Forum Espirita

*
  • Moderadores
  • Regras
  • Sobre
  • FAQs
  • Contactos
Por favor Entre ou registe-se.

Entrar com nome de utilizador, password e duração da sessão
  • Início
  • Pesquisa
  • Contato
  • Salas de Chat
  • Entrar
  • Registe-se
  • Forum Espirita »
  • GERAL »
  • Outros Temas »
  • Livros Espíritas »
  • Obras Póstumas |Allan Kardec 📘

Aumentar pontos de Participação:  
O que pensa sobre esta mensagem?
Gostei Não gostei  
Comentar:

« anterior seguinte »
  • Imprimir
Páginas: 1 2 [3] 4 5 ... 8   Ir para o fundo

Autor Tópico: Obras Póstumas |Allan Kardec 📘  (Lida 16088 vezes)

0 Membros e 1 Visitante estão a ver este tópico.

Offline Edna☼

  • Mundo Divino
  • *
  • Mensagens: 10838
  • Participação: 1418
  • Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!
  • Sexo: Feminino
  • Leia Kardec para entender Jesus. ♥ (a.d.)
  • Relevância: +1761
Re: Obras Póstumas |Allan Kardec 📘
« Responder #30 em: 24 de Abril de 2020, 22:21 »
0Gostou?
A faculdade de expansão dos fluidos perispirituais está hoje superabundantemente demonstrada pelas operações cirúrgicas, as mais dolorosas, realizadas sobre enfermos adormecidos, seja pelo clorofórmio e o éter, seja pelo magnetismo animal. Não é raro, com efeito, ver estes últimos conversando com os assistentes sobre coisas agradáveis ou alegres, ou se transportando ao longe em Espírito, enquanto que o corpo se retorce com todas as aparências de horríveis torturas; a máquina humana, imobilizada no todo ou e m parte, se dilacera sob o escalpelo brutal do cirurgião, os músculos se agitam, os nervos se crispam e transmitem a sensação ao aparelho cérebro-espinhal; mas a alma, que no estado normal percebe só a dor e a manifesta exteriormente, momentaneamente afastada do corpo submetido à impressão, dominada por outros pensamentos, por outras ações, não é senão surdamente advertida do que se passa no seu envoltório mortal e nele permanece perfeitamente insensível. Quantas vezes não se viram soldados feridos gravemente, todo ao ardor do combate, perdendo seu sangue e sua força, lutar por muito tempo ainda, não se apercebendo de suas feridas? Um homem, fortemente preocupado, recebe um choque violento sem nada sentir -lhe, e não é senão quando cessa a abstração de sua inteligência que ele reconhece haver estado chocado à sensação dolorosa que prova. A quem não ocorreu, numa poderosa contenção do Espírito, de atravessar uma multidão tumultuosa e barulhenta, sem nada ver e sem nada ouvir, se bem que, entretanto, o nervo óptico e o aparelho auditivo tivessem percebido as sensações e as tivesse transmitido fielmente à alma?

Disso não se pode duvidar, pelos exemplos que precedem e por uma multidão de fatos que seria muito longo relacionar aqui, mas que cada um está no caso de apreciar, o corpo pode, de uma parte, cumprir as suas funções orgânicas, ao passo que o Espírito é levado ao longe pelas preocupações de uma outra ordem. O perispírito, indefinidamente expansível, conservando ao corpo a elasticidade e a atividade necessárias à sua existência, acompanha constantemente o Espírito durante a sua viagem distante no mundo ideal.

Se nos lembrarmos, além disso, de sua propriedade muito conhecida de condensação, que lhe permite tornar-se visível sob as aparências corpóreas para os médiuns videntes, e mais raramente para quem se encontre presente no lugar para onde se transportou o Espírito, não se poderá mais colocar em dúvida a possibilidade dos fenômenos da ubiquidade.

Está, pois, para nós demonstrado que uma pessoa viva pode aparecer, simultaneamente, em duas localidades distantes uma da outra; de uma parte com o seu corpo real, de outra com o seu perispírito momentaneamente condensado, sob as aparências de suas formas materiais. Não obstante, nisso de acordo, como sempre, com Allan Kardec, não podemos admitir a ubiquidade senão quando reconhecemos uma semelhança perfeita na atuação do ser aparente. Tais são, por exemplo, os fatos citados precedentemente sob os n os. 1 e 2. Quanto aos fatos seguintes, inexplicáveis para nós, se lhes aplicando a teoria de ubiquidade, nos parecem, senão indiscutíveis, pelo menos admissíveis encarando -os de um outro ponto de vista.

Nenhum dos nossos leitores ignora a faculdade, que possuem certos Espíritos desencarnados, de aparecer, sob as aparências materiais, em certas circunstâncias e mais particularmente aos médiuns ditos videntes. Entretanto, num certo número de casos, tais como nas aparições visíveis e tangíveis para uma multidão, ou p ara um certo número de pessoas, é evidente que a percepção da aparição não é devida à faculdade mediúnica dos assistentes, mas à realidade da aparência corpórea do Espírito, e, nessa circunstância como nos fatos da ubiquidade, essa aparência corpórea é devida à condensação do aparelho perispiritual. Ora, se o mais frequentemente os Espíritos, no objetivo de se fazer reconhecerem, aparecem tais como eram quando vivos, com as vestes que lhes eram mais habituais, não lhes é impossível se apresentarem, seja vestidos diferentemente, seja mesmo sob quaisquer traços, tal, por exemplo, o Duende de Bayonne, aparecendo, ora sob a sua forma pessoal, ora sob os traços de um de seus irmãos, morto como ele, ora sob as aparências de pessoas vivas e mesmo presentes. O Espírito tinha o cuidado de fazer reconhecer a sua identidade, apesar das formas variadas sob as quais se apresentava; mas não tivesse nada feito, não é evidente que as testemunhas da manifestação estariam persuadidas de que assistiam a um fenômeno de ubiquidade?

Se, considerando-se como um precedente esse fato, que está longe de ser isolado, procurarmos explicar do mesmo modo os fatos n os. 3, 4, 5, 6, 8 e 9, nos será talvez possível aceitar-lhes a realidade, ao passo que lhes admitindo a ubiquidade, a incompatibilidade de pensamentos, o antagonismo dos sentimentos e da atividade do organismo das duas partes, não nos permitem, de nenhum modo, olhá-los como possíveis.

No fato nº. 4, em lugar de supor o professor Becker em presença de seu sósia, admitamos que ele concordou que um Espírito lhe aparecesse sob a sua própria forma, todo antagonismo desaparece e o fenômeno entra no domínio do possível. Ocorre o mesmo com o fato nº. 7. Não se compreende Elisabeth da Rússia fazendo atirar sobre a sua própria imagem, mas admite-se perfeitamente que ela faça atirar sobre um Espírito que tomou a sua aparência para mistificá-la. Certos Espíritos tomam, às vezes, um nome suposto, e se enfeitam com o estilo e as formas de um outro para obterem a confiança dos médiuns e o acesso aos grupos; que haveria de impossível nisso, que um Espírito orgulhoso se prestasse a tomar a forma da imperatriz Elisabeth e sentar -se no seu trono para dar uma vã satisfação aos seus sonhos ambiciosos? E assim nos outros casos.

Não damos esta explicação senão por aquilo que ela vale; essa não é, aos nossos olhos, senão uma suposição bastante plausível, e não a solução real dos fatos; mas, tal como é, nos pareceu de natureza a esclarecer a questão chamando sobre ela as luzes da discussão e da refutação. É a esse título que a submetemos aos nossos leitores. Possam as reflexões que ela provocará, as meditações às quais poderá dar lugar, cooperar para a elucidação de um problema que não pudemos senão esflorar, deixando aos mais dignos dissiparem a obscuridade da qual ainda está cercado.  (Nota da Redação.)


« Última modificação: 25 de Abril de 2020, 01:31 by Edna☼ »
Registado
Tudo que realmente é verdadeiro é eterno! Como o amor, os ensinamentos...e a nossa vida! ♥

Offline Edna☼

  • Mundo Divino
  • *
  • Mensagens: 10838
  • Participação: 1418
  • Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!
  • Sexo: Feminino
  • Leia Kardec para entender Jesus. ♥ (a.d.)
  • Relevância: +1761
Re: Obras Póstumas |Allan Kardec 📘
« Responder #31 em: 28 de Abril de 2020, 19:44 »
0Gostou?
1ª parte

Controvérsias sobre a ideia da existência de seres intermediários entre o homem e Deus


N., 4 de fevereiro de 1867.

Caro Mestre,

Há algum tempo que não dou sinal de vida; tendo estado ocupado todo o tempo da minha permanência em Lyon, não pude dar -me uma conta tão perfeita, quanto gostaria, do estado atual da Doutrina nesse grande centro. Não assisti senão a uma únic a sessão espírita; entretanto, pude constatar que, nesse meio, a fé primeira é sempre o que ela deve ser nos corações verdadeiramente sinceros.

Em diferentes outros centros do Sul, ouvi discutir esta opinião, emitida por alguns magnetizadores, de que muit os dos fenômenos, ditos espíritas, são simplesmente efeitos de sonambulismo, e que o Espiritismo não faz senão substituir o magnetismo, ou antes, vestiu -se com o seu nome. É, como vedes, um novo ataque dirigido contra a mediunidade. Assim, segundo essas pessoas, tudo o que os médiuns escrevem é o resultado das faculdades da alma encarnada; é ela que, libertando -se momentaneamente, pode ler no pensamento das pessoas presentes; é ela que vê à distância e prevê os acontecimentos; é ela que, por um fluido magnético-espiritual, agita, levanta, tomba as mesas, percebe os sons, etc., tudo, em uma palavra, repousaria sobre a essência anímica sem a intervenção de seres puramente espirituais.

Isso não é uma novidade que vos ensino, dir -me-eis. Com efeito, eu mesmo ou vi, há alguns anos, certos magnetizadores sustentarem essa tese; mas hoje procura -se implantar essas ideias que, a meu ver, são contrárias à verdade. É sempre um erro cair nos extremos, e há tanto exagero em tudo reportar ao sonambulismo, como haveria, da parte dos espíritas, em negar as leis do magnetismo. Não se poderia roubar à matéria as leis magnéticas, do mesmo modo que, ao Espírito, as leis puramente espirituais.

Onde se detém a força da alma sobre os corpos? Qual é a parte dessa força inteligente n os fenômenos do magnetismo? Qual é a do organismo? Eis as questões cheias de interesse, questões sérias para a filosofia como para a medicina.

Aguardando a solução desses problemas, vou citar -vos algumas passagens de Charpignon, esse doutor de Orléans, qu e é partidário da transmissão do pensamento. Vereis que ele mesmo se reconhece na impossibilidade de demonstrar, na visão propriamente dita, que a causa vem da extensão do simpático orgânico, como o pretendem vários autores.

Ele diz, à página 289:

“Acadêmicos, dobrai os trabalhos de vossos candidatos; moralistas, promulgai leis para a sociedade, o mundo, esse mundo que ri de tudo, que quer o seu gozo com o desprezo das leis de Deus e dos direitos dos homens, frustra os vossos esforços, porque tem a seu se rviço uma força que não supondes, e que deixastes crescer de tal sorte que não sois mais senhores para detê-la.”

À página 323:

“Compreendemos bem, até aqui, o modo de transmissão do pensamento, mas nos tornamos impossibilitados para compreender, por essa s leis de simpatia harmônica, o sistema pelo qual o homem forma, em si mesmo, tal ou tal pensamento, tal ou tal imagem, e essa solicitação de objetos exteriores. Isto sai das propriedades do organismo, e a psicologia, encontrando nessa faculdade rememorati va, ou criativa, segundo o desejo do homem, alguma coisa de antagonismo com as propriedades do organismo, fá -la depender de um ser substancial diferente da matéria. Comecemos, pois, a procurar, no fenômeno do pensamento, algumas lacunas entre a capacidade das leis fisiológicas do organismo e o resultado obtido. O rudimento do fenômeno, podendo -se assim se explicar, é bem fisiológico, mas a sua extensão, verdadeiramente prodigiosa, não o é mais; é necessário admitir aqui que o homem goza de uma faculdade que não pertence a nenhum dos dois elementos materiais dos quais, até o presente, não o vimos composto. O observador de boa -fé, encontrará, pois, aqui, uma terceira parte que entrará na composição do homem, parte que começa a se lhe revelar, do ponto de vista de psicologia magnética, por caracteres novos, e que se referem àqueles que os filósofos concedem à alma.

“Mas a existência da alma se encontra mais fortemente demonstrada pelo estudo de algumas outras faculdades do sonambulismo magnético. Assim, a visão à distância, quando ela é completa e claramente desembaraçada da transmissão do pensamento, não poderia, na nossa opinião, se explicar pela extensão do simpático orgânico.”

Depois, à página 330:

“Tínhamos, como se vê, grandes motivos para adiantar que o estudo dos fenômenos magnéticos tinha grande relação com a filosofia e a psicologia. Indicamos um trabalho a fazer, e para ele convidamos os homens especiais.”

Nas páginas seguintes, há a questão dos seres imateriais e de suas relações possíveis com nossos indivíduos.

Página 349: “É fora de dúvida, para nós, e precisamente por causa das leis psicológicas que esboçamos neste trabalho, que a alma humana pode ser esclarecida diretamente, seja por Deus, seja por uma outra inteligência . Cremos que essa comunicação sobrenatural pode ocorrer no estado normal, como no estado extático, quer seja espontânea ou artificial.”

Página 351: “Mas voltamos a dizer que a previsão natural ao homem é limitada e não poderia ser tão precisa, tão constant e e tão largamente exposta quanto as previsões que foram feitas pelos profetas sagrados, ou por homens que estavam inspirados por uma inteligência superior à alma humana.”

Página 391: “A ciência e a crença no mundo espiritual são dois termos antagônicos; mas apressamo-nos em dizer que foi pelo exagero que surgiram esses dois lados. É possível, ao nosso parecer, que a ciência e a fé façam aliança, e então o espírito humano se encontrará ao nível de sua perfectibilidade terrestre.”

