz Deus à condição humílima e antropomórfica. Afinal Jesus não é Deus, sentiu na carne toda a ignomínia, todo o ódio, a violência perpetrada mais intensa; sentiu o calor do sangue a jorrar por todas as chagas abertas pelo chicote cortante, pela lança a dor calou o grito... Ele sofreu!
 
No mesmo período, os romanos crucificaram 10000 pessoas...
 
Por que Jesus não poderia ser flagelado, se o condenaram ao suplício mais feroz e infamante, como morte na cruz? Os castigos corporais eram, como vimos, de hábito comum entre os romanos; o chicote, um símbolo do seu poderio sobre os povos vencidos, e a flagelação, embora fosse um método bárbaro, consistia num corretivo tão comum entre os próprios cidadãos de um mesmo país, como o velho regime da chibata na época da escravidão no Brasil. Por acaso alguém desconhece a crucificação de um infeliz, após intensa flagelação, em uma favela do Rio de Janeiro não há muito tempo? Aos romanos pouco lhes importava a distinção entre prisioneiros vencidos ou escravos, pois não lhes minorava a pena e o tratamento o fato de serem pobres, ricos ou cultos, mas qualquer reação ao poder dominante punia-se pelo primeiro capataz ou soldado que se sentisse irado ou ofendido por qualquer resistência alheia. Diante disso, porque os que têm assistido as cenas de violência retratadas nas telas dos cinemas, no filme de Mel Gibson “O Julgamento de Jesus”, manifestam tanta revolta e horror, se no cotidiano podem estar acontecendo no mesmo momento? Pensam estar sendo violada a imagem de Deus?
 
O fato é que ocorreram cenas degradantes contra Jesus no pátio da prisão romana em todo o percurso até o local da crucificação, que não se ajustam à descrição melodramática dos evangelhos. Os Soldados romanos, como prepostos de Pôncio Pilatos, eram produtos da férrea disciplina de anos de preparo e de trabalho consecutivo como guerreiro a serviço da pátria romana, o que exigia destemor, coragem, altivez e uma dose acentuada de crueldade. No entanto, jamais desciam ao espetáculo circense de cuspir e esbofetear os prisioneiros, pois mantinham certo decoro nos seus atos e tudo faziam para não mancharem sua reputação de “homens superiores”.
 

O MITO DA RESSURREIÇÃO
 
Dra. Elaine Pagels – catedrática do Departamento de Religião do Barnard College da Universidade de Columbia:
 
“Jesus Cristo ressuscitou”. Com essa proclamação nasceu a igreja cristã.
 
 “Esse talvez seja o elemento fundamental da fé cristã; por certo é o mais radical. Outras religiões celebram ciclos de nascimento e morte: o cristianismo insiste que, num dado momento histórico único e singular, o ciclo se inverteu e um homem morto voltou à vida! Para os seguidores de Jesus, esse foi o ponto crítico da história do mundo e o sinal de que seu fim estar por vir. Desde então, os cristãos que se atêm à ortodoxia têm confessado em seu credo que Jesus de Nazaré, “crucificado, morto e sepultado”, ressuscitou “no terceiro dia”. Hoje muitos receitam esse credo sem pensar no que estão dizendo, alguns ministros, teólogos e estudiosos começaram a contestar essa leitura literal da ressurreição; e, para justificar tal doutrina, ressalta a atração psicológica que ela exerce sobre nossas esperanças e nossos medos mais profundos; para explicá-la, oferecem interpretações simbólicas.”
 
Mas boa parte da tradição primitiva insiste literalmente que um homem – Jesus – voltou à vida. O que torna esses relatos cristãos tão extraordinários não é o fato de os amigos de Jesus o terem “visto após sua morte" – histórias de fantasmas, alucinações, e visões eram ainda mais comuns naquela época do que nos dias de hoje. – e sim o de terem visto um ser humano de verdade. Segundo Lucas, a princípio os próprios discípulos, estupefatos e aterrorizados diante do aparecimento de Jesus em meio a eles, imediatamente supuseram estar diante do seu espírito. Mas Jesus insistiu: “Apalpem-me e entendam, pois um espírito não tem carne e ossos, como podem ver que tenho”. Como permanecessem incrédulos, ele pediu algo para comer; e, enquanto observavam-no maravilhados, Jesus comeu um pedaço de peixe assado. A mensagem é clara: nenhum espírito ou fantasma seria capaz disso.
 
