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  • Memórias de um suicida

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Autor Tópico: Memórias de um suicida  (Lida 4223 vezes)

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Offline Taprobana

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Memórias de um suicida
« em: 20 de Novembro de 2008, 16:20 »
Um fim de tarde soalheiro permite o passeio pela rua escura apesar de ser inverno. Dentro em breve a noite será companheira do seu trajecto. Está só, inseguro, tenso, ansioso... Procura na memória as brincadeiras na escola, a felicidade inocente, limpa.

Ao fundo entrevê a grande avenida. O ruído da cidade é mais nítido. A última luz do dia penetra na estreita viela e iluminando o seu percurso. Dirige-se à praia.

O espírito de ser rebelde e pouco humilde nasceu com o orgulho em si. Apesar disso, tudo o que pensa ser certo não o convence na sua razão. O som do mar que o envolve, já não lhe dá a paz que procura. O horizonte longínquo não lhe inspira a alma. Já faz muito tempo que espera voar, sem que os seus sentidos sejam turvos num corpo que lhe retira a expressão da alma...

“Então que se passa comigo?” - murmura... ecoam no ar as brumas do mar cada vez mais perto... alcança as águas frias de Dezembro que lhe molham os pés algo roxos mas sadios. Leva as mãos à boca sentindo o sabor salgado de uma espuma pouco alva e pegajosa. O frio intenso incomoda o seu corpo. Sem expressão, este quadro iluminado pelas luzes da avenida distante, torna-se numa face que exprime dor...

Caminha na areia, lentamente, sentindo cada passo. Ao longe as luzes dos barcos que galgam as ondas fortes, lançam-lhe lembranças. Ouvem-se novos temas de conversa que já não interessam. Falam de livros estranhos, sentidos nojentos de um verso poético. Leve e terna ideia de amor que agora vos conto. Diria que amor é uma forma de viver feliz. Que amar significa realmente a liberdade, então perdida e trocada. Ridículo sou eu por ter falado de amor.

“Então que se passa contigo? Olha-me nos olhos se tens coragem! ” - Mas ele não tem. Gostaria muito de a poder abraçar, sentir o calor do seu corpo que alivia o frio intenso que já sente nesta praia escura... Passar as mãos no longo cabelo liso, sentir o perfume das roupas e tocar os belos lábios de amor... correr de mãos dadas, rebolar na areia fina, sentir o peito a explodir de ternura... mantém-se de costas... silêncio e mais nada. Silêncio e nada mais... é melhor que seja assim.

De novo a areia perigosa... mais um esforço e a grande avenida agora menos ruidosa ilumina as suas formas. Botas algo desgastadas pelos grandes passeios, calças de ganga antigas, um blusão de couro encobre uma camisola bege de gola alta. O olhar é triste... muito triste. Não conhecer os motivos de tanta tristeza, não encontrar na memória nada que justifique...

“Olha uma moedinha, por favor!” - Certamente por gosto ou talvez por ventura, a ira chega-lhe à mente e turva-lhe o olhar. Dar o amor e carinho, boa imagem de um cenário irreal de um lugar que não conhece.

Ao longe a alta ponte sorri. Passo a passo, tempo a tempo... Tempo a tempo... passo a passo... Passo a passo, tempo a tempo... Trepa o pequeno monte, caminha devagar... Tempo a tempo, passo a... saltou!

Sim saltou e nesse preciso instante o arrependimento. Se pudesse travar, se pudesse voltar atrás nunca o teria feito. As águas frias do rio, congelam a sua alma. A turbulência das correntes revoltas envolvem-no e a dor dilacerante do esventrar do seu corpo contra as margens de pedra agonizam-no. Quer com todas as suas forças que a morte chegue rápido. As águas do rio entram na barra em conflito com o sal do mar. O sargaço oleoso e mal cheiroso é manchado pelo sangue que ainda escorre do seu corpo.

Porque será que tarda tanto o momento ansiado? Pela primeira vez na sua vida ocorre-lhe a ideia de Deus. Tenta orar mas na sua mente não encontra as palavras. A dor é horrível e sente-a em todo o pormenor. Cada célula do seu corpo está atormentada, cada instante de dor é um tempo interminável. As areias da praia que ainda há pouco pisou recebem-no cínicas.

Os gritos dos que correm pela praia incomodam o azul que transporta os que o socorrem. Sente-se envolto por um pano branco. À sua volta por todo o lado vê o olhar fixo de figuras que bem conhece e que o incriminam.

Um pouco afastados, um grupo observa o seu corpo que lentamente cai preso por cordas num grande buraco. Os soluços dos que o choram são abafados pelo escárnio e os gritos de escuras e baças figuras que em redor dele passeiam.

Uma sensação estranha começou a incomoda-lo de inicio sob a forma de pequeno formigueiro que foi aumentando na dor da consciência do seu corpo a ser devorado pelos pequenos seres da terra fria. O grupo dos que o olham de forma fixa vai aumentando na medida do seu arrependimento. Nem uma palavra de consolo, nem uma voz amiga, nem um pequeno gesto de dó ou paixão. Só os gritos insuportáveis dos que os rodeiam e aqueles olhares frios e acusadores que o seguem. Além disso a dor e o tormento do seu corpo mutilado a ser devorado lentamente. Passam as horas, os dias, os anos e sempre as mesmas sensações, sempre o reviver de todos os mementos após o seu salto para as águas. Por muitas décadas o arrependimento e o remorso são cada vez mais intensos.

Um último esforço e a alegria chega provocada por um choro. A felicidade intensa apaga por completo as ultimas experiencias de dor. O calor do seu pequeno corpo deitado frágil sobre o ventre da sua mãe, que derrama a ternura que lhe envolve a alma. Logo, mais tarde, vai acompanhar o sua frágil infância da vida, as preocupações das doenças que vêm, o carinho sentido quando o sente aflito... sim isto é sem duvida o amor.

Taprobana


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Joaquim Santos Albino

Offline Gigii

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Re: Memórias de um suicida
« Responder #1 em: 21 de Novembro de 2008, 09:35 »
Taprobana...este seu relato ficaria muito bem no estudo sobre suicidio...mas você deve ter preferido colocá-lo aqui por achá-lo ficção...
Mas o que é verdadeiramente fruto da imaginação?

Parece-me que não existe espirito que não tenha vivenciado momento identico de desespero e desânimo...

TODOS, algum dia, desejamos não ter nascido, ou ansiamos por terminar com a existência terrena. E porque não? Se inconscientemente sentimo-nos prisioneiros deste corpo, agrilhoados a necessidades que o espírito não tem, sugeitos a obstáculos que o espírito não quer, longe de seres que amamos...

Os discípulos de Sócrates (no Phedon) assim lhe questionaram se saberem disso não incentivaria ao suicidio, ao que o filósofo grego respondeu que "não"...porque o verdadeiro homem de bem aceitará as responsabilidades até ao fim, sabendo que ao superá-las chegará mais depressa a Deus.




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Offline Taprobana

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Re: Memórias de um suicida
« Responder #2 em: 21 de Novembro de 2008, 11:59 »
Olá Tendresse

Acertou! Realmente confesso que tive a caixa de texto aberta para responder nesse tópico mas pelos motivos que referiu pensei por bem coloca-lo aqui.

Citar
Mas o que é verdadeiramente fruto da imaginação?

Boa pergunta... mais ainda: o que é a imaginação?
Haverá alguma relação entre a imaginação e o sonho?
Será que quando imaginamos o nosso espírito tem um comportamento idêntico ao de quando sonhamos?

Um abraço, amiga


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Joaquim Santos Albino


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