Página 396: “O Antigo, como o Novo Testamento, assim como os anais da história de todos os povos, estão cheios de fatos que não se podem explicar senão pela ação de seres superiores ao homem; aliás, os estudos de antropologia, de metafísica e de ontologia, provam a realidade da existência de seres imateriais entre o homem e Deus, e a possibilidade de sua influência sobre a espécie humana.”

Eis agora a opinião de uma das principais autoridades em magnetismo, sobre a existência de seres fora da Humanidade. Ela foi extraída da corres pondência de Deleuze com o doutor Billot:

“O único fenômeno que parece estabelecer a comunicação com os seres imateriais são as aparições. Delas há vários exemplos, e como estou convencido da imortalidade da alma, não vejo razão para negar a possibilidade da aparição de pessoas que, tendo deixado esta vida, se ocupam daqueles que lhes são caros , e vem a eles se apresentar para dar -lhes conselhos salutares.”

O doutor Ordinaire, de Mâcon, outra autoridade nessa matéria, assim se exprime:

“O fogo sagrado, a influência secreta (de Boileau), a inspiração, não provêm, pois, de tal ou tal contextura, assim como o pretendem os frenólogos, mas de uma alma poética, em relação com um Gênio mais poético ainda . Ocorre o mesmo com relação à música, à pintura, etc. Essas inteligências superiores não seriam almas libertas da matéria que se elevam, gradualmente, à medida que se depuram, até a grande, a universal inteligência que as abarca todas, até Deus? Nossas almas, depois de diversas migrações , não tomariam lugar entre esses seres imateriais?

“Concluamos, disse o mesmo autor, do que precede: que o estudo da alma está ainda em sua infância; que, uma vez que do pólipo ao homem existe uma série de inteligências, e que nada se interrompe bruscamente na Natureza, deve racionalmente existir, do homem a Deus, uma outra série de inteligências. O homem é o elo que une as inteligências inferiores, associadas à matéria, com as inteligências superiores, imateriais. Do homem a Deus se encontra uma série semelhante à que existe do pólipo ao homem, quer dizer, uma série de seres etéreos, mais ou menos perfeitos, gozando de especialidades diversas, tendo ocupações e funções variadas.

“Que essas inteligências superiores se revelam tangivelmente no sonambulismo artificial; “Que essas inteligências têm, com a nossa alma, relações íntimas;
“Que é a essas inteligências que devemos os nossos remorsos , quando fizemos o mal; a nossa satisfação, quando fizemos uma boa ação;

“Que é a essas inteligências que os homens superiores devem as suas boas inspirações;

“Que é a essas inteligências que os extáticos devem a faculdade de prever o futuro e anunciar acontecimentos futuros;

“Enfim, que, para agir sobre essas inteligências, e torná -las propícias, a virtude e a prece têm uma ação poderosa.”


Continua

Registado
Tudo que realmente é verdadeiro é eterno! Como o amor, os ensinamentos...e a nossa vida! ♥

Offline Edna☼

  • Mundo Divino
  • *
  • Mensagens: 10838
  • Participação: 1418
  • Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!
  • Sexo: Feminino
  • Leia Kardec para entender Jesus. ♥ (a.d.)
  • Relevância: +1761
Re: Obras Póstumas |Allan Kardec 📘
« Responder #32 em: 28 de Abril de 2020, 19:46 »
0Gostou?
NOTA. A opinião de tais homens, e esses não são os únicos, tem certamente um valor que ninguém poderia contestar; mas isso não seria sempre senão uma opinião mais ou menos racional, se a observação não viesse confirmá -la. O Espiritismo está todo nos pensamentos que acabamos de citar; somente ele vem completá -los pelas observações especiais, coordená-los e dando-lhes a sanção da experiência.

Aqueles que se obstinam em negar a existência do mundo espiritual, e que não podem, entretanto, negar os fatos, se esforçam por procurar -lhes a causa exclusiva no mundo corpóreo; mas uma teoria, para ser verdadeira, deve dar a razão de todos os fatos que a ela se ligam; um só fato contraditório a destrói, porque não há exceções nas leis da Natureza. Isso ocorreu à maioria daquelas que se imaginaram, no princípio, para explicar os fenômenos espíritas; quase todas caíram, uma a uma, diante dos fatos que não podiam abarcar. Depois de haver esgotado, sem resultado, todos os sistemas, forçou -se em vir às teorias espíritas, como as mais concludentes, porque, não tendo de nenhum modo sido formuladas prematuramente, e sobre observações feitas levianamente, elas abarcam todas as variedades, todas as nuanças dos fenômenos. O que as faz aceitar, tão rapidamente, por um maior número, é que cada um nelas encontra a solução completa e satisfatória daquilo que procurou inutilmente alhures.

Todavia, muitos a repelem ainda; ela tem isso de comum com todas as grandes ideias novas que vêm mudar os hábitos e as crenças, é que todas encontraram, por muito tempo, contraditores obstinados, mesmo entre os homens mais esclarecidos. Mas um dia virá em que a verdade deverá dominar sobre o que é falso, e se admirará, então, tanta oposição que se lhe fez, tanto a coisa parecerá natural. Assim será com o Espiritismo; e o que se tem a notar é que, de todas as grandes ideias que revolucionaram o mundo, nenhuma conquistou, em tão pouco tempo, um número tão grande de partidários, em todos os países e em todas as classes da sociedade. Eis por que os espíritas, cuja fé não é cega, como os seus adversários o pretendem, mas fundada sobre a observação, não se inquietam nem com os seus contraditores, nem com aqueles que não partilham as suas ideias; eles ponderam que a Doutrina, a ressaltando das próprias leis da Natureza, em lugar de se apoiar sobre a derrogação dessas leis, não poderá deixar de prevalecer quando essas leis novas serão reconhecidas.

A ideia da existência de seres intermediários entre o homem e Deus não é nova, como todos o sabem; mas figurava -se, geralmente, que esses seres formavam criação à parte; as religiões os designaram sob os nomes de anjos e de demônios; os pagãos os chamavam de deuses. O Espiritismo, vindo provar que esses seres não são outros senão a alma d os homens, chegadas aos diferentes graus da escala espiritual, conduz a criação à unidade gloriosa, que é a essência das leis divinas. Em lugar de uma multidão de criações estacionárias, que acusariam na Previdência o capricho ou a parcialidade, não há sen ão uma, essencialmente progressiva, sem privilégio para nenhuma criatura, cada individualidade se elevando do embrião ao estado de desenvolvimento completo, como o germe do grão chega ao estado de árvore. O Espiritismo nos mostra, pois, a unidade, a harmonia, a justiça na criação. Para ele, os demônios são as almas atrasadas, ainda manchadas dos vícios da Humanidade; os anjos são essas mesmas almas depuradas e desmaterializadas; e, entre esses dois pontos extremos, a multidão de almas chegadas aos diferentes graus da escala progressiva; por aí, ele estabelece a solidariedade entre o mundo espiritual e o mundo corpóreo.

Quanto à questão proposta: Qual é, nos fenômenos espíritas ou sonambúlicos, o limite onde se detém a ação própria da alma humana, e onde com eça a dos Espíritos? Diremos que essa divisão não existe, ou melhor, que ela nada tem de absoluta. Desde o instante em que não são, de nenhum modo, espécies distintas, que a alma não é senão um Espírito encarnado, e o Espírito uma alma livre dos laços terr estres, que é o mesmo ser nos dois meios diferentes, as faculdades e as aptidões devem ser as mesmas. O sonambulismo é um estado transitório entre a encarnação e a desencarnação, um desligamento parcial, um pé colocado, por antecipação, no mundo espiritual . A alma encarnada, ou querendo -se, o Espírito próprio do sonâmbulo ou do médium, pode, pois, fazer, com pouca diferença, o que fará a alma desencarnada, e mesmo mais se ela é mais avançada, com esta diferença, todavia, de que pela sua libertação completa, sendo mais livre, a alma tem percepções especiais inerentes ao seu estado.

A distinção entre o que, num dado efeito, é produto direto da alma do médium, e o que provém de uma fonte estranha, às vezes, é muito difícil de ser feita, porque, muito frequentemente, essas duas ações se confundem e se corroboram. Assim é que, nas curas pela imposição de mãos, o Espírito do médium pode agir sozinho ou com a assistência de um outro Espírito; que a inspiração poética ou artística, pode ter uma dupla origem. Mas do fato de uma distinção ser difícil, não se segue que seja impossível. A dualidade, com frequência, é evidente, e, em todos os casos, ressalta quase sempre de uma observação atenta.

Registado
Tudo que realmente é verdadeiro é eterno! Como o amor, os ensinamentos...e a nossa vida! ♥

Offline Edna☼

  • Mundo Divino
  • *
  • Mensagens: 10838
  • Participação: 1418
  • Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!
  • Sexo: Feminino
  • Leia Kardec para entender Jesus. ♥ (a.d.)
  • Relevância: +1761
Re: Obras Póstumas |Allan Kardec 📘
« Responder #33 em: 16 de Maio de 2020, 17:54 »
0Gostou?
1ª parte – Causa e natureza da clarividência sonambúlica

Explicação do fenômeno da lucidez

As percepções que ocorrem no estado sonambúlico, sendo de uma outra natureza do que aquelas do estado de vigília, não podem ser transmitidas pelos mesmos órgãos. É constante que, neste caso, a visão não se efetue pelos olhos que, aliás, estão gera lmente fechados, e que se pode mesmo pôr ao abrigo dos raios luminosos de maneira a afastar toda suspeita. A visão à distância, e através de corpos opacos, exclui, além disso, a possibilidade do uso dos órgãos ordinários da visão. É preciso, pois, de toda necessidade, admitir no estado de sonambulismo, o desenvolvimento de um sentido novo, sede de faculdades e de percepções novas que nos são desconhecidas, e das quais não podemos nos dar conta senão por analogia e pelo raciocínio. Para isso, se concebe, nad a de impossível; mas qual é a sede desse sentido? É o que não é fácil de determinar com exatidão. Os próprios sonâmbulos não dão, a esse respeito, nenhuma indicação precisa. Ocorre que, para melhor verem, aplicam os objetos sobre o epigástrio, outro sobre a fronte, outro sobre o occipital. Esse sentido não parece, pois, circunscrito num lugar determinado; é certo, contudo, que a sua maior atividade reside nos centros nervosos. O que é positivo é que o sonâmbulo vê. Por onde e como? É o que ele mesmo não pode definir.

Notemos, no entanto, que, no estado sonambúlico, os fenômenos da visão e as sensações que o acompanham, são essencialmente diferentes daquele que ocorre no estado ordinário; também não nos serviremos da palavra ver senão por comparação, e na fa lta de um termo que, naturalmente, não temos para uma coisa desconhecida. Um povo de cegos de nascença, de nenhum modo, teria palavra para exprimir a luz, e relacionaria as sensações que ela faz sentir a alguma daquelas que compreende porque a ela está sub metido.

Procurou-se explicar a um cego a impressão viva e brilhante da luz sobre os olhos. Eu compreendo, disse ele, é como o som da trombeta. Um outro, um pouco mais prosaico, sem dúvida, a quem se quis fazer compreender a emissão dos raios em feixes ou cones luminosos, respondeu: Ah! sim; é como um objeto de forma cônica. Estamos nas mesmas condições com respeito à lucidez sonambúlica; somos v erdadeiros cegos, e, como estes últimos para a luz, nós a comparamos àquilo que, para nós, tem mais analogia com a faculdade visual; mas se quisermos estabelecer uma analogia absoluta entre essas duas faculdades e julgar uma pela outra, necessariamente, no s enganaremos como os dois cegos que acabamos de citar. Está aí o erro de quase todos aqueles que procuram, supostamente, se convencer pela experiência; querem submeter a clarividência sonambúlica às mesmas provas que da visão comum, sem sonhar que não há relações entre elas a não ser o nome que lhes damos, e como os resultados não respondem sempre à expectativa, acham mais simples negar.

Se procedermos por analogia, diremos que o fluido magnético, espalhado por toda a Natureza, e do qual os corpos animado s parecem ser os principais focos, é o veículo da clarividência mediúnica, como o fluido luminoso é o veículo das imagens percebidas pela nossa faculdade visual. Ora, do mesmo modo que o fluido luminoso torna transparente os corpos que atravessa livremente, o fluido magnético, penetrando todos os corpos sem exceção, não há, de nenhum modo, corpos opacos para os sonâmbulos. Tal é a explicação, a mais simples e a mais natural, da lucidez, falando do nosso ponto de vista. Nós a cremos justa, porque o fluido ma gnético, incontestavelmente, desempenha um papel importante nesse fenômeno; ela, entretanto, não poderia dar conta de todos os fatos. Há uma outra que os abarca a todos, mas à qual algumas explicações preliminares são indispensáveis.

Na visão a distância, o sonâmbulo não distingue um objeto ao longe como poderíamos fazê -lo através de um binóculo. Não é, de nenhum modo, esse objeto que se aproxima dele por uma

ilusão óptica, É ELE MESMO QUE SE APROXIMA DO OBJETO. Ele o vê precisamente como se estivesse ao lado dele; ele mesmo se vê no lugar que observa; em uma palavra, ele se transporta. Seu corpo, nesse momento, parece aniquilado, sua palavra é mais abafada, o som de sua voz tem alguma coisa de estranha; a vida animal parece se extinguir nele; a vida espiritual está toda inteira no lugar onde o seu pensamento o transporta; só a matéria fica no mesmo lugar. Há, pois, uma porção de nosso ser que se separa de nosso corpo para se transportar, instantaneamente, através do espaço, conduzida pelo pensamento e a von tade. Essa porção, evidentemente, é imaterial; de outro modo, ela produziria alguns efeitos da matéria; é a essa parte de nós mesmos que chamamos a alma.

