Então Jesus chamou os discípulos e disse: “Eu garanto a vocês: essa viúva pobre depositou mais do que todos os outros que depositaram moedas no cofre das ofertas. Porque todos depositaram do que estava sobrando para eles. Mas a viúva, na sua pobreza, depositou tudo o que tinha, tudo o que possuía para viver”. Mc, 12: 43-44

                É louvável a intenção de quem deseja enriquecer para mais e melhor ajudar os pobres. Será, porém, totalmente desinteressada? Se conseguisse de fato a fortuna, não pensaria primeiro em satisfazer a si mesmo – ainda que sob a condição de dar o restante aos mais necessitados –, proporcionando-se um pouco do supérfluo que lhe falta? Essa intenção egoísta, disfarçada no fundo do coração, anula o mérito da caridosa intenção expressa.

                Muitos confundem caridade com esmola. Há, no entanto, entre uma e outra, grande diferença. A esmola é útil porque alivia materialmente os pobres, mas é quase sempre humilhante tanto para o que a faz quanto para o que a recebe. A caridade, ao contrário, liga o benfeitor e o beneficiado e pode ser disfarçada de tantas maneiras!

                É preciso parar, pois, de lamentar a falta de recursos financeiros para fazer o bem, ou de sonhar com meios fáceis de fazer fortuna para, então, ajudar os pobres! Melhor fará cada um se buscar esses recursos no próprio trabalho, no emprego de suas forças, de sua inteligência, de seus talentos. Se não é possível fazer tanto bem quanto sinceramente se gostaria, que se faça o bem possível. Afinal, quem dá tirando do que lhe faz falta tem mais mérito aos olhos de Deus do que aquele que dá do que lhe sobra, sem se privar de nada.

                Há uma caridade que cada um pode praticar independentemente de sua condição financeira, porque nada custa materialmente: a caridade moral. Ela pode ser feita em pensamentos (quando oramos pelo pobres e marginalizados, por exemplo); em palavras (quando damos bons conselhos, esclarecemos os descrentes e incentivamos os desesperançados); e em ações (quando testemunhamos nossa fé pela coerência entre nossas palavras e nossas atitudes).

                Pode-se ser caridoso pela indulgência para com os outros, perdoando suas fraquezas, cuidando de não ferir o amor-próprio de ninguém; os espíritas, particularmente, respeitando aqueles que não pensam como eles, embora suavemente, pelo acolhimento e pelo testemunho, possam conduzi-los à fé na doutrina.

                Além do mais, quem deseja de fato ser útil encontrará inúmeras ocasiões de fazê-lo. Não há ninguém que, em pleno uso de suas faculdades, não possa prestar um serviço, consolar um aflito, abrandar um sofrimento físico ou moral. Na falta do dinheiro, cada um pode dar uma parte de seu trabalho, de seu tempo, de seu repouso.

                Todos podem dar. Em qualquer situação que estiverem, todos têm alguma coisa a partilhar. Todos os que podem produzir, podem também transformar parte de sua produtividade em dinheiro para socorrer os mais pobres ou em alimentos, roupas e calçados com que aliviar suas necessidades básicas.

Allan Kardec,
O Evangelho segundo o Espiritismo,
Capítulo XIII.