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macili · « **em:** 16 de Dezembro de 2015, 00:15 »

O temor da morte

O temor da morte pode ser analisado sob dois enfoques: o de ocorr�ncia natural irrevers�vel, consoante ao cessamento das atividades biol�gicas do corpo f�sico, ou o de experi�ncia espec�fica relacionada � exist�ncia humana. Como fato natural, a sociedade possui procedimentos m�dicos e legais que atestam o falecimento. O destino dado aos despojos f�sicos faz parte das tradi��es culturais dos povos, manifestadas nas cerim�nias f�nebres de sepultamento ou crema��o do cad�ver.

Em sua rela��o espec�fica com a exist�ncia humana a morte pode ser entendida:

como in�cio de um ciclo de vida;
como fim de um ciclo de vida;
como possibilidade existencial.

[�] A morte � entendida como in�cio de um ciclo de vida por muitas doutrinas que admitem a imortalidade da alma. [�]

O conceito de morte como fim do ciclo de vida foi expresso de v�rias formas pelos fil�sofos. Marcos Aur�lio considerava-a como repouso ou cessa��o das preocupa��es da vida. [�]

O conceito de morte como possibilidade existencial implica que a morte n�o � um acontecimento particular, situ�vel no in�cio ou t�rmino de um ciclo de vida do homem, mas uma possibilidade sempre presente na vida humana, capaz de determinar as caracter�sticas fundamentais desta. [�]�

Em geral, o temor da morte est� associado � expectativa de um poss�vel sofrimento que esta acarretaria. Soma-se a este fato o desconhecimento ou desinforma��es equivocadas a respeito da realidade extraf�sica para onde o Esp�rito se transfere, ap�s a desencarna��o.

Para o Espiritismo,

A extin��o da vida org�nica resulta da separa��o da alma em consequ�ncia da ruptura do la�o flu�dico [perispiritual] que a une ao corpo. Essa separa��o, contudo, nunca � brusca; o fluido perispir�tico s� pouco a pouco se desprende de todos os �rg�os, de sorte que a separa��o s� � completa e absoluta quando n�o reste mais nem um �tomo de perisp�rito ligado � mol�cula do corpo. [�]�

Em O livro dos esp�ritos, Allan Kardec apresenta outras considera��es relacionadas ao assunto:

Durante a vida, o corpo recebe as impress�es exteriores e as transmite ao Esp�rito por interm�dio do perisp�rito, que constitui, provavelmente, o que se chama fluido nervoso. Uma vez morto, o corpo nada mais sente, visto n�o haver mais nele Esp�rito, nem perisp�rito. [�] Ora, n�o sendo o perisp�rito, na realidade, mais do que simples agente de transmiss�o, pois � o Esp�rito que possui a consci�ncia, deduz-se que, se pudesse existir perisp�rito sem Esp�rito, aquele n�o sentiria mais que um corpo morto. Do mesmo modo, se o Esp�rito n�o tivesse perisp�rito, seria inacess�vel a toda sensa��o dolorosa. [�]�

Interpreta��es filos�ficas e cren�as religiosas equivocadas, ou distorcidas, muito t�m contribu�do para o medo da morte, como esclarece Emmanuel:

Te�logos eminentes, tentando harmonizar interesses temporais e espirituais, obscureceram o problema da morte, impondo sombrias perspectivas � simples solu��o que lhe � pr�pria.

Muitos deles situaram as almas em determinadas zonas de puni��o ou de expurgo, como se fossem absolutos senhores dos elementos indispens�veis � an�lise definitiva. Declararam outros que, no instante da grande transi��o, submerge-se o homem num sono indefin�vel at� o dia derradeiro consagrado ao Ju�zo Final.

Hoje, no entanto, reconhece a intelig�ncia humana que a l�gica evolveu com todas as possibilidades de observa��o e racioc�nio. [�]

Como qualificar a pretens�o daqueles que designam vizinhos e conhecidos para o inferno ilimitado no tempo? Como acreditar permane�am adormecidos milh�es de criaturas, aguardando o minuto decisivo de julgamento, quando o pr�prio Jesus se afirma em atividade incessante?