Sim, é a alma que dá ao sonâmbulo as faculdades maravilhosas das quais goza; a alma que, em circunstâncias dadas, se manifesta se isolando em parte e momentaneamente de seu envoltório corporal. Para quem observou atentamente os fenômenos do sonambulismo em toda a sua pureza, a existência da alma é um fato patente, e a ideia de que tudo se acaba em nós com a vida animal é, para ele, uma insensatez demonstrada até à evidência; também se pode dizer, com alguma razão, que o magnetismo e o materialismo são incompatíveis; se há alguns magnetizadores que parecem se afastar dessa regra, e que professam doutrinas m aterialistas, é que não fizeram, sem dúvida, senão um estudo muito superficial dos fenômenos físicos do magnetismo, e que não procuraram seriamente a solução do problema da visão a distância. Qualquer que ele seja, jamais vimos um único sonâmbulo que não estivesse penetrado de um profundo sentimento religioso, quaisquer que possam ser as suas opiniões no estado de vigília. Retornemos à teoria da lucidez. A alma, sendo o princípio das faculdades do sonâmbulo, é nela que reside, necessariamente, a clarividênc ia, e não em tal ou tal parte circunscrita de nosso corpo. É porque o sonâmbulo não pode designar o órgão dessa faculdade como designaria o olho para a visão exterior: ele vê por todo o seu ser moral, quer dizer, por toda a sua alma, porque a clarividência é um dos atributos de todas as partes da alma, como a luz é um dos atributos de todas as partes do fósforo. Por toda a parte, pois, onde a alma pode penetrar, há clarividência; daí a causa da lucidez através de todos os corpos, sob os envoltórios mais espessos e em todas as distâncias.

Uma objeção se apresenta, naturalmente, a esse sistema, e devemos nos apressar em responder a ela. Se as faculdades sonambúlicas são as mesmas da alma liberta de sua matéria, por que essas faculdades não são constantes? Por que certos sujeitos são mais lúcidos do que outros? Por que a lucidez é variável no mesmo sujeito? Concebe -se a imperfeição física de um órgão; não se concebe a da alma.

A alma se liga ao corpo por laços misteriosos, que não nos fora dado a conhecer ante s que o Espiritismo nos tivesse demonstrado a existência e o papel do perispírito. Tendo essa questão sido tratada de maneira especial na Revista e nas obras fundamentais da Doutrina, não nos deteremos mais aqui; limitamo-nos a dizer que é pelos nossos órg ãos materiais que a alma se manifesta ao exterior. Em nosso estado normal, essas manifestações estão naturalmente subordinadas à imperfeição do instrumento, do mesmo modo que o melhor operário não pode fazer uma obra perfeita com más ferramentas. Por admir ável que seja, pois, a estrutura de nosso corpo, que ele haja tido a previdência da Natureza em relação ao nosso organismo para o cumprimento de suas funções vitais, há distância desses órgãos, submetidos a todas as perturbações da matéria, à sutileza de n ossa alma. Por muito tempo, pois, que a alma se prenda ao corpo, sofre -lhe os entraves e as vicissitudes.

O fluido magnético não é a alma, é um laço, um intermediário entre a alma e o corpo; é pela sua maior ou menor ação sobre a matéria que torna a alma mais ou menos livre; daí a diversidade das faculdades sonambúlicas. O sonâmbulo é o homem que não está desembaraçado senão de uma parte de suas vestes, e cujos movimentos são ainda constrangidos por aquelas que lhe restam.

A alma não terá sua plenitude e inteira liberdade de suas faculdades, senão quando houver sacudido os últimos cueiros terrestres, como a borboleta sai de sua crisálida. Se um magnetizador fosse tão potente para dar à alma uma liberdade absoluta, o laço terrestre seria rompido e a morte disso seria a consequência imediata. O sonambulismo nos faz, pois, colocar um pé na vida futura; ele afasta um lado do véu sob o qual se escondem as verdades que o Espiritismo nos faz entrever hoje; mas não a conheceremos, em sua essência, senão quando estivermos inteiramente desembaraçados do véu material que a obscurece neste mundo.

Registado
Tudo que realmente é verdadeiro é eterno! Como o amor, os ensinamentos...e a nossa vida! ♥

Offline Edna☼

  • Mundo Divino
  • *
  • Mensagens: 10838
  • Participação: 1418
  • Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!
  • Sexo: Feminino
  • Leia Kardec para entender Jesus. ♥ (a.d.)
  • Relevância: +1761
Re: Obras Póstumas |Allan Kardec 📘
« Responder #34 em: 20 de Maio de 2020, 19:11 »
0Gostou?
1ª parte – A segunda vista

Conhecimento do futuro. Previsões

Se, no estado sonambúlico, as manifestações da alma se tornam, de alguma sorte, ostensivas, seria absurdo pensar que, no estado normal, ela estivesse confinada em seu envoltório de maneira absoluta, como o caracol está encerrado em sua concha. Não é, de ne nhum modo, a influência magnética que a desenvolve; essa influência não faz senão torná -la patente pela ação que exerce sobre os nossos órgãos. Ora, o estado sonambúlico não é sempre uma condição indispensável para essa manifestação; as faculdades que vimo s se produzirem nesse estado, se desenvolvem, algumas vezes, espontaneamente no estado normal de certos indivíduos. Disso resulta, para eles, a faculdade de ver além dos limites de nossos sentidos; percebem as coisas ausentes por toda a parte onde a alma e stende a sua ação; veem, se podemos nos servir desta expressão, através da visão comum, e os quadros que descrevem, os fatos que contam, se apresentam a eles como o efeito de uma miragem, e é o fenômeno designado sob o nome de segunda vista. No sonambulismo, a clarividência é produzida pela mesma causa; a diferença é que, nesse estado, ela está isolada, independente da vida corpórea, ao passo que lhe é simultânea, naqueles que dela são dotados no estado de vigília.

A segunda vista quase nunca é permanente; em geral, esse fenômeno se produz espontaneamente, em certos momentos dados, sem ser um efeito da vontade, e provoca uma espécie de crise que modifica, algumas vezes, sensivelmente o estado físico: o olho tem alguma coisa de vago; parece olhar sem ver; to da a fisionomia reflete uma espécie de exaltação.

É de notar-se que as pessoas que dela gozam, não suspeitam disso; essa faculdade lhes parece natural como aquela de ver pelos olhos; para elas, é um atributo de seu ser, e que não lhes parece, de nenhum mo do, fazer exceção. Acrescentai a isso que o esquecimento segue, muito frequentemente, essa lucidez passageira, cuja lembrança, cada vez mais vaga, acaba por desaparecer como a de um sonho.

Há graus infinitos no poder da segunda vista, desde a sensação con fusa, até a percepção tão clara e tão limpa como no sonambulismo. Falta -nos uma palavra para designar esse estado especial, e sobretudo os indivíduos que dele são suscetíveis: tem se servido da palavra vidente, e embora não dê exatamente o pensamento, adot á-la-emos até nova ordem, por falta de melhor.

Se aproximamos agora os fenômenos da clarividência sonambúlica e da segunda vista, compreende-se que o vidente possa ter a percepção das coisas ausentes; como o sonâmbulo, ele vê à distância; segue o curso do s acontecimentos, julga de sua tendência e pode, em alguns casos, prever -lhes o resultado.

É esse dom da segunda vista que, no estado rudimentar, dá a certas pessoas o tato, a perspicácia, uma espécie de segurança em seus atos, e que se pode chamar a just eza do golpe de vista moral. Mais desenvolvida, desperta os pressentimentos, mais desenvolvida ainda, mostra os acontecimentos realizados, ou no ponto de se realizarem; enfim, chega ao seu apogeu, é o êxtase desperto.

O fenômeno da segunda vista, como dis semos, é quase sempre natural e espontâneo; mas parece se produzir, mais frequentemente, sob o império de certas circunstâncias. Os tempos de crise, de calamidade, de grandes emoções, todas as causas, enfim, que superexcitam o moral, provocam-lhe o desenvolvimento. Parece que a Providência, em presença dos perigos mais iminentes, multiplica, ao nosso redor, a faculdade de preveni -los.

Houve videntes em todos os tempos e em todas as nações; parece que certos povos a isso estejam mais naturalmente predispostos; diz-se que, na Escócia, o dom da segunda vista é muito comum. Encontra -se, assim tão frequentemente, entre as pessoas do campo e os habitantes das montanhas.

Os videntes foram diversamente olhados segundo os tempos, os costumes e o grau de civilização. Aos olhos das pessoas céticas, passam por cérebros desarranjados, alucinados; as seitas religiosas deles fizeram profetas, sibilas, oráculos; nos séculos de superstição e de ignorância, eram feiticeiros que se queimavam. Para o homem sensato, que crê na força infinita da Natureza, e na inesgotável bondade do Criador, a dupla vista é uma faculdade inerente à espécie humana, pela qual Deus nos revela a existência de nossa essência material. Qual é aquele que não reconhece um dom dessa natureza em Jeanne d’A rc e numa multidão de outros personagens que a história qualifica de inspirados?

Tem-se falado, frequentemente, de cartomantes que dizem coisas surpreendentes de verdade. Estamos longe de nos fazer apologistas de ledores de sorte, que exploram a credulida de de espíritos fracos, e cuja linguagem ambígua se presta a todas as combinações de uma imaginação ferida; mas não há nada de impossível em que, certas pessoas, fazendo esse ofício, tenham o dom da segunda vista, mesmo com o seu desconhecimento; desde ent ão as cartas não são, em suas mãos, senão um meio, senão um pretexto, uma base de conversação; elas falam segundo o que veem, e não segundo o que indicam as cartas que apenas olham.

Ocorre o mesmo com outros meios de adivinhação, tais como as linhas das m ãos, o resíduo de café, as claras de ovo e outros símbolos místicos. Os sinais da mão, talvez, tenham mais valor do que todos os outros meios, de nenhum modo por si mesmos, mas porque o suposto adivinho, tomando e apalpando a mão do consulente, se está dot ado da segunda vista, encontra-se em relação mais direta com este último, como ocorre nas consultas sonambúlicas. Podem colocar-se os médiuns videntes na categoria das pessoas gozando da dupla vista. Como estes últimos, com efeito, os médiuns videntes cree m ver pelos olhos, mas, em realidade, é a alma que vê, e é a razão pela qual veem tão bem de olhos fechados, quanto de olhos abertos; segue -se, necessariamente, que um cego poderia ser médium vidente tão bem quanto aquele cuja visão está intacta. Um estudo interessante a fazer seria saber se esta faculdade é mais frequente nos cegos. Seríamos levados a crer, tendo em vista que, assim como se pode disso se convencer pela experiência, a privação de se comunicar com o exterior, em razão da ausência de certos sentidos, em geral, dá mais poder à faculdade de abstração da alma e, por conseguinte, mais desenvolvimento ao sentido íntimo pelo qual ela se põe em relação com o mundo espiritual.


Continua

« Última modificação: 20 de Maio de 2020, 19:13 by Edna☼ »
Registado
Tudo que realmente é verdadeiro é eterno! Como o amor, os ensinamentos...e a nossa vida! ♥

Offline Edna☼

  • Mundo Divino
  • *
  • Mensagens: 10838
  • Participação: 1418
  • Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!
  • Sexo: Feminino
  • Leia Kardec para entender Jesus. ♥ (a.d.)
  • Relevância: +1761
Re: Obras Póstumas |Allan Kardec 📘
« Responder #35 em: 20 de Maio de 2020, 19:12 »
0Gostou?
Os médiuns videntes podem, pois, ser comparados às pessoas que gozam da vi são espiritual; mas seria, talvez, muito absoluto considerar estes últimos como médiuns; porque a mediunidade consistindo unicamente na intervenção dos Espíritos, o que se faz por si mesmo não pode ser considerado como um ato mediúnico. Aquele que possui a visão espiritual vê pelo seu próprio Espírito, e nada implica, no desenvolvimento de sua faculdade, a necessidade do concurso de um Espírito estranho.

Isto posto, examinemos até que ponto a faculdade da dupla vista pode nos permitir descobrir as coisas ocultas e de penetrar no futuro.

De todos os tempos, os homens quiseram conhecer o futuro, e poder -se-iam escrever volumes sobre os meios inventados pela superstição para levantar o véu que cobre o nosso destino. A Natureza foi muito sábia no -lo escondendo; cada um de nós tem a sua missão providencial na grande colmeia humana, e concorre à obra comum na sua esfera de atividade. Se

soubéssemos, antecipadamente, o fim de cada coisa, ninguém duvide que a harmonia geral com isso sofreria. Um futuro feliz asseg urado tiraria do homem toda atividade, uma vez que não teria necessidade de nenhum esforço para chegar ao objetivo que se propôs: seu bem – estar; todas as forças físicas e morais seriam paralisadas, e a marcha progressiva da Humanidade seria detida. A certe za da infelicidade teria as mesmas consequências pelo efeito do desencorajamento; todos renunciariam lutar contra o decreto definitivo do destino. O conhecimento absoluto do futuro seria, pois, um presente funesto que nos conduziria ao dogma da fatalidade, o mais perigoso de todos, o mais antipático ao desenvolvimento das ideias. É a incerteza, do momento de nosso fim neste mundo que nos faz trabalhar até a última batida de nosso coração. O viajor arrastado por um veículo abandona -se ao movimento que deve conduzi-lo ao objetivo, sem pensar em se fazer desviar, porque sabe da sua impossibilidade; tal seria o homem que conhecesse o seu destino irrevogável. Se os videntes pudessem transgredir essa lei da Providência, seriam os iguais da divindade; também, tal n ão é, de nenhum modo, a sua missão.

Nos fenômenos da dupla vista, estando a alma em parte desligada do envoltório material que limita as nossas faculdades, não há mais, para ela, nem duração, nem distâncias; abarcando o tempo e o espaço, tudo se confunde no presente. Livre de seus entraves, ela julga os efeitos e as causas melhor do que não podemos fazê -lo: vê as consequências das coisas presentes e pode nos fazer pressenti -las; é nesse sentido que se deve entender o dom da presciência atribuído aos videntes.

Suas previsões não são senão o resultado de uma consciência mais clara do que existe, e não uma predição de coisas fortuitas sem laço com o presente; é uma dedução lógica do conhecido para chegar ao desconhecido, que depende, muito frequentemente, de nossa maneira de fazer. Quando um perigo nos ameaça, se somos advertidos, estamos no caso de fazermos o que é preciso para evitá -lo: com a liberdade de fazê -lo ou não.

