O vento balançava docemente os galhos de cipreste, fazendo-os dançar ao sabor do acaso,
Folhas verdes coloriam os ramos e pintavam o horizonte com a aquarela da natureza,
fazendo contraste com as pardas folhas que jaziam ao chão, vítimas do tempo que passou.
Um cheiro de terra molhada enchia as narinas dos animais que passavam apressados,
destinados à beber da fonte fresca que se oferecia à eles, numa rápida permissão
seguida pela presença dos maiores, dos famintos e predadores.
 
Num esvoaçar rápido e frenético, os pássaros amarelos se amontoavam num galho e cantavam, todos os dias, pela manhã.
Seu canto era uníssono, as notas eram gorgeios orquestrados pelo pássaro amarelo, grande e imponente, que no alto da sua experiência, guiava os mais novos na arte de ilustrar o silêncio ao seu redor.
O riacho corria ansioso, esperando pela manhã, que trazia o canto doce dos pássaros,
Os arbustos balançavam ao vento, aguardando o momento de ouvir tão lindo canto.
Os pequenos animais se agrupavam ao redor da grande pedra, combinados naquela audição matinal.
Numa fria manhã, um pássaro azul pousou no galho, com sua cor brilhante destoando do amarelo, da multidão de pássaros que cantava como nunca.
Seu canto era suave mas forte, doce mas potente e sua presença no galho da cantoria,
Mostrou ao entorno que existiam outras cores, outras notas, outros cantos.
Os pássaros amarelos, senhores da manhã, tentaram afugentá-lo hostilizando-o,
Mas Azul era convicto do seu canto e não se abalou, cantava mesmo assim.
Demonstrando sabedoria, cantou no rítmo dos amarelos, agrupando todos numa só equipe,
Mas incapazes de dividir, ignoraram seu canto, numa clara vontade de espulsá-lo do galho.
O Grande Amarelo, relutante e contrariado, tentou calar o canto do Azul,
Abria as asas, bicava o galho numa demonstração de força, mas que se percebia,
Tratar-se do mêdo de perder a batuta, de não ser mais absoluto na pauta matinal.
Com toda a sua experiência, o Pássaro Azul encheu o peito com o fresco ar da manhã
E calou-se, quando toda a platéia esperava ouvir um canto.
Voando para longe, misturou-se aos outros Azuis, e juntos entoaram a sinfonia da amizade,
Da alegria e do sabor de viver a liberdade, cantando para a natureza.