625. Qual o tipo mais perfeito que Deus tem oferecido ao homem, para lhe servir de guia e modelo?
“Jesus.” (1)

Jesus afirma que não viera para destruir a Lei. Essa afirmação do Mestre denota a consciência que Ele tem da Sua sublimidade.
Sabia que o que Ele faria, o que Ele falaria, o que Ele ensinaria causaria tamanha agitação nos ânimos que muitos poderiam considerar que Ele tinha poderes sobrenaturais, em outras palavras, que derrogaria as Leis Naturais.

Aliás, esse pensamento perdura ainda hoje, entre os que defendem a existência de milagres.

As leis se dividem, entretanto, em duas: as Naturais e as Humanas. As primeiras são inderrogáveis, mas, a fantasia natural da nossa infância evolutiva considerava que Jesus as manipularia ao Seu bel-prazer.
As segundas modificam-se com a evolução humana. Modificação não significa derrogação, mas adaptação a um novo paradigma.

Jesus não infringiu as Leis Naturais nem as Humanas. Disse Ele: “Tudo o que faço, vós também o fareis, e ainda mais” (2) ou seja, o que Jesus fez é Legal, basta que nos capacitemos e faremos o que Ele fez; e disse ainda:“Daí a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”,(3) – cumpra-se as Leis Sociais como se deve cumprir as Naturais.

Quanto as Leis Humanas promulgadas por Moisés, o Mestre as modificou profundamente ao ensinar que a Justiça que prevalece no Pentateuco Judaico deve ser exercida com amor.

Amor; a nova revelação que Ele trazia. As leis do princípio material e, ainda, as humanas são regidas pela justiça; as do princípio espiritual são pela Justiça com Amor.

“Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu espírito; este o maior e o primeiro mandamento. E aqui tendes o segundo, semelhante a esse: Amarás o teu próximo, como a ti mesmo. - Toda a lei e os profetas se acham contidos nesses dois mandamentos.” (4) ensinou o Mestre.

Mas Jesus não dissera tudo. O homem não tinha cabedal suficiente para suportar tudo que Ele poderia ensinar. Era necessário o crescimento humano através dos séculos, o amadurecimento da têmpera do homem, para que os Seus ensinamentos fossem adaptados ao um novo patamar.

Jesus trouxe a Segunda Revelação.


(1) O Livro dos Espíritos
(2) O Evangelho Segundo João: XIV, vv 2
(3) O Evangelho Segundo Mateus: XXII, vv 21
(4) O Evangelho Segundo Mateus: XXII, vv. 34 a 40.

O pensamento sectarista já não tem lugar mais entre os homens.
Essa intransigência nascida do orgulho exclusivista é que causa o comportamento separatista entre os homens.

No campo do conhecimento e da condução da humanidade, a Ciência e a Religião eram antagonistas. Cada uma defendia para si o monopólio da verdade.

A religião pretensamente ligada diretamente a Deus arvorava-se em possuidora da Verdade Inconteste; dogmaticamente; as Ciências à luz da Razão demonstrava-lhes os erros e as desprezava atribuindo a si o cetro de condutora dos homens.

Ambas, no entanto, caminhavam sem Deus.

O espiritismo, a nova Ciência da alma, compatibilizando Ciência, Filosofia e Religião é o traço de união entre todas essas fontes de conhecimento ao demonstrar por meio de fatos irrecusáveis que as Leis da Matéria e as do Espírito tem a mesma Causa. A essa Origem Comum, todos os homens, cientistas, religiosos e filósofos, reverenciam-Lhe a Sabedoria e A denominam de Deus.

Para todo efeito existe uma causa, é o axioma Científico, (1) para todo efeito inteligente há uma causa inteligente aduz o Espiritismo. É incontestável a Inteligência das Leis que regem o mundo material e não menos as do plano espiritual.

O Espiritismo vem revelar que existe uma “Inteligência suprema, causa primária de todas as coisas”(2), portanto, esse Criador Supremo nada cria sem uma finalidade e sabedoria. O homem não compreende essencialmente essa Inteligência Suprema que a tudo cria com perfeição, pois “lhe falta o sentido” (3) mas a sua razão atual já lhe permite admiti-Lo.

A Doutrina Espírita não estabelece posição metafísica. Não pretende explicar Deus, espaço, tempo. Revela a mediunidade, conquista oriunda do aprimoramento intelectual e moral do homem, através da qual se pode comprovar que as Leis de Causa e Efeito vigem para o princípio espiritual tanto quanto para o princípio material.

Ciência e Religião se unem. Tudo é Divino, toda a natureza trabalha em favor do homem.
Amor, palavra que o homem intui para a identificar a energia emanante da Divindade, que a tudo prevê.

Consciente de sua integração à natureza e da perfectibilidade determinística, o ser quebra as algemas que o prendiam ao medo, à punição, ao desconhecido e alça vôo individual, por si mesmo, livre, rumo ao seu destino. Tem por objetivo atingir o reino Angelical, se assim poderíamos denominar o estágio onde as necessidades do mundo material estariam superadas.

Apoiadas mutuamente, Ciência que entroniza a razão, Religião que aprimora o sentimento e Filosofia que direciona raciocínios e desvenda caminhos, esse tripé, erige-se como o caminho de luz que conduz o homem a sublimação de si mesmo.


(1) O Livro dos Espíritos – perg. 4
(2) O Livro dos Espíritos – perg. 1
(3) O Livro dos Espíritos – perg. 10