Em semelhante caso, o vidente se encontra em presença do perigo que se nos acha oculto; ele o assinala, indica o meio de afastá -lo, senão o acontecimento segue o seu curso.

Suponhamos um carro conduzido numa estrada terminando num abismo, que o condutor não pode perceber; é bem evidente que, se nada vem fazê -lo desviar, irá nele se precipit ar; suponhamos, por outro lado, um homem colocado de maneira a dominar a estrada em linha reta; que esse homem, vendo a perda inevitável do viajor, possa adverti -lo para desviar-se a tempo, o perigo será conjurado. De sua posição, dominando o espaço, vê o que o viajor, cuja visão está circunscrita pelos acidentes do terreno, não pode distinguir; pode ele ver se uma causa fortuita vai pôr obstáculo à sua queda; conhece, pois, antecipadamente, o resultado do acontecimento e pode predizê -lo.

Que esse mesmo homem, colocado sobre uma montanha, perceba ao longe, no caminho, uma tropa inimiga se dirigindo para uma aldeia que quer incendiar; ser -lhe-á fácil, calculando o espaço e a velocidade, prever o momento da chegada da tropa. Se, descendo à aldeia, diz simplesmente: A tal hora a aldeia será incendiada , o acontecimento vindo se cumprir, ele passará, aos olhos da multidão ignorante, por um adivinho, um feiticeiro, ao passo que, muito simplesmente, viu o que os outros não podiam ver, e disso deduziu as consequênci as.

Ora, o vidente, como esse homem, abarca e segue o curso dos acontecimentos; não lhe prevê o resultado pelo dom da adivinhação; ele o vê! Pode, pois, vos dizer se estais no bom caminho, vos indicar o melhor, e vos anunciar o que encontrareis no fim do caminho; é, para vós, o fio de Ariadne que vos mostra a saída do labirinto.

Há distância daí, como se vê, à predição propriamente dita, tal como a entendemos na acepção vulgar da palavra. Nada é tirado ao livre arbítrio do homem, que permanece sempre senhor para agir ou não agir, que cumpre ou deixa de cumprir os acontecimentos pela sua vontade ou pela sua inércia; se lhe indica o meio para chegar ao objetivo, cabe -lhe dele fazer uso. Supô-lo submetido a uma fatalidade inexorável pelos menores aconteci mentos da vida, é deserdá-lo de seu mais belo atributo: a inteligência; é assimilá -lo ao animal. O vidente não é, pois, de nenhum modo, um adivinho; é um ser que percebe o que não vemos; é para nós o cão do cego. Nada, pois, aqui, contradiz os objetivos da Providência sobre o segredo de nosso destino; é ela mesma que nos dá um guia.

Tal é o ponto de vista sob o qual deve ser encarado o conhecimento do futuro nas pessoas dotadas de dupla vista. Se esse futuro fosse fortuito, se dependesse do que se chama o acaso, se não se ligasse em nada às circunstâncias presentes, nenhuma clarividência poderia penetrá-lo, e toda previsão, nesse caso, não poderia oferecer nenhuma certeza. O vidente, e por isso entendemos o verdadeiro vidente, o vidente sério, e não o charl atão que o simula, o verdadeiro vidente, dizemos, não diz nada do que o vulgo chama a boa sorte; ele prevê o resultado do presente, nada mais, e isso já é muito.

Quantos erros, quantas falsas diligências, quantas tentativas inúteis não evitaríamos, se tivéssemos sempre um guia seguro para nos esclarecer; quantos homens estão deslocados no mundo por não terem sido lançados no caminho que a Natureza traçou para as suas faculdades!

Quantos fracassos por ter seguido os conselhos de uma obstinação irrefletida! Uma pessoa poderia lhe dizer: “Não tenteis tal coisa porque as vossas faculdades intelectuais são insuficientes, porque ela não convém nem ao vosso caráter, nem à vossa constituição física, ou bem ainda porque não sereis secundado segundo a necessidade; o u bem ainda porque vos enganais sobre a importância dessa coisa, porque encontrareis tal entrave que não prevedes.” Em outras circunstâncias, ter -lhe-ia dito: “Triunfareis em tal coisa, se a tomardes de tal ou tal maneira; se evitardes tal diligência que pode vos comprometer.” Sondando as disposições e o caráter, ter-lhe-ia dito: “Desconfiai de tal armadilha que se quer vos estender;” depois teria acrescentado: “Estais prevenidos, meu papel está findo; eu vos mostro o perigo; se sucumbirdes não acuseis nem a sorte, nem a fatalidade, nem a Providência, mas só a vós. Que pode o médico, quando o enfermo não tem em nenhuma conta os seus conselhos?”

Registado
Tudo que realmente é verdadeiro é eterno! Como o amor, os ensinamentos...e a nossa vida! ♥

Offline Edna☼

  • Mundo Divino
  • *
  • Mensagens: 10838
  • Participação: 1418
  • Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!
  • Sexo: Feminino
  • Leia Kardec para entender Jesus. ♥ (a.d.)
  • Relevância: +1761
Re: Obras Póstumas |Allan Kardec 📘
« Responder #36 em: 06 de Junho de 2020, 16:52 »
0Gostou?
1ª parte – Introdução ao estudo da fotografia e da telegrafia do pensamento

"A ação fisiológica de indivíduo a indivíduo, com ou sem contato, é um fato incontestável. Esta ação não pode se exercer, evidentemente, senão por um agente intermediário, do qual o nosso corpo é o reservatório, os nossos olhos e os nossos dedos os principais órgãos de emissão e de direção. Esse agente invisível, necessariamente, é um fluido. Qual é sua natureza, sua essência? Quais são suas propriedades íntimas? É um fluido especial ou bem uma modificação da eletricidade ou de algum outro fluido conhecido? É o que se designava há pouco sob o nome de fluido nervoso? Não é antes o que designamos hoje sob o nome de fluido cósmico, quando está esparramado na atmosfera, e de fluido perispiritual quando é individualizado?

Essa questão, de resto, é secundária.

O fluido perispiritual é imponderáve l, como a luz, a eletricidade e o calor. É invisível, para nós, no estado normal, e não se revela senão pelos seus efeitos; mas torna -se visível no estado de sonambulismo lúcido, e mesmo no estado de vigília para as pessoas dotadas de dupla vista. No estado de emissão ele se apresenta sob a forma de faíscas luminosas, bastante semelhantes à luz elétrica difusa no vazio; é a isso, de resto, que se limita a sua analogia com este último fluido, porque não produz, ao menos ostensivamente, nenhum dos fenômenos físicos que conhecemos. No estado ordinário, apresenta cores diversas segundo os indivíduos de onde emana; ora de um vermelho fraco, ora azulado ou acinzentado, como uma bruma leve; o mais das vezes, espalha sobre os corpos vizinhos, uma nuvem amarelada, ma is ou menos pronunciada.

As narrações dos sonâmbulos e dos videntes são idênticas sobre essa questão; aliás, teremos ocasião de voltar ao assunto falando das qualidades impressas ao fluido para o motivo de pô -lo em movimento, e para o adiantamento do indi víduo que o emite.

Nenhum corpo lhe constitui obstáculo; penetra -os e os atravessa todos; até o presente, não se conhece nenhum que seja capaz de isolá -lo. Só a vontade pode estender -lhe ou restringir-lhe a ação; a vontade, com efeito, é o seu mais podero so princípio; pela vontade, dirigem -se-lhe os eflúvios através do espaço, ou os acumula, a seu contento, sobre um ponto dado, ou saturam – se certos objetos, ou bem são retirados dos lugares onde são superabundantes. Digamos, de passagem, que é sobre esse pr incípio que está fundada a força magnética. Parece, enfim, ser o veículo da visão psíquica, como o fluido luminoso é o veículo da visão ordinária.

O fluido cósmico, se bem que emanando de uma fonte universal, se individualiza, por assim dizer, em cada ser, e adquire propriedades características que permite distingui -lo entre todos. A própria morte não apaga esses caracteres de individualização que persistem muitos anos depois da cessação da vida, assim como pudemos disso nos convencer. Cada um de nós tem, pois, seu fluido próprio que o envolve e o segue em todos os seus movimentos, como a atmosfera segue cada planeta. A extensão da irradiação dessas atmosferas individuais é muito variável; num estado de repouso absoluto do Espírito, essa irradiação pode est ar circunscrita num limite de alguns passos; mas sob o domínio da vontade, pode alcançar distâncias infinitas; a vontade parece dilatar o fluido, como o calor dilata o gás. As diferentes atmosferas particulares se encontram, se cruzam, misturam -se sem jamais se confundirem, absolutamente como as ondas sonoras que permanecem distintas apesar da multidão de sons que agitam o ar simultaneamente. Pode -se, pois, dizer que cada indivíduo é o centro de uma onda fluídica cuja extensão está em razão da força e da vo ntade, como cada ponto vibrante é o centro de uma

onda sonora, cuja extensão está em razão da força da vibração; a vontade é a causa propulsora do fluido, como o choque é a causa vibrante do ar e propulsora das ondas sonoras.

Das qualidades particulares d e cada fluido resulta, entre eles, uma espécie de harmonia ou de desacordo, uma tendência a se unir ou a se evitar, uma atração ou uma repulsão, em uma palavra, as simpatias ou as antipatias que se experimentam, frequentemente, sem causas determinantes conhecidas. Se estamos na esfera de atividade de um indivíduo, a sua presença nos é, algumas vezes, revelada pela impressão agradável ou desagradável que sentimos de seu fluido! Se estamos no meio de pessoas das quais não partilhamos os sentimentos, das quais os fluidos não se harmonizam com o nosso, uma reação penosa nos oprime, e ali nos encontramos como uma nota dissonante num concerto! Se vários indivíduos estão, ao contrário, reunidos numa comunidade de objetivos e de intenções, os sentimentos de cada um se exaltam em proporção mesmo da massa das forças reagentes. Quem não conhece a força de arrebatamento que domina as aglomerações onde há homogeneidade de pensamentos e de vontades? Não se poderia imaginar a quanta influência estamos assim submetidos, com o nosso desconhecimento.

Essas influências ocultas não podem ser a causa determinante de certos pensamentos; desses pensamentos que nos são comuns, no mesmo instante, com certas pessoas; desses vagos pressentimentos que nos fazem dizer: Há qualquer coisa no ar que prenuncia tal ou tal acontecimento? Enfim, certas sensações indefiníveis de bem -estar ou de mal-estar moral, de alegria ou de tristeza, não seriam de nenhum modo o efeito da reação do meio fluídico no qual estamos, dos eflúvios simpáticos ou anti páticos que recebemos e que nos envolvem como as emanações de um corpo perfumado? Não saberíamos nos pronunciar afirmativamente, sobre essas questões, de maneira absoluta, mas é forçoso convir pelo menos que a teoria do fluido cósmico, individualizado em cada ser sob o nome de fluido perispiritual, abre um campo todo novo para a solução de uma multidão de problemas até aqui inexplicáveis.

Cada um, em seu movimento de translação, carrega, pois, consigo a sua atmosfera fluídica, como o caracol carrega a sua concha; mas esse fluido deixa os traços de sua passagem; deixa como uma esteira luminosa, inacessível aos nossos sentidos no estado de vigília, mas que serve, aos sonâmbulos, aos videntes e aos Espíritos desencarnados, para reconstruírem os fatos realizados e analisar o móvel que os fez executar.

Toda ação física ou moral, patente ou oculta, de um ser sobre si mesmo ou sobre um outro, supõe, de um lado, uma força atuante, de outro, uma sensibilidade passiva. Em todas as coisas, duas forças iguais se neutra lizam, e a fraqueza cede à força. Ora, não sendo todos os homens dotados da mesma energia fluídica, dito de outro modo, não tendo o fluido perispiritual em todos a mesma força ativa, isto nos explica por que, em uns, essa força é quase irresistível, ao passo que é nula em outros; por que certas pessoas são muito acessíveis à sua ação, ao passo que outras lhe são refratárias.

Essa superioridade e essa inferioridade relativas, evidentemente, dependem do organismo; mas estar-se-ia em erro crendo-se que elas estão em razão da força ou da fraqueza física. A experiência prova que os homens mais robustos, algumas vezes, sofrem as influências fluídicas mais facilmente do que os outros de uma constituição muito mais delicada, ao passo que se encontra, frequentemente , nestes últimos, uma força que a sua frágil aparência não poderia fazer supor. Essa diversidade no modo de ação pode se explicar de várias maneiras.

A força fluídica aplicada à ação recíproca dos homens uns sobre os outros, quer dizer, no magnetismo, pode depender: 1º da soma de fluido que cada um possui; 2º da natureza intrínseca do fluido de cada um, abstração feita da quantidade; 3º do grau de energia da força impulsora, talvez mesmo dessas três causas reunidas. Na primeira hipótese, aquele que tem

mais fluido dá-lo-ia àquele que o tem menos, mais do que dele receberia; haveria, nesse caso, analogia perfeita com a permuta de calor que fazem entre eles, dois corpos que se colocam em equilíbrio de temperatura. Qualquer que seja a causa dessa diferença, po demos nos dar conta do efeito que ela produz, supondo três pessoas das quais nos representaremos a força por três números: 10, 5 e 1. O 10 agirá sobre o 5 e sobre o 1, mas, mais energicamente sobre o 1 do que sobre o 5; o 5 agirá sobre o 1, mas será impote nte sobre o 10; enfim, o 1 não agirá nem sobre um, nem sobre o outro. Tal seria a razão pela qual certas pessoas são sensíveis à ação de tal magnetizador e insensíveis à ação de tal outro.

