Senhor, eu não sou digno de que entres na minha casa
▬ Mateus, 8:5-13
▬ Lucas, 7:1-10
Jesus retornavam a Cafarnaum, após o inesquecível Sermão da Montanha, nas proximidades da cidade, quando Jesus traçara as diretrizes básicas do comportamento cristão para edificação do Reino de Deus. Centurião era o oficial romano que comandava a centúria, destacamento militar composto de cem soldados.
O militar falou, respeitosamente:
▬ Senhor tenho em casa um servo que está de cama, com paralisia, sofrendo horrivelmente.
Como sempre, Jesus respondeu com brandura, ainda que diante de um inimigo da raça:
▬ Irei vê-lo.
O centurião adiantou:
▬ Senhor, eu não sou digno de que entres na minha casa; mas, dize uma só palavra e meu servo será curado, pois também eu, apesar de sujeito a outrem, digo a um dos meus soldados que tenho às minhas ordens: vai ali, e ele vai; e a outro: vem cá, e ele vem; e a meu servo: faze isso, e ele faz.
Singular o comportamento daquele preposto de César. Demonstrou invulgar interesse por simples servo e se dispôs a pedir auxílio a um judeu, embora sabendo da aversão que aquele povo altivo nutria pelos romanos. Podendo ordenar que seus soldados conduzissem Jesus à sua presença, preferiu ir ao seu encontro e, renunciando às prerrogativas do cargo, falou-lhe com humildade. Suas ponderações revelam um espírito sensível, dotado de fé, fato digno de admiração, principalmente por tratar-se de um pagão. E libera Jesus do constrangimento de ir à sua casa.
Observando tão grande convicção, proclamou Jesus:
▬ Em verdade, em verdade, vos afirmo que nem mesmo em Israel encontrei semelhante fé. Também vos digo que muitos virão do Oriente e do Ocidente, e sentar-se-ão no Reino dos Céus com Abraão, Isaac e Jacó, enquanto que os filhos do Reino serão lançados nas trevas exteriores. E ali haverá choro e ranger de dentes.
Abraão, Isaac e Jacó foram os patriarcas mais importantes do povo judeu. A proclamação de que os filhos de outras terras estariam com eles, enquanto muitos judeus enfrentariam estágios de sofrimento, é significativa. Com desassombro, Jesus empenhava-se em modificar arraigadas concepções da raça. Exclusivistas, os judeus julgavam-se detentores das preferências divinas, situando por desprezíveis as convicções alheias. A intolerância religiosa é absurdo inconcebível.
▬ Se a finalidade da religião é nos conduzir a Deus; se o Criador é o pai de todos nós, por que cultivar desentendimentos em nome da crença?
Deus não tem preferências! Somos todos seus filhos.
Infelizmente, o Cristianismo, após três séculos de pureza, seguiu idêntico caminho, embora Jesus deixasse claro, nesta passagem, que seus discípulos viriam do Oriente e do Ocidente, isto é, seriam sempre e unicamente aqueles que vivenciassem seus ensinamentos, não importando nacionalidade, raça ou crença.
Encerrando o diálogo, Jesus disse ao centurião:
▬ Vai, e como creste, assim seja feito.
Mateus informa:
Naquela mesma tarde o servo do centurião foi curado. Usando de seus prodigiosos poderes Jesus surpreendia seus seguidores com uma cura à distância. O episódio evoca tema fascinante – a intercessão, a possibilidade de intervir por alguém em suas limitações, dores e dificuldades. Aparentemente contraria a Lei de Causa e Efeito, segundo a qual colhemos de conformidade com a semeadura.
Impossível dar aos criminosos confinados numa prisão o benefício que mais almejam: a liberdade
▬ Se alguém está doente ou enfrenta problemas para resgatar dívidas e evoluir, será lícito ajudá-lo?
Ponderação razoável, mas imperioso não esquecer:
A justiça divina impõe que cada um receba conforme suas obras, mas a divina misericórdia determina que todos os sofrimentos sejam amenizados na hora do resgate. Aqui entra a intercessão, em que nos situamos por instrumentos da ação misericordiosa de Deus.
Obviamente, o alcance da intercessão também está subordinado à Lei de Causa
Alguém é muito rico.
Propõe-se a ajudar um amigo com câncer. Mobiliza os melhores recursos da Medicina. Despende uma fortuna com sofisticados tratamentos. No entanto, a doença evolui inexoravelmente. Meses depois, o doente desencarna, cumprindo penoso resgate do pretérito. Apesar de ampla e poderosa, a intercessão pouco valeu. Os recursos mobilizados proporcionaram-lhe conforto, amenizaram suas dores, mas ele passou pelo que tinha de passar, atendendo às sanções da Lei Divina.
Invertamos a situação.
O intercessor é pobre.
Sem recursos, mas com boa vontade, com sacrifício de suas economias, compra um medicamento feito de ervas, vendido em cidade distante, para tratamento do câncer. O doente toma o remédio e obtém milagrosa cura. A ajuda oferecida foi mínima, mas inteiramente assimilada, transformando-se em veículo de sua recuperação, isto porque o paciente possuía méritos que lhe conferiam a possibilidade de cura. No episódio evangélico conjugaram-se a intercessão do centurião, o merecimento do servo e os prodigiosos poderes de Jesus.
O leitor amigo estará matutando:
▬ De que vale o esforço por ajudar alguém, se o aproveitamento estará condicionado ao seu merecimento?
Mas é justamente por não sabemos dos méritos alheios que somos chamados a fazer o melhor por aqueles que nos rodeiam. Se as circunstâncias nos colocam em posição de ajudar, seja o pobre, o doente, o amigo, o familiar, certamente ele foi encaminhado até nós para que o socorramos. Ainda que impossibilitados de livrá-lo do carma, ainda que seja impossível retirar-lhe a cruz, poderemos colocar abençoada almofada sobre seus ombros.
Há que se considerar, ainda, algo sumamente importante:
O exemplo: Impossível dar aos criminosos confinados numa prisão o benefício que mais almejam: a liberdade. Estão pagando por seus crimes. No entanto, podemos prepará-los para um futuro melhor, sensibilizando-os com a nossa visita, as manifestações de solidariedade, o convite ao estudo e à oração, o empenho por melhorar sua existência e minorar seus padecimentos.
Por mais endurecido e impenitente seja o indivíduo, não resistirá à força do Bem, quando estivermos dispostos a exercitar bondade com ele.
A Justiça Divina impõe educativo resgate àquele que se envolve com o mal. Mas Divino Amor, que ajuda sempre, sem questionar méritos, influirá decisivamente na sua redenção. Considerando a posição da Terra há dois mil anos, uma prisão de segurança máxima (jamais um prisioneiro daqui escapou), onde resgatamos débitos contraídos pelo egoísmo, não merecíamos a presença de Jesus.
Ainda assim, o Mestre veio.
Veio para nos ensinar o altruísmo, que transforma a prisão em abençoado lar. Há que se considerar, ainda, que também estamos sob a regência da Lei de Causa e Efeito.
Não nos compete, portanto, inquirir se o necessitado merece a ajuda que lhe prestamos. Convém fazer o melhor por ele, acumulando créditos espirituais que amenizem nossas provações e favoreçam glorioso futuro para nós. Os benefícios que estendemos ao próximo é investimento de bênçãos para nós.
Jesus assim enfatizou, ao proclamar:
▬ A cada um segundo as suas obras.
DO LIVRO:
TUA FÉ TE SALVOU!
RICHARD SIMONETTI.