Os argumentos teol�gicos s�o respeit�veis; no entanto, n�o deveremos desprezar a simplicidade da l�gica humana.

[�] Somos almas, em fun��o de aperfei�oamento, e, al�m do t�mulo, encontramos a continua��o do esfor�o e da vida.4

O entendimento da morte e do morrer contribui, e muito, para a nossa melhoria espiritual, afirma Elisabeth K�bler-Ross (1926-2004), conhecida psiquiatra su��a, naturalizada americana, profunda conhecedora do tema morte, a respeito do qual escreveu v�rios livros. Elisabeth considera o conhecimento sobre a morte uma necessidade evolutiva:

Embora possa parecer estranho, um dos caminhos mais produtivos para a evolu��o � encontrado atrav�s do estudo e da experi�ncia da morte. Talvez a morte nos lembre que o nosso tempo � limitado e que � melhor realizarmos os nossos objetivos aqui na Terra antes que ela se esgote. Seja qual for a raz�o, indiv�duos que tiveram a sorte de compartilhar a morte de algu�m que lhe compreendeu o significado parecem mais bem capacitados a viver e evoluir devido a sua experi�ncia. Aqueles imersos na trag�dia de mortes maci�as durante a guerra, e que enfrentaram isso com retid�o, n�o permitindo a seus sentidos e sentimentos que se tornassem entorpecidos e indiferentes, emergiram de suas experi�ncias com evolu��o e humanidade maiores que os que o conseguiram atrav�s de quaisquer outros meios.5

A educa��o para a morte fornece condi��es a que se enfrente com serenidade e coragem o momento final da experi�ncia reencarnat�ria. Tem o poder de estimular o pr�prio processo de espiritualiza��o, favorecido pelo desenvolvimento de virtudes e pelo combate �s imperfei��es. Neste contexto, o indiv�duo passa a compreender, ent�o, como a vida no plano f�sico � passageira e quanto � nocivo o apego aos bens materiais, como bem assinala o Esp�rito Lacordaire:

O amor aos bens terrenos � um dos mais fortes entraves ao vosso adiantamento moral e espiritual. Pelo apego � posse de tais bens, destru�s as vossas faculdades de amar, ao aplic�-las, todas, �s coisas materiais. [�]6

Em s�ntese:

A vida espiritual �, realmente, a verdadeira vida, � a vida normal do Esp�rito; sua exist�ncia terrestre � transit�ria e passageira, esp�cie de morte, se comparada ao esplendor e atividade da vida espiritual. O corpo n�o passa de vestimenta grosseira que reveste temporariamente o Esp�rito, verdadeiro grilh�o que o prende � gleba terrena, do qual ele se sente feliz em libertar-se. [�]7

Refer�ncias:

1 ABBAGNANO, Nicola. Dicion�rio de filosofia. Trad. Alfredo Bosi e Ivone Castillo Benedetti. 4. ed. S�o Paulo: Martins Fontes, 2000. p. 684-685.
2 KARDEC, Allan. O c�u e o inferno. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. 1. imp. Bras�lia: FEB, 2013. pt. 2, cap. 1, it. 4, p. 156.
3 ____. O livro dos esp�ritos. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 4. ed. 2. imp. Bras�lia: FEB, 2014. q. 257, p. 160.
4 XAVIER, Francisco C. Caminho, verdade e vida. Pelo Esp�rito Emmanuel. 9. imp. Bras�lia: FEB, 2015. cap. 68, p. 151-152.
5 K�BLER-ROSS, Elisabeth. Morte: est�gio final da evolu��o. Trad. Ana Maria Coelho. 2. ed. Rio de Janeiro: Record, 1996. cap. 5, p. 161-162.
6 KARDEC, Allan. O evangelho segundo o espiritismo. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. 2. imp. Bras�lia: FEB, 2014. cap. 16, it. 14, p. 220.
7 ____. ____. cap. 23, it. 8, p. 285.

por Marta Antunes Moura
Revista Reformador

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macili

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Otaviano Lage

Re: O temor da morte

SimonB

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