Pode-se ainda, até um certo ponto, explicar esse fenômeno, reportando-nos às considerações precedentes. Dissemos, com efeito, que os fluídos individuais são simpáticos ou antipáticos, uns em relação aos outros. Ora, não poderia se dar que a ação recíproca de dois indivíduos estivesse em razão da simpatia dos fluid os, quer dizer, de sua tendência a se confundir, por uma espécie de harmonia, como as ondas sonoras produzidas pelos corpos vibrantes? É indubitável que essa harmonia ou simpatia dos fluidos é uma condição, ainda que não absolutamente indispensável, ao men os muito preponderante, e que, quando há desacordo ou simpatia, a ação não pode ser senão fraca, ou mesmo nula. Esse sistema nos explica bem as condições prévias da ação; mas não nos diz de que lado está a força, e tudo admitindo, somos forçados a recorrer à nossa primeira suposição.

De resto, que o fenômeno haja ocorrido por uma ou por outra dessas causas, isso não tem nenhuma consequência; o fato existe, é o essencial: os da luz se explicam, igualmente, pela teoria da emissão e das ondulações; os da elet ricidade, pelos fluidos positivo e negativo, vítreo e resinoso.

Num próximo estudo, apoiando -nos sobre as considerações que precedem, procuraremos estabelecer o que entendemos pela Fotografia e a Telegrafia do pensamento.

Registado
Tudo que realmente é verdadeiro é eterno! Como o amor, os ensinamentos...e a nossa vida! ♥

Offline Edna☼

  • Mundo Divino
  • *
  • Mensagens: 10838
  • Participação: 1418
  • Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!
  • Sexo: Feminino
  • Leia Kardec para entender Jesus. ♥ (a.d.)
  • Relevância: +1761
Re: Obras Póstumas |Allan Kardec 📘
« Responder #37 em: 06 de Junho de 2020, 17:28 »
0Gostou?
1ª parte – Fotografia e telegrafia do pensamento

A fotografia e a telegrafia do pensamento são questões até aqui apenas afloradas. Como todas aquelas que não dizem respeito às leis que, por essência, devem ser universalmente manifestadas, foram relegadas a segundo plano, se bem que a sua importância seja capital e que os elementos de estudo, que elas encerram, sejam chamados a esclarecer muitos problemas, até aqui, permanecidos sem solução.

Quando um artista de talento executa um quadro, a obra magistral à qual consagra todo o gênio que adquiriu progressivamente, nele estabelece primeiro as grandes massas, de maneira a ser compreendido, desde o esboço, todo o partido que dele espera tirar; não é senão depois de ter elaborado minuciosamente o seu plano geral, que ele procede à execução dos detalhes; e, se bem que este trabalho deva ser tratado com mais cuidado talvez do que o esboço, seria, entretanto, impossível se este último não o precedesse. Ocorre o mesmo no Espiritismo. As leis fundamentais, os princípios gerais, cujas raízes existem n o espírito de todo ser criado, deveram ser elaboradas desde a origem. Todas as outras questões, quaisquer que elas sejam, dependem das primeiras; é a razão que dele faz, durante um certo tempo, negligenciar o estudo direto.

Com efeito, não se pode, logica mente, falar de fotografia e de telegrafia do pensamento, antes de ter demonstrado a existência da alma, que manobra os elementos fluídicos, e a dos fluidos que permitem estabelecer relações entre duas almas distintas. Hoje ainda, quase que não estamos suficientemente esclarecidos para a elaboração definitiva desses imensos problemas! Contudo, algumas considerações de natureza a preparar um estudo mais completo, certamente, aqui não estarão deslocadas.

Estando o homem limitado em seus pensamentos e em suas aspirações, os seus horizontes estando limitados, há de lhe ser preciso, necessariamente, concretizar e etiquetar todas as coisas para delas guardar uma lembrança apreciável, e basear sobre os dados adquiridos os seus estudos futuros. As primeiras noções do conhecimento lhe vieram pelo sentido da visão; foi a imagem de um objeto que lhe ensinou que o objeto existia. Conhecendo vários objetos, tirando deduções de impressões diferentes que eles produziam sobre o seu ser íntimo, deles fixou a quintessência, e m sua inteligência, pelo fenômeno da memória. Ora, o que é a memória senão uma espécie de álbum mais ou menos volumoso, que se folheia para se encontrar as ideias apagadas e retraçar os acontecimentos desaparecidos! Esse álbum tem marcas nos lugares notáveis; lembra-se imediatamente de certos fatos; é necessário folhear muito tempo para certos outros.

A memória é como um livro! Aquele do qual se leem certas passagens, presentes essas passagens facilmente aos olhos; as folhas virgens, ou raramente percorridas, devem ser viradas uma a uma, para retraçar um fato no qual pouco se deteve.

Quando o Espírito encarnado se lembra, a sua memória lhe apresenta, de alguma sorte, a fotografia do fato que ele procura. Em geral, os encarnados que o cercam nada veem; o álbum está num lugar inacessível à sua visão; mas os Espíritos veem e folheiam conosco; em certas circunstâncias, eles podem mesmo, de propósito, ajudar a nossa procura ou perturbá -la.

O que se produz do encarnado para o Espírito, ocorre igualmente do Espír ito ao vidente; quando se evoca a lembrança de certos fatos na existência de um Espírito, a fotografia desses fatos se apresenta a ele, e o vidente, cuja situação espiritual é análoga à do Espírito livre, vê, como ele, e vê mesmo, em certas circunstâncias, o que o Espírito não vê por si mesmo; do mesmo modo que um desencarnado pode folhear na memória de um encarnado, sem que este disso tenha consciência, e lembrar -lhe os fatos esquecidos há muito tempo. Quanto aos pensamentos abstratos, por isso mesmo que e les existem, tomam um corpo para impressionar o cérebro; devem agir naturalmente sobre ele, burilarem -se de alguma sorte; nesse caso ainda, como no primeiro, a semelhança entre os fatos que existem na Terra e no espaço, parece perfeita.

O fenômeno da fotografia do pensamento, tendo já sido o objeto de algumas reflexões na Revista, para maior clareza, reproduziremos algumas passagens do artigo onde esse assunto foi tratado, e que completamos com novas notas.

Sendo os fluidos o veículo do pensamento, este a ge sobre os fluidos como o som age sobre o ar; carregam o pensamento como o ar nos traz o som. Pode -se, pois, dizer, com toda a verdade, que há nos fluidos ondas e raios de pensamentos que se cruzam, sem se confundirem, como há no ar ondas e raios sonoros.

Há mais: o pensamento, criando imagens fluídicas, se reflete no envoltório perispiritual como numa chapa de vidro, ou ainda como essas imagens de objetos terrestres que se refletem no vapor do ar; aí toma um corpo e se fotografa de alguma sorte. Que um homem, por exemplo, tenha a ideia de matar um outro, por impassível que seja o seu corpo material, o seu corpo fluídico é colocado em ação pelo pensamento, do qual reproduz todas as nuanças; ele executa fluidicamente o gesto, o ato que desejou realizar; o seu pensamento cria a imagem da vítima, e a cena inteira se pinta, como num quadro, tal como está em seu espírito.

É assim que os movimentos mais secretos da alma repercutem no seu envoltório fluídico; que uma alma pode ler numa outra alma, como num livro, e ver o que não é perceptível para os olhos do corpo. Os olhos do corpo veem as impressões interiores que se refletem sobre os traços do rosto: a cólera, a alegria, a tristeza; mas a alma vê sobre os traços da alma os pensamentos que não se traduzem por fora.

Contudo, se vendo a intenção, a alma pode pressentir o cumprimento de um ato, que lhe será a consequência, não pode, entretanto, determinar o momento em que ocorrerá, porque circunstâncias ulteriores poderão modificar os planos suspensos e mudar as disposições. Ela não pode ver o que ainda não está no pensamento; o que ela vê é a preocupação do momento ou habitual do indivíduo, seus desejos, seus projetos, suas intenções boas ou más; daí os erros nas previsões de certos videntes. Quando um acontecimento está subordinado ao livre arbítrio de um homem, eles não podem senão pressentir segundo o pensamento que veem, mas não afirmarem que ocorrerá de tal maneira e em tal momento. A maior ou menor exatidão nas previsões depende, além disso, da extensão e da clareza da visão psíquica; em certos indivíduos, Espíritos ou encarnados, é limitada a um ponto ou difusa; ao passo que em outros ela é clara e abarca o conjunto dos pensamentos e das vontades que devem concorrer para a realização de um fato. Mas, acima de tudo, há sempre a vontade superior que pode, em sua sabedoria, permitir uma revelação ou impedi -la; neste último caso, um véu impenetrável é lançado sobre a visão psíquica mais perspicaz. (Vede, em A Gênese, o capítulo da Presciência.)



Registado
Tudo que realmente é verdadeiro é eterno! Como o amor, os ensinamentos...e a nossa vida! ♥

Offline Edna☼

  • Mundo Divino
  • *
  • Mensagens: 10838
  • Participação: 1418
  • Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!
  • Sexo: Feminino
  • Leia Kardec para entender Jesus. ♥ (a.d.)
  • Relevância: +1761
Re: Obras Póstumas |Allan Kardec 📘
« Responder #38 em: 06 de Junho de 2020, 17:29 »
0Gostou?
A teoria das criações fluídicas e, por consequência, da fotografia do pensamento, é uma conquista do Espiritismo moderno, e pode ser, doravante, considerada como adquirida em princípio, salvo as aplicações de detalhes que serão o resultado da observação. Esse fenômeno é, incontestavelmente, a fonte das visões fantásticas e deve desempenhar um grande papel em certos sonhos.

Quem é aquele que sabe, sobre a Terra, de qual maneira se produziram os primeiros meios de comunicação do pensamento? Como foram inventados, ou antes, encontrados? Porque não se inventa nada, tudo exist e no estado latente; cabe aos homens procurarem os meios de pôr a trabalhar as forças que a Natureza lhe oferece. Quem sabe o tempo que foi necessário para se servir da palavra de um modo completamente inteligível?

O primeiro que soltou um grito inarticulado tinha bem uma certa consciência do que queria expressar, mas aqueles aos quais se dirigia, primeiramente não lhe compreenderam nada; não foi senão por uma longa sequência de tempo que existiram as palavras convencionais, depois frases curtas, depois, e nfim, discursos inteiros. Quantos milhares de anos não foram necessários para chegar -se ao ponto em que a Humanidade se encontra hoje! Cada progresso, no mundo da comunicação, de relação entre os homens, foi constantemente marcado por uma melhoria no estado o social dos seres. À medida que as relações de indivíduo para indivíduo se tornam mais estreitas, mais regulares, sente -se a necessidade de um novo modo de linguagem mais rápido, mais capaz de pôr os homens em relação instantânea e universalmente, uns com os outros. Por que o que ocorreu no mundo físico, pela telegrafia elétrica, não ocorreria no mundo moral, de encarnado a encarnado, pela telegrafia humana? Por que as relações ocultas que unem, mais ou menos conscientemente, os pensamentos dos homens e dos Espíritos, pela telegrafia espiritual, não se generalizariam, entre os homens, de maneira consciente?

A telegrafia humana! Certamente, eis com que provocar o sorriso daqueles que se recusam a admitir tudo o que não cai sob os seus sentidos materiais. Ma s que importam as zombarias dos presunçosos? Todas as suas negações não impedirão às leis naturais de seguirem o seu curso e de encontrarem novas aplicações, à medida que a inteligência humana estiver em condições de sentir-lhes os efeitos.

O homem tem um a ação direta sobre as coisas como sobre as pessoas que o cercam. Frequentemente, uma pessoa de quem se faz pouco caso, exerce uma influência decisiva sobre outras que têm uma reputação muito superior. Isso se prende a que, sobre a Terra, veem sempre mais máscaras do que rosto, e que os olhos ali estão obscurecidos pela vaidade, interesse pessoal e todas as más paixões. A experiência demonstra que se pode agir sobre o espírito dos homens com o seu desconhecimento. Um pensamento superior, fortemente pensado, para me servir dessa expressão, pode, pois, segundo sua força e sua elevação, atingir mais perto, ou mais longe, homens que não têm nenhuma consciência da maneira pela qual ele lhe chega; do mesmo modo que, frequentemente, aquele que o emite não tem consciência do efeito produzido por essa emissão. Aí está um jogo constante das inteligências humanas e de sua ação recíproca, umas sobre as outras. Juntai a isso a ação daquelas que estão desencarnadas e calculai, se o puderdes, o poder incalculável dessa força composta de tantas forças reunidas.

Se se pudesse duvidar do mecanismo imenso que o pensamento põe em jogo, e dos efeitos que ele produz de um indivíduo a outro, de um grupo de seres a um outro grupo, e, enfim, da ação universal dos pensamentos dos home ns uns sobre os outros, o homem ficaria deslumbrado! Sentir-se-ia aniquilado diante dessa infinidade de detalhes, diante dessas redes inumeráveis ligadas, entre si, por uma poderosa vontade, e agindo harmonicamente para alcançar um objetivo único: o progresso universal.

Pela telegrafia do pensamento, apreciará, em todo o seu valor, a lei da solidariedade, refletindo que não há um pensamento, seja criminoso, seja virtuoso ou outro qualquer, que não tenha uma ação real sobre o conjunto dos pensamentos humano s e sobre cada um dentre eles; e se o egoísmo lhe fizesse desconhecer as consequências, para outro, de um pensamento perverso que lhe fosse pessoal, seria levado, por esse mesmo egoísmo, a bem pensar, para aumentar o nível moral geral, pensando nas consequências, sobre si mesmo, de um mau pensamento nos outros.

São outra coisa senão uma consequência da telegrafia humana do pensamento, esses choques misteriosos que nos previnem da alegria ou do sofrimento, num ser querido distante de nós? Não é por um fenômeno do mesmo gênero que devemos os sentimentos de simpatia ou de repulsa que nos arrastam para certos Espíritos e nos afastam de outros?

Certamente, aí está um campo imenso para o estudo e a observação, mas do qual não podemos perceber ainda senão o conjunto; o estudo dos detalhes será a consequência de um conhecimento mais completo das leis que regem a ação dos fluidos uns sobre os outros.

Registado
Tudo que realmente é verdadeiro é eterno! Como o amor, os ensinamentos...e a nossa vida! ♥

Offline Edna☼

  • Mundo Divino
  • *
  • Mensagens: 10838
  • Participação: 1418
  • Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!
  • Sexo: Feminino
  • Leia Kardec para entender Jesus. ♥ (a.d.)
  • Relevância: +1761
Re: Obras Póstumas |Allan Kardec 📘
« Responder #39 em: 14 de Junho de 2020, 18:11 »
0Gostou?

1ª parte – Estudo sobre a natureza do Cristo

I. Fontes das provas sobre a natureza do Cristo

A questão da natureza do Cristo foi debatida desde os primeiros séculos do Cristianismo, e pode-se dizer que não está ainda resolvida, uma vez que ainda é discutida em nossos dias. Foi a diferença de opinião sobre este ponto, que deu nascimento à maioria das seitas que dividiram a Igreja há dezoito séculos, e é notável que todos os chefes dessas seitas foram bispos ou membros do clero com diversos títulos. Por conseguinte, eram homens esclarecidos, a maioria escritores de talento, nutridos na ciência teosófica, que não achavam concludentes as razões evocadas em favor do dogma da divindade do Cristo; não obstante, então como hoje, as opiniões se formaram sobre abstrações, mais do que sobre fatos, procurou -se, sobretudo, o que o dogma poderia ter de plausível ou de irracional, e, geralmente, se negligenciou, de parte a parte, em fazer ressaltar os fatos que poderiam lançar, sobre a questão, uma luz decisiva.

Mas onde encontrar esses fatos se isso não for nos atos e nas palavras de Jesus?  ???

Jesus, nada tendo escrito, seus únicos historiadores foram os apóstolos que, eles não mais, nada escreveram quando vivos; não tendo nenhuma história profana contemporânea falado dele, não existe sobre a sua vida e a sua doutrina, nenhum outro documento senão os Evangelhos; portanto, é ali somente que é necessário procurar a chave do problema. Todos os escritos posteriores, sem disso excetuar os de São Paulo, não são, e não podem ser, senão comentários ou apreciações, reflexo de opiniões pessoais, frequentemente contraditórias, que não poderiam, em nenhum caso, ter a autoridade do relato daqueles que receberam as instruções diretamente do Mestre.

Sobre essa questão, como sobre as de todos os dogmas em geral, o acordo dos Pais da Igreja, e outros escritores sacros, não poderia ser evocado como argumento preponderante, nem como uma prova irrecusável em favor de sua opinião, tendo em vista que nenhum deles pôde citar um único fato, fora do Evange lho, concernente a Jesus, nenhum deles descobriu documentos novos desconhecidos de seus predecessores.

Os autores sacros não puderam senão voltar sobre o mesmo círculo, dar a sua apreciação pessoal, tirar consequências de seu ponto de vista, comentar sob novas formas, e com mais ou menos desenvolvimento, as opiniões contraditórias. Todos os do mesmo partido deveram escrever no mesmo sentido, se não nos mesmos termos, sob pena de serem declarados heréticos, como o foram Orígenes e tantos outros. Naturalmente, a Igreja não colocou, entre seus Pais, senão os escritores ortodoxos do seu ponto de vista; ela não exaltou, santificou e colecionou senão aqueles que tomaram a sua defesa, ao passo que rejeitou os outros e destruiu os seus escritos tanto quanto possíve l. O acordo entre os Pais da Igreja, portanto, nada tem de concludente, uma vez que é uma unanimidade de escolha formada pela eliminação dos elementos contrários. Se se leva em consideração tudo o que foi escrito pró e contra, não se sabe muito de que lado penderia a balança.

Isso nada tira ao mérito pessoal dos sustentadores da ortodoxia, nem ao seu valor como escritores e homens conscienciosos; foram os advogados de uma mesma causa, que defenderam com incontestável talento, e deveriam, forçosamente, chegar às mesmas conclusões. Longe de querer denegri -los, em que quer que seja, quisemos simplesmente refutar o valor das consequências que se pretende tirar de seu acordo.

No exame que vamos fazer, da questão da divindade do Cristo, pondo de lado as sutileza s da escolástica que não serviram senão para embrulhar em lugar de elucidar, nos apoiaremos

exclusivamente sobre os fatos que ressaltam do texto do Evangelho, e que, examinados friamente, conscienciosamente, sem ideia preconcebida, fornecem superabundantemente todos os meios de convicção que se possam desejar. Ora, entre esses fatos, não há de mais preponderante, nem de mais concludentes, senão as palavras mesmas do Cristo, palavras que não se saberia recusar sem infirmar a veracidade dos apóstolos. Pode -se interpretar de diferentes maneiras uma palavra, uma alegoria; mas afirmações precisas, sem ambiguidade, cem vezes repetidas, não poderiam ter um duplo sentido. Nenhum outro, senão Jesus, pode pretender saber melhor do que ele o que quis dizer, como ninguém pode pretender estar melhor informado do que ele sobre a sua própria natureza: quando ele comenta as suas palavras, e as explica, para evitar todo equívoco, deve -se confiar nele, a menos lhe neguemos a superioridade que se lhe atribui, e substituamos a s ua própria inteligência. Se foi obscuro em certos pontos, quando se serviu de linguagem figurada, sobre o que toca à sua pessoa não há equívoco possível. Antes do exame das palavras, vejamos os atos.


Continua



Registado
Tudo que realmente é verdadeiro é eterno! Como o amor, os ensinamentos...e a nossa vida! ♥

Offline Edna☼

  • Mundo Divino
  • *
  • Mensagens: 10838
  • Participação: 1418
  • Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!
  • Sexo: Feminino
  • Leia Kardec para entender Jesus. ♥ (a.d.)
  • Relevância: +1761
Re: Obras Póstumas |Allan Kardec 📘
« Responder #40 em: 14 de Junho de 2020, 18:12 »
0Gostou?
II. Os milagres provam a divindade do Cristo?

Segundo a Igreja, a divindade do Cristo está estabelecida, principalmente pelos milagres, como testemunho de um poder sobrenatural. Esta consideração pôde ter um certo peso numa época em que o maravilhoso era aceito sem exame; mas hoje, que a ciência levou as suas investigações até as leis da Natureza, os milagres encontram mais incrédulos do que crentes; e o que não contribuiu pouco para o seu descrédito, foi o abuso das imitações fraudulentas e a exploração que deles se fez. A fé nos milagres foi des truída pelo próprio uso que dela se fez; disso resultou que os do Evangelho são agora considerados, por muitas pessoas, como puramente legendários.

A Igreja, aliás, ela mesma, retira aos milagres toda a sua importância, como prova da divindade do Cristo, declarando que o demônio também pode fazê -los tão prodigiosos quanto ele: porque se o demônio tem um tal poder, fica evidente que os fatos desse gênero não têm, de nenhum modo, um caráter exclusivamente divino; se ele pode fazer coisas admiráveis para sedu zir mesmo os eleitos, como simples mortais poderiam distinguir os bons milagres dos maus, e não há a temer que, vendo fatos similares, não confundam Deus e Satanás?

Dar a Jesus um tal rival em habilidade era uma grande falta de jeito; mas, pelo que respei ta a contradições e inconsequências, não eram olhadas de tão perto em uma época em que os fiéis ter-se-iam feito um caso de consciência em pensar por eles mesmos, e de discutir o menor artigo imposto à sua crença; então, não se contava com o progresso e nã o se pensava que o reino da fé cega e ingênua, reino cômodo como o do bel prazer, pudesse ter um termo. O papel, tão preponderante que a Igreja se obstinou em dar ao demônio, teve consequências desastrosas para a fé, à medida que os homens se sentiram capa zes de ver pelos próprios olhos. O demônio, que se explorou com sucesso durante um tempo, tornou -se o machado posto ao velho edifício das crenças, e uma das principais causas da incredulidade; pode -se dizer que a Igreja, se fazendo dele um auxiliar indispe nsável, alimentou em seu seio aquele que deveria virar-se contra ela e miná-la em seus fundamentos.

Uma outra consideração não menos grave, é que os fatos miraculosos não são o privilégio exclusivo da religião cristã: não há, com efeito, uma religião idól atra ou pagã, que não teve os seus milagres, tão maravilhosos e tão autênticos, para os adeptos, quanto os do cristianismo. A Igreja se tirou o direito de constatá -los, atribuindo às potências infernais o poder de produzi -los. O caráter essencial do milagr e, no sentido teológico, é ser uma exceção nas leis da Natureza, e, por conseguinte, inexplicável por essas mesmas leis. Desde o instante que um fato pode se explicar, e que se ligue a uma causa conhecida, cessa de ser milagre. Assim é que as descobertas da ciência fizeram entrar no domínio do natural, certos efeitos qualificados de prodígios enquanto a causa ficou ignorada. Mais tarde, o conhecimento do princípio espiritual,

da ação dos fluidos sobre a economia, do mundo invisível no meio do qual vivemos, das faculdades da alma, da existência e das propriedades do perispírito, deu a chave dos fenômenos de ordem psíquica, e provou que não são, não mais do que os outros, derrogações às leis da Natureza, mas que, ao contrário, delas são aplicações frequentes. Todos os efeitos de magnetismo, de sonambulismo, de êxtase, de dupla vista, de hipnotismo, de catalepsia, de anestesia, de transmissão do pensamento, de presciência, de curas instantâneas, de possessões, de obsessões, de aparições e de transfigurações, etc ., que constituem a quase totalidade dos milagres do Evangelho, pertencem a essa categoria de fenômenos.

Sabe-se agora que esses efeitos são o resultado de aptidões e de disposições fisiológicas especiais; que se produziram em todos os tempos, entre todos os povos, e puderam ser considerados como sobrenaturais sob o mesmo título de todos aqueles cuja causa era incompreendida. Isso explica por que todas as religiões tiveram os seus milagres, que não são outros senão os fatos naturais, mas quase sempre ampli ficados ao absurdo pela credulidade, a ignorância e a superstição, e que os conhecimentos atuais reduziram ao seu justo valor, permitindo levá-los em conta de lenda.

A possibilidade da maioria dos fatos que o Evangelho cita como tendo sido realizados por Jesus, está hoje completamente demonstrada pelo Magnetismo e pelo Espiritismo, enquanto fenômenos naturais. Uma vez que se produzem sob os nossos olhos, seja espontaneamente, seja por provocação, não há nada de anormal em que Jesus possuísse faculdades idê nticas às de nossos magnetizadores, curadores, sonâmbulos, videntes, médiuns, etc. Desde o instante que essas mesmas faculdades se encontram, em diferentes graus, numa multidão de indivíduos que nada têm de divino, que são encontradas mesmo entre os heréti cos e os idólatras, elas não implicam, em nada, uma natureza sobre -humana.

Se Jesus qualificava, ele mesmo, os seus atos de milagres, é que nisso, como em muitas outras coisas, devia apropriar a sua linguagem aos conhecimentos de seus contemporâneos; como estes poderiam aprender uma nuança de palavra que não é ainda compreendida por todo o mundo? Para o vulgo, as coisas extraordinárias que ele fazia, e que pareciam sobrenaturais, naquele tempo e mesmo muito mais tarde, eram milagres; não podia dar -lhe um outro nome. Um fato digno de nota é que deles se serviu para afirmar a missão que tinha de Deus, segundo as suas próprias expressões, mas disso jamais se prevaleceu para se atribuir o poder divino (1).

É necessário, pois, riscar os milagres das provas sobr e as quais se pretende fundar a divindade da pessoa do Cristo; vejamos agora se as encontramos em suas palavras.


Continua

Registado
Tudo que realmente é verdadeiro é eterno! Como o amor, os ensinamentos...e a nossa vida! ♥

Offline Edna☼

  • Mundo Divino
  • *
  • Mensagens: 10838
  • Participação: 1418
  • Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!
  • Sexo: Feminino
  • Leia Kardec para entender Jesus. ♥ (a.d.)
  • Relevância: +1761
Re: Obras Póstumas |Allan Kardec 📘
« Responder #41 em: 14 de Junho de 2020, 18:16 »
0Gostou?
III. As palavras de Jesus provam a sua divindade?

Dirigindo-se aos discípulos, que entraram em disputa, para saber qual dentre eles era o maior; e lhes disse pegando uma criança e colocando -a junto a si:

“Quem me recebe, recebe aquele que me enviou ; porque aquele que é o menor entre vós, é o maior.” (São Lucas, cap. IX, v. 48.)

“Quem recebe em meu nome uma criancinha como esta, me recebe, e quem me recebe, não recebe só a mim, mas recebe aquele que me enviou. ” (São Marcos, cap. IX, v. 36.)

“Jesus lhes disse, pois: “Se Deus fosse o vosso Pai, me amaríeis, porque foi de Deus que eu saí, e que é de sua parte que vim; porque não vim por mim mesmo, mas foi ele quem me enviou.” (São João, cap. VIII, v. 42.)

“Jesus lhes disse, pois: “Estou ainda convosco por um pouco de tempo, e em seguida vou para aquele que me enviou .” (São João, cap. VII, v. 33.)

“Aquele que vos escuta me escuta; aquele que vos despreza me despreza, e quem me despreza, despreza aquele que me enviou. ” (São João, cap. X, v. 16.)

O dogma da divindade de Jesus está fundado sobre a igualdade absoluta entre a sua pessoa e Deus, uma vez que é o próprio Deus: é um artigo de fé; ora, estas palavras, tão frequentemente repetidas por Jesus: Aquele que me enviou , testemunham não somente quanto a dualidade das pessoas, mas, ainda, como dissemos, excluem a igualdade absoluta entre elas; porque aquele que é enviado, necessariamente, está subordinado àquele que envia; obedecendo, faz ato de submissão. Um embaixador, falando de seu soberano, dirá: Meu senhor, aquele que me enviou; mas se é o soberano em pessoa que vem, ele falará em seu próprio nome e não dirá: Aquele que me enviou , porque não se pode enviar a si mesmo. Jesus o disse, em termos categóricos por estas palavras: eu não vim por mim mesmo, mas foi ele quem me enviou.

Estas palavras: Aquele que me despreza, despreza aquele que me enviou, não implicam, de nenhum modo, a igualdade e ainda menos a identidade; em todos os tempos, o insulto feito a um embaixador era considerado como feito ao próprio soberano. Os apóstolos tinham a palavra de Jesus, como Jesus tinha a de Deus; qu ando lhes disse: Aquele que vos escuta me escuta, não entendia dizer que seus apóstolos e ele não faziam senão uma única e mesma pessoa, igual em todas as coisas.

A dualidade de pessoas, assim como o estado secundário e subordinado de Jesus, com relação a Deus, ressaltam, além disso, sem equívoco, das passagens seguintes:

“Fostes vós que permanecestes sempre firmes comigo nas minhas tentações. – Por isso eu vos preparo o Reino, como meu pai mo preparou , – a fim de que comais e bebais à minha mesa no meu r eino, e que vos senteis sobre os tronos para julgar as doze tribos de Israel.” (São Lucas, cap. XXII, v. 28, 29 e 30.)

“Por mim eu digo o que vi na casa de meu Pai, fazeis vós o que vistes na casa de vosso pai.” (São João, cap. VIII, v. 38.)

“Ao mesmo tempo apareceu uma nuvem que os cobriu, e saiu dessa nuvem uma voz que fez ouvir estas palavras: Este é meu filho bem -amado; escutai-o.” (Transfigur. São Marcos, cap. IX, v. 6.)

“Ora, quando o filho do homem vier em sua majestade, acompanhado de todos os anjos, sentar-se-á sobre o trono de sua glória; – e todas as nações estando reunidas, separará umas das outras, como o pastor separa as ovelhas dos bodes, – e colocará as ovelhas à sua direita e os bodes à sua esquerda. – Então, o Rei dirá àqueles que estarã o à sua direita: Vinde, vós que fostes abençoados por meu Pai, possuir o reino que vos foi preparado desde o começo do mundo.” (São Mateus, cap. XXV, v. 31 a 34.)

“Quem me confessar e me reconhecer diante dos homens, eu o reconhecerei e o confessarei também diante de meu pai que está nos céus; – e quem me renunciar diante dos homens, eu o renunciarei também , eu mesmo, diante de meu pai que está nos céus.” (São Mateus, cap. X, v. 32, 33.)

“Ora, eu vos declaro que quem me confessar e me reconhecer diante do s homens, o filho do homem o reconhecerá também diante dos anjos de Deus; mas se alguém me renunciar diante dos homens, eu o renunciarei também diante dos anjos de Deus.” (São Lucas, cap. XII, v. 8, 9.)

“Mas se alguém se envergonhar de mim e de minhas palavras, o filho do homem se envergonhará também dele, quando vier em sua glória e na de seu pai e dos santos anjos.” (São Lucas, cap. IX, v. 26.)

Nestas duas últimas passagens, Jesus parecia mesmo colocar acima dele os santos anjos, compondo o tribunal celeste, diante do qual seria o defensor dos bons e o acusador dos maus.

“Mas por aquilo que é de estar sentado à minha direita ou à minha esquerda, não é a mim, de nenhum modo, que cabe vo -lo dar, mas será por aquele a quem meu Pai preparou.” (São Mateus, cap. XX, v. 23.)

“Ora, os Fariseus estando reunidos, Jesus lhes fez esta pergunta – e lhes disse: “Que vos parece do Cristo? De quem é filho? Eles lhe responderam: De David. – E como, pois, lhes disse, Da vid chama-o em espírito o seu Senhor com estas palavras: O Senhor disse ao meu Senhor: Sentai -vos à minha direita até que reduza os vossos inimigos a vos servir de escabelo? Se, pois, David chama -o seu Senhor, como é seu filho?” (São Mateus, cap. XXII, v. 41 a 45.)

“Mas Jesus, ensinando no templo, lhes disse: Como os escribas dizem que o Cristo é o filho de David, – uma vez que David, ele mesmo, disse ao meu Senhor: Sentai – vos à minha direita até que haja reduzido vossos inimigos a vos servir de escabelo?
– Depois, portanto, que David o chama, ele mesmo, seu senhor, como é seu filho?
“(São Marcos, cap. XII, v. 35, 36, 37. – São Lucas, cap. XX, v. 41 a 44.)

Jesus consagra, com estas palavras, o princípio da diferença hierárquica que existe entre o Pai e o Filho. Jesus podia ser o filho de David por filiação corpórea, e como descendente de sua raça, foi porque teve o cuidado de ajuntar: “Como o chama em espírito, seu senhor?” Se há uma diferença hierárquica entre o pai e o filho; Jesus, como filho de Deus, não pode ser o igual de Deus.

Jesus confirma essa interpretação e reconhece sua inferioridade em relação a Deus, em termos que não deixam equívoco possível:

“Ouvistes o que vos disse:” Eu me vou, e volto a vós. Se me amais, vos alegrareis de que vou para meu Pai, porque meu Pai É MAIOR DO QUE EU.” (São João, cap. XIV, v. 28).

“Então um jovem se aproxima e lhe diz: Bom mestre, que bem é necessário que eu faça para adquirir a vida eterna? – Jesus lhe respondeu: “Por que me chamais bom? Não há senão Deus que seja bom. Se quereis entrar na vida, guardai os mandamentos.” (São Mateus, cap. XIX, v. 16, 17. – São Marcos, cap. X, v. 17, 18, – São Lucas, cap. XVIII, v. 18, 19.)

Não somente Jesus não se deu, em nenhuma circunstância, por ser o igual de Deus, mas aqui ele afirma positivamente o contrário, considera -se como inferior em bondade; ora, declarar que Deus está acima dele pelo poder e suas qualidades morais, é dizer que ele m esmo não é Deus. As passagens seguintes vêm em apoio destas, e são também explícitas.

“Não falei, de nenhum modo, de mim mesmo; mas meu Pai, que me enviou, foi quem me prescreveu, por seu poder, o que devo dizer, e como devo falar; – e eu sei que o seu poder é a vida eterna; o que eu digo, pois, o digo segundo o que meu Pai mo ordenou.” (São João, cap. XII, v. 49, 50.)

“Jesus lhes respondeu: ” Minha doutrina não é minha doutrina, mas a doutrina daquele que me enviou. – Se alguém quer fazer a vontade de Deu s, reconhecerá se a minha doutrina é dele, ou se falo de mim mesmo. – Aquele que fala de seu próprio movimento procura sua própria glória, mas aquele que procura a glória de quem o enviou é verídico, e nele, de nenhum modo, há injustiça.” (São João, cap. V II, v. 16, 17, 18.)

“Aquele que não me ama nada, não guarda, minha palavra; e a palavra que ouvistes não foi a minha palavra em nada, mas a de meu Pai que me enviou. ” (São João, cap. XIV, v. 24.)

“Não credes que estou em meu Pai e que meu Pai está em mim? O que vos digo, não vo-lo digo por mim mesmo; mas meu Pai, que mora em mim faz, ele mesmo, as obras que eu faço.” (São João, cap. XIV, v. 10.)

“O céu e a Terra passarão, mas as minhas palavras não passarão. – Pelo que é do dia e da hora, o homem não o saiba, não, nem mesmo os anjos que estão no céu, nem mesmo o Filho, mas somente o Pai.” (São Marcos, cap. XIII. v. 32. – São Mateus, cap. XXIV v. 35, 36.).

“Jesus lhes disse, pois: “Quando houverdes levantado ao alto o filho do homem, então conhecereis o que sou, porque eu não faço nada de mim mesmo, não digo senão o que meu Pai me ensinou ; e aquele que me enviou está comigo, e de modo nenhum me deixou só, porque faço sempre o que lhe é agradável.” (São João, cap. VIII, v. 28, 29.)

“Desci do céu não para fazer a minha vontade, mas para fazer a vontade daquele que me enviou.” (São João, cap. VI, v. 38.)

“Não posso nada fazer de mim mesmo. Julgo segundo o que entendo, e meu julgamento é justo porque não procuro minha vontade, mas a vo ntade daquele que me enviou.” (São João, cap. V, v. 30.)

“Mas, por mim, tenho um testemunho maior do que o de João, porque as obras que meu Pai me deu o poder de fazer, as obras, digo eu, que faço, dão testemunho de mim, que foi meu Pai que me enviou.” (S ão João, cap. V, v. 36.)

“Mas agora procurais me fazer morrer, eu que vos disse a verdade que aprendi de Deus, foi o que Abraão nunca fez.” (São João, cap. VIII, v. 40.)


Continua

Registado
Tudo que realmente é verdadeiro é eterno! Como o amor, os ensinamentos...e a nossa vida! ♥

Offline Edna☼

  • Mundo Divino
  • *
  • Mensagens: 10838
  • Participação: 1418
  • Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!
  • Sexo: Feminino
  • Leia Kardec para entender Jesus. ♥ (a.d.)
  • Relevância: +1761
Re: Obras Póstumas |Allan Kardec 📘
« Responder #42 em: 14 de Junho de 2020, 18:18 »
0Gostou?
Desde então, que ele não disse nada de si mesmo; que a doutrina que ensinou não é a sua, mas que a tem de Deus, que lhe ordenou vir fazê-la conhecer; que não faz senão o que Deus lhe deu o poder de fazer; que a verdade que ensina, ele aprendeu de Deus , à vontade de quem está submetido; é que não é o próprio Deus, mas seu enviado, seu mess ias e seu subordinado. É impossível recusar, de maneira mais positiva, toda assimilação à pessoa de Deus, e de determinar seu principal papel em termos mais precisos. Não estão aí pensamentos ocultos sob o véu da alegoria, e que não se descobrem senão à força de interpretação: é o sentido próprio, expresso sem ambiguidade.

Se se objetasse que Deus, não querendo se fazer conhecer na pessoa de Jesus, enganasse sobre a sua individualidade, poder -se-ia perguntar sobre o quê está fundada essa opinião, e quem tem autoridade para sondar o fundo de seu pensamento, e dar, às suas palavras, um sentido contrário àquele que elas exprimem? Uma vez que, quando vivo, ninguém o considerava como Deus, mas era olhado, ao contrário, como um messias, se não quisesse ser conhecido pelo que era, bastar -lhe-ia nada dizer; de sua afirmação espontânea é preciso concluir que ele não era Deus, ou que, se o era, voluntariamente e sem utilidade, disse uma coisa falsa.

É de notar-se que São João, aquele dos Evangelistas sobre a autoridade de quem mais se apoiou para estabelecer o dogma da divindade do Cristo, seja precisamente o que encerra os argumentos contrários mais numerosos e os mais positivos; pode -se disso convencer pela leitura das passagens seguintes, que não acrescentam nada, é verdade, às provas já citadas, mas vêm em seu apoio, porque delas ressaltam evidentemente a dualidade e a desigualdade das pessoas.

“Por causa disso, os Judeus perseguiam Jesus e procuravam fazê -lo morrer, porque fizera essas coisas no Sábado. – Mas Jesus lhes disse: Meu pai age até o presente, e eu ajo também. ” (São João, cap. V, v. 16, 17.)

“Porque o Pai não julga ninguém; mas dá todo poder de julgar ao Filho, – a fim de que todos honrem o Filho, como honram o Pai. Aquele que não honra em nada o Filho, não honra em nada o Pai que o enviou. Em verdade, em verdade vos digo, aquele que ouve a minha palavra, e que crê naquele que me enviou, tem a vida eterna, e não cai, na condenação; mas já passou da morte à vida.”

“Em verdade, em verdade vos digo, a hora vem, e ela já veio, em que os mortos ouvirão a voz do Filho de Deus, e aqueles que ouvirão, viverão; porque como o Pai tem a vida em si mesmo, também deu ao Filho ter a vida nele mesmo, – e lhe deu o poder de julgar, porque é o Filho do homem. “(São João, cap. V, v. 22 a 27.)

“E o Pai que me enviou, ele mesmo, tem dado testemunho de mim. Jamais ouvistes a sua voz, nem vistes a sua face. E sua palavra não permanecerá em vós, porque não credes naquele que ele enviou.” (São João, cap. V, v. 37,38.)

“E quando eu julgar, o meu julgamento será digno de fé, porque não estou só; mas meu Pai, que me enviou, está comigo.” ( São João, cap. VIII, v. 16.)

“Jesus, tendo dito essas coisas, levou os olhos ao céu e disse: “Meu Pai, a hora é chegada; glorificai vosso Filho, a fim de que vosso Filho vos glorifique. – Como lhe deste poder sobre todos os homens, a fim de que dê a vida eterna a todos aqueles que lhe destes. – Ora, a vida eterna consiste em vos conhecer, a vós que sois O ÚNICO DEUS verdadeiro, e a Jesus Cristo que enviastes.

“Eu vos glorifiquei sobre a Terra; acabei a obra da qual me encarregastes. – E vós, meu Pai, glorificai-me, pois, agora em vós mesmos, dessa glória que tive em vós antes que o mundo fosse.

“Logo eu não estarei mais no mundo; mas, por eles, estão ainda no mundo, e eu dele retorno a vós. Pai santo, conserv ai em vosso nome aqueles que me destes, a fim de que sejam um como nós.”

“Eu lhes dei vossa palavra, e o mundo os odiou, porque não são em nada do mundo, como eu, não sou, eu mesmo, do mundo.”

“Santificai-os na verdade. A vossa palavra é a própria verdad e. – Assim como vós me enviastes ao mundo, eu também os enviei ao mundo, – e eu me santifico, a mim mesmo, por eles, a fim de que sejam também santificados na verdade. ”

“Eu não peço por eles somente, mas ainda por aqueles que devem crer em mim pela sua palavra; – a fim de que estejam todos juntos, como vós, meu Pai, estais em mim e eu em vós; que eles, sejam do mesmo modo, um em nós, a fim de que o mundo creia que me enviastes. ”

“Meu Pai, desejo que lá onde estou, aqueles que me destes ali estejam também comigo; a fim de que contemplem minha glória, que me destes, porque me amastes antes da criação do mundo. ”

“Pai justo, o mundo em nada vos conheceu; mas eu, eu vos conheci: e estes conheceram que me enviastes. – Eu lhes fiz conhecer vosso nome e o farei conhecer ainda, a fim de que o amor, com o qual me amastes , esteja neles, e que eu próprio o esteja neles.” (São João, cap. XVII, v. 1 a 5, 11 a 14, de 17 a 26, Prece de Jesus.)

“É por isso que meu Pai me ama, porque deixo a minha vida para retomá -la. – Ninguém ma arrebata, mas sou eu que a deixo por mim mesmo; tenho o poder de deixá-la e tenho o poder de retomá -la. É o poder que recebi de meu Pai.” (São João, cap. X, v. 17, 18.)

“Eles tiraram a pedra, e Jesus, levantando os olhos para o alto, disse estas palavras: Meu Pai, eu vos dou graça pelo que me atendestes. – Por mim, sabia que me atenderíeis sempre; mas digo isso para esse povo que me cerca, a fim de que creia que foi vós que me enviastes.” (Morte de Lázaro, São João, cap. XI, v. 41, 42.)

“Eu não vos falarei muito mais, porque o príncipe deste mundo vai chegar, embora não tenha nada em mim que lhe pertença: mas a fim de que o mundo conheça que amo meu Pai, e que faço o que meu Pai me ordenou.” (São João, cap. XIV, v. 30 e 31.)

“Se guardardes meus mandamentos, permanecereis no meu amor, como eu mesmo guardei os mandamentos de meu Pai , e permaneço em seu amor.” (São João, cap. XV, v. 10.)

Continua

Registado
Tudo que realmente é verdadeiro é eterno! Como o amor, os ensinamentos...e a nossa vida! ♥

Offline Edna☼

  • Mundo Divino
  • *
  • Mensagens: 10838
  • Participação: 1418
  • Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!
  • Sexo: Feminino
  • Leia Kardec para entender Jesus. ♥ (a.d.)
  • Relevância: +1761
Re: Obras Póstumas |Allan Kardec 📘
« Responder #43 em: 14 de Junho de 2020, 18:18 »
0Gostou?
“Então Jesus, lançando uma grande exclamação, disse: Meu Pai, reponho minha alma em vossas mãos. E, pronunciando estas palavras, expirou.” (São Lucas, cap. XXIII, v. 46.)

Uma vez que Jesus, ao morrer, repunha a sua alma entre as mãos de Deus, tinha, portanto, uma alma distinta de Deus, submissa a Deus, portanto, não era o próprio Deus.

As palavras seguintes dão testemunho de uma certa fraqueza humana, de uma apreensão da morte e dos sofrimentos que Jesus vai suportar, e que contrasta com a natureza, essencialmente divina, que se lhe atribui; mas elas testemunham, ao mesmo tempo, uma submissão que é a do inferior ao superior.

“Então, Jesus chegou num lugar chamado Getsêmani; e disse aos seus discípulos: Sentai-vos aqui enquanto vou ali para orar. – E tendo tomado consigo Pedro e os dois filhos de Zebedeu, começou a se entristecer e a estar numa g rande aflição. Então, lhes disse: Minha alma está triste até à morte; permanecei aqui e velai comigo. – e indo um pouco mais longe, se prosternou o rosto contra a terra, pedindo e dizendo: Meu Pai, se for possível, faça com que este cálice se afaste de mim ; não obstante, que isso seja não como eu o quero, mas como o quereis. – Veio em seguida para os seus discípulos, e tendo -os encontrado dormindo, disse a Pedro: O quê! Não pudestes velar uma meia hora comigo? – Velai e orai, a fim de que não cairdes, na tentação. O Espírito está pronto, mas a carne é fraca. – Foi-se ainda orar uma segunda vez, dizendo: “Meu Pai, se este cálice não pode passar sem que eu o beba, que a vossa vontade seja feita.” (Jesus no Jardim das Oliveiras. (São Mateus, cap. XXVI, v. de 36 a 42.)

“Então, lhes disse: Minha alma está triste até à morte; permanecei aqui e velai. – E, tendo ido um pouco mais longe, se prosternou contra a terra, pedindo que, se fosse possível, essa hora se afastasse dele . – E dizia: Abba, meu Pai, tudo vos é possível, transportai este cálice para longe de mim ; contudo, que a vossa vontade seja feita e não a minha.” (São Marcos, cap. XIV, v. 34, 35, 36.)

“Quando chegou naquele lugar, lhes disse: Orai a fim de que não sucumbais em nada à tentação. – E estando longe deles em torno de um lanço de pedra, pôs -se de joelhos, dizendo: Meu Pai, se quereis, afastai este cálice de mim ; contudo, que isso não seja minha vontade que se faça, mas a vossa. – Então apareceu-lhe um anjo do céu que veio fortificá-lo. – E, tendo caído em agonia, redobrou as suas preces. – E lhe veio um suor de gotas de sangue que corria até a terra.” (São Lucas, cap. XXII, v. de 40 a 44.)

“E na nona hora, Jesus lançou um grande grito, dizendo: Eli! Eli! Lamma Sabachthani? quer dizer: meu Deus! meu Deus! por que me abandonastes? (São Mateus, cap. XXVII, v. 46.)

“E na nona hora, Jesus lançou um grande grito, dizendo: Meu Deus! Meu Deus! Por que me abandonastes? ” (São Marcos, cap. XX, v. 34.)

As palavras seguintes poderiam deixar alguma incerteza e dar lugar a crer numa identificação de Deus com a pessoa de Jesus; mas, além de que não poderia prevalecer sobre os termos precisos daquelas que precedem, levam ainda, nelas mesmas, a sua própria retificação.

“Eles lhe disseram: Que sois vós, pois? Jesus lhes respondeu: eu sou o princípio de todas as coisas, eu mesmo que vos falo. – Tenho muitas coisas a dizer de vós; mas aquele que me enviou é verdadeiro, e não digo senão o que aprendi com ele.” (São João, cap. VII, v. 25, 26.)

“O que meu Pai me deu é ma ior do que todas as coisas; e ninguém pode arrebatá -lo da mão de meu Pai. Meu Pai e eu somos uma mesma coisa .”

Quer dizer, que seu pai e ele não são senão um pelo pensamento, uma vez que exprime o pensamento de Deus; que ele tem a palavra de Deus.

“Então, os judeus pegaram pedras para lapidá -lo. – e Jesus lhes disse: Fiz, diante de vós, várias boas obras pelo poder de meu Pai : por qual delas é que me lapidais?
– Os judeus lhe responderam: Não é por nenhuma boa obra que vos lapidamos, mas por causa de vossa blasfêmia e porque, sendo homem, vos fazeis Deus. – Jesus lhes replicou: Não está escrito na vossa lei: Eu disse que sois deuses? – Se, pois, ela chama deuses àqueles a quem a palavra de Deus está dirigida, e que as Escrituras não possam ser destruídas, – por que dizeis que blasfemo, eu que meu Pai santificou e enviou no mundo, porque eu disse que sou filho de Deus? – Se não faço as obras de meu Pai, não me creiais; mas se as faço, quando não queirais crer em mim, crede nas minhas obras, a fim de qu e conheçais e creiais que meu Pai está em mim, e eu em meu Pai.” (São João, cap. X, v. 29 a 38.)

Num outro capítulo, dirigindo -se aos seus discípulos, lhes disse:

“Naquele dia, conhecereis que estou em meu Pai e vós em mim, e eu em vós. ” (São João, cap. XIV, v. 20.)

Dessas palavras, não é preciso concluir que Deus e Jesus não fazem senão um, de outro modo seria preciso concluir também, das mesmas palavras, que os apóstolos não fazem, igualmente, senão um com Deus.

Registado
Tudo que realmente é verdadeiro é eterno! Como o amor, os ensinamentos...e a nossa vida! ♥

Offline Edna☼

  • Mundo Divino
  • *
  • Mensagens: 10838
  • Participação: 1418
  • Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!Edna☼ is awe-inspiring!
  • Sexo: Feminino
  • Leia Kardec para entender Jesus. ♥ (a.d.)
  • Relevância: +1761
Re: Obras Póstumas |Allan Kardec 📘
« Responder #44 em: 14 de Junho de 2020, 18:19 »
0Gostou?
IV. Palavras de Jesus depois de sua morte

“Jesus lhes respondeu: Não me toqueis, porque ainda não subi para o meu Pai; mas ide procurar os meus irmãos e lhes dizei, de minha parte : Eu subi para o meu Pai e vosso Pai, para meu Deus e vosso Deus.” (Aparição a Maria Madalena. São João, cap. XX, v. 17.)

“Mas Jesus, aproximando -se, assim lhes falou: Todo poder me foi dado no céu e sobre a Terra.” (Aparição aos Apóstolos. São Mateus, cap. XXVIII, v. 18.)

“Ora, sois testemunhas destas coisas; – E eu vou enviar-vos o dom de meu Pai que vos foi prometido.” (Aparição aos Apóstolos. São Lucas, cap. XXIV, v. 48, 49.)

Tudo acusa, pois, nas palavras de Jesus, seja quando vivo, seja depois de sua morte, uma dualidade de pessoas perfeitamente distintas, assim como o profundo sentimento de sua inferioridade e de sua subordinação com relação ao Ser supremo. Por sua insistência ao afirmar espontaneamente, sem ser a isso constrangido, nem provocado, por quem quer que seja, parece querer protestar de antemão contra o papel que ele previa que se lhe seria atribuído um dia. Se tivesse guardado silêncio sobre o caráter de sua personalidade, o campo estaria aberto para todas as superstições como a todos os sistemas; mas a precisão de sua linguagem afasta toda incerteza.

Que autoridade maior se pode encontrar do que as próprias palavras de Jesus? Quando diz, categoricamente: sou ou não sou tal coisa, quem ousaria se arrogar o direito de dar -lhe um desmentido, fosse isso para colocá -lo mais alto do que ele mesmo não se coloca? Quem é que, razoavelmente, pode pretender estar mais esclarecido do que ele sobre a sua própria natureza? Que interpretações podem prevalecer contra afirmações tão formais e tão multiplicadas como estas:

“Não vim por mim mesmo, mas aquele que me enviou é o único Deus verdadeiro. – É de sua parte que venho. – Eu digo o que vi na casa de meu Pai. – Não cabe a mim vo-lo dar, mas isso será para aqueles a quem meu Pai o preparou. – Eu me vou para meu Pai, porque meu Pai é maior do que eu. – Por que me chamais bom? Não há senão Deus que seja bom. – Não falo por mim mesmo, mas meu Pai, que me enviou, foi quem me prescreveu pelo seu mandamento, o que devo dizer. – A minha

doutrina não é minha doutrina, mas a doutrina daquele que me enviou. – A palavra que ouvistes, não é a minha palavra, mas a do meu Pai que ma enviou. – Não faço nada por mim mesmo, mas não digo senão aquilo que meu Pai me ensinou. – Nada pude fazer por mim mesmo. – Eu não procuro a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou. – Eu vos disse a verdade que aprendi de Deus. – Meu alimento é fazer a vontade daquele que me enviou. – Vós sois o único Deus verdadeiro, e Jesus Cristo que enviastes. – Meu Pai, reponho a minha alma em vossas mãos. – Meu Pai, se for possível, fazei com que este cálice se afaste de mim. – Meu Deus, meu Deus, po r que me abandonastes? – Eu subo para o meu Pai e vosso Pai, para o meu Deus e vosso Deus.”

Quando se lê tais palavras, pergunta -se somente como pôde vir ao pensamento dar -lhes um sentido diametralmente oposto àquele que elas exprimem tão claramente, conc eber uma identificação completa de natureza e de poder entre o senhor e aquele que se diz seu servidor. Nesse grande processo, que dura há quinze séculos, quais são as peças de convicção? Os Evangelhos, – não há outras, – que, sobre o ponto em litígio, não dão lugar a nenhum equívoco. A esses documentos autênticos, que não se pode contestar sem se inscrever em falso contra a veracidade dos evangelistas e do próprio Jesus, documentos estabelecidos por testemunhos oculares, que se lhes opõem? Uma doutrina teó rica puramente especulativa, nascida três séculos mais tarde de uma polêmica estabelecida sobre a natureza abstrata do Verbo, vigorosamente combatida durante vários séculos, e que não prevaleceu senão pela pressão de um poder civil absoluto.

Registado
Tudo que realmente é verdadeiro é eterno! Como o amor, os ensinamentos...e a nossa vida! ♥


  • Imprimir
Páginas: 1 2 [3] 4 5 ... 8   Ir para o topo
« anterior seguinte »
 

Comente no facebook

Assuntos relacionados

  Assunto / Iniciado por Respostas Última mensagem
PROJECTO 1868 - Obras Póstumas - Allan Kardec

Iniciado por Det's me!... Artigos Espíritas

0 Respostas
4177 Visualizações
Última mensagem 12 de Julho de 2005, 19:25
by Det's me!...
Allan Kardec - Vida e Obras.........Sinopses e Livro elecronico

Iniciado por Det's me!... Livros Espíritas

6 Respostas
5658 Visualizações
Última mensagem 14 de Janeiro de 2007, 17:32
by Mourarego
Minha primeira iniciação no Espiritismo... Allan Kardec - Obras Postumas

Iniciado por Det's me!... O que é o espiritismo

2 Respostas
4646 Visualizações
Última mensagem 17 de Junho de 2007, 12:54
by Det's me!...
Obras Póstumas

Iniciado por Marifernandez Páginas na internet

7 Respostas
4723 Visualizações
Última mensagem 06 de Junho de 2010, 14:20
by bisognini
Audiobook » Allan Kardec - Obras Póstumas (Pt)

Iniciado por herminio Audiobook

3 Respostas
7180 Visualizações
Última mensagem 07 de Novembro de 2011, 23:49
by FENet

Clique aqui para receber diariamente novidades do Forum Espirita.


Estudos mensais

facebook-icontwitter-icon

O seu e-mail:


 
Receba no seu e-mail um resumo diário dos novos tópicos.

Pesquisar assunto



Pesquisa avançada
  • Mobile


    • Powered by SMF 2.0 RC3 | SMF © 2006–2009, Simple Machines LLC