Se houvessem dito que o espírito de Jesus continuava vivo, que ele havia sobrevivido à corrupção do corpo, seus contemporâneos talvez achassem que tais histórias fizessem sentido. Quinhentos anos antes, os discípulos de Sócrates haviam afirmado que a alma de seu mestre era imortal. Mas o que os cristãos declaravam era diferente e, em termos usuais, totalmente implausível. O caráter definitivo da morte que sempre fora parte da experiência humana, estava sendo transformado. Pedro contrasta o rei David, que morreu e foi enterrado, e cujo túmulo era bem conhecido, com Jesus, que, apesar de morto, ressuscitara do seu túmulo, “pois não era possível que ele fosse retido em poder da morte”. Lucas afirma que Pedro exclui interpretações metafóricas para o acontecimento que disse haver testemunhado: “Nos comemos e bebemos com ele após sua ressurreição entre os mortos”.
 
Prossegue Pagels em um outro trecho de sua explanação dizendo: “No entanto, alguns cristãos – aqueles que ele chama hereges – discordam. Sem negarem a ressurreição, eles rejeitam uma interpretação literal; alguns consideram tal interpretação ‘extremamente repulsiva e impossível’.“ Conforme podemos perceber, algumas facções cristãs interpretam a ressurreição de diversas maneiras. Alguns afirmam que a pessoa volta à vida; antes encontra-se  Cristo num plano espiritual. Isso pode ocorrer em sonhos, êxtases, em visões ou em momentos de iluminação espiritual. Precisamos prestar atenção também no que diz Lucas e Marcos onde os vemos contar que Jesus apareceu “em outra forma” não a sua forma terrena anterior, a dois discípulos que caminhavam na estrada para Emaús. Lucas diz que esses dois discípulos, profundamente perturbados pela morte de Jesus, conversaram com um forasteiro, aparentemente durante várias horas, e o convidaram para jantar. Só  quando o estranho sentou-se em sua companhia para abençoar o pão é que subitamente o reconheceram como sendo Jesus. Nesse momento, porém, “ele ficou invisível diante deles”. Imediatamente antes da passagem sobre a incredulidade de Tomé, João inclui outro episódio muito diferente: Maria Madalena, chorando por Jesus perto do sepulcro, vê um homem que ela confunde com o jardineiro. Quando ela a chama pelo nome, Maria subitamente reconhece a presença de Jesus – mas ele a ordena que não o toque.
 
O próprio Paulo não aceitava a ressurreição de Jesus como um dado histórico, mas apenas uma exigência de fé, posta em dúvida por muitos de seus seguidores. 
 
Toda a evidência que possuímos demonstra que não havia qualquer pensamento de ressurreição nas mentes dos discípulos, e que eram homens desesperançados na noite da primeira Sexta-Feira após a crucificação de Jesus. A manifestação de Jesus aos discípulos após a morte e sepultamento, constitui um problema que o conhecimento espírita pode explicar e que certamente contraria o pensamento da Ressurreição. Como vimos o problema da Ressurreição é muito grave do ponto de vista teológico, tão grave quanto a possibilidade de Jesus não ter sido batizado por João nas águas do rio Jordão como querem fazer supor alguns historiadores – João teria sido decapitado cerca de duas semanas antes de seu encontro com Jesus ter acontecido. Sem esses dois pressupostos toda a doutrina cristã se esfacela.
 
 
BIBLIOGRAFIA:
 F. Strauss – A Nova Vida de Jesus – 2 vols. Tradução da versão francesa de Nefftzer e Dollfus – de Helidoro Salgado – Ed. Lello – Porto – 1907
M. C. Hermínio – Cristianismo: a mensagem esquecida – Casa Editora O Clarim – 1ª edição – 1988
P. Elaine – Os Evangelhos Gnósticos – Editora Cultrix -10ª edição – 1979
Revista Época – nº 304 – edição de 15 de março de 2004
Super Interessante – Edição 183 – dezembro de 2002.
Dri. Rubem – A Utopia de Jesus – Fé e Política – Editora Ícone.
M. C. Miranda – O Evangelho de Tomé – Texto e Contexto – Arte e Cultura -1991
C. D. John – Quem Matou Jesus – as raízes do anti-semitismo na história evangélica da morte de Jesus – Editora Imago – 1995
H. C. James – Jesus dentro do Judaísmo – novas revelações a partir de estimulantes descobertas arqueológicas – Editora Imago - 1995



Fiquem bem

Abraceijos :-*

Luís

« Última modificação: 14 de Abril de 2006, 16:32 by luis